sábado, 24 de maio de 2014

REDESCOBRINDO A CEIA DO SENHOR


Por Jefferson Rodrigues
 
Texto base: E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim.” (1 Cor 11.24)
Se existe uma cerimônia emblemática para um cristão, esta é a Ceia do Senhor. Muito já se falou, e se polemizou sobre o assunto. Quantos cristãos já foram penalizados ou se penalizaram por não compreender o real significado deste momento essencial para a unidade cristã. E quantos mitos foram criados, atormentando os crentes em Jesus ao invés de edificá-los. No entanto, se fatos negativos aconteceram [e ainda acontecem] isto se deve apenas a um quesito, não examinar o que as escrituras falam sobre o assunto de forma sistemática. Não queremos com este artigo por um ponto final nesta discussão teológica, mas queremos expor o que a Palavra de Deus mostra sobre esta cerimônia cristã. Lembramos ainda que a expressão Ceia do Senhor foi utilizada pelo apostolo Paulo ao se dirigir a Igreja de Corintios(1 Corintios 11.20), ´portanto estaremos sempre utilizando-a no decorrer do texto, em detrimento de utilizar a expressão Santa Ceia do Senhor, como ficou conhecida no meio pentecostal. Destacamos ainda que esta cerimônia faz parte das duas ordenças de Cristo, o Batismo e a Ceia do Senhor, portanto é parte fundamental do culto cristão desde a Igreja primitiva até nossos dias, sendo essencial a participação de todos aqueles que nasceram de novo em Jesus Cristo.
  • A Ceia não é uma extensão da páscoa judaica
Como ponto inicial, abordaremos uma dúvida freqüente entre os cristãos, a Ceia é uma celebração da Páscoa? Sem dúvidas não! A Páscoa judaica foi instituída pelo Senhor Jeová como forma de lembrar o livramento que o Senhor concedeu ao povo de Israel, livrando-os da escravidão e da morte dos primogênitos no Egito, assim nos fala a Bíblia: “E acontecerá que, quando vossos filhos vos disserem: Que culto é este? Então direis: Este é o sacrifício da páscoa ao Senhor, que passou as casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu aos egípcios, e livrou as nossas casas. Então o povo inclinou-se, e adorou.” (Ex 12.26,27). Se fizéssemos a perigosa interpretação alegórica do texto teríamos sim uma continuação da páscoa judaica em nossa Ceia, contudo, ao fazermos uma análise sistemática dos textos referentes a páscoa judaica ( Êxodo12, Números 9 e Deuteronômio16) compreendemos que tal cerimônia era um símbolo do sacrifício de Cristo no calvário e era uma cerimônia exclusiva para o povo de Israel, pois assim determina o Senhor, através de Moisés: “Celebrem os filhos de Israel a páscoa a seu tempo determinado”. (Números 9.2). Neste contexto, este cerimonial estava restrito ao povo de Israel e simbolizava sua libertação do Egito e o livramento da morte de todo primogênito daquela nação. O apóstolo Paulo inspirado pelo Espírito Santo de Deus, nos ajuda na conclusão sobre esta temática, afirmando que “Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. Por isso, celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia e sim com os asmos da sinceridade e da verdade” (1 Coríntios 5:7-8). Com esta afirmação, concluímos que Cristo é a nossa páscoa e não a Ceia do Senhor.
  • Transubstanciação, uma questão histórica
Outro aspecto discutido é a doutrina da transubstanciação, defendida pela Igreja Católica romana. Mas, o que é transubstanciação? Segundo o historiador cristão Earle E. Cairns(2008, p.192) é a doutrina Católica que diz transformar o pão e o vinho em corpo e sangue de Cristo literais, após as palavras de consagração do sacerdote. Tal interpretação concede a igreja católica romana, através de seus sacerdotes, o poder de dar ou tirar o sacrifício de Cristo da vida do fiel, através do sacramento da missa. Quanto a esta doutrina não iremos nos prolongar em virtude de sua fragilidade, e por basear-se na tradição, que para o Vaticano tem o mesmo valor que a Bíblia. Contudo, vale ressaltar, que esta doutrina errônea foi instituída pela igreja Católica somente em 1215, no Quarto Concílio de Latrão, pelo papa Inocêncio III, que ficou conhecido por sua crueldade ao impor o cristianismo Católico romano, inclusive, liderando uma cruzada que exterminou os albigenses no sul da França em 1209. Estes cristãos integravam um grupo conhecido como cátaros, eram cristãos que baseavam sua crença apenas na Bíblia. Portanto, fica claro que tal doutrina surge como uma forma de coagir o povo medieval, pois “não é de surpreender que os homens da Idade Média temessem os clérigos como homens que tinham poder para dar ou retirar os sacramentos doadores da vida”(Carins, 2008, p.192), confirmando a doutrina agressiva instituída por Inocêncio III. Tal doutrina além de incoerente é historicamente forjada para atender anseios papais. Para maiores detalhes, quanto aos aspectos bíblicos, clique em TRANSUBSTANCIAÇÃO.
  • Retornando as Escrituras Sagradas
Com o advento da Reforma Protestante, em 1517, iniciou-se o processo intensivo de combate a doutrina da transubstanciação, juntamente com outros dogmas católicos, formando assim, as visões bíblicas sobre o que realmente significou a cerimônia da Ceia do Senhor ( 1 Cor 11). O primeiro ponto apresentado foi o de Martinho Lutero, seguindo por Zuínglio e João Calvino. Sendo, a visão calvinista a mais difundida no meio cristão protestante, pentecostal ou não, como afirma o teólogo pentecostal Michael L. Dusing (1996, p.577). Para a doutrina calvinista, a Ceia deveria ser comemorada como um memorial do que Cristo fez por nós e diferentemente da doutrina católica e em parte da Luterana, Cristo faz-se presente nesta cerimônia, não fisicamente no pão e no vinho, mas de forma espiritual. A nosso ver, tal postura mostra-se a mais coerente, tendo em vista que ao instituir a Ceia, o Senhor Jesus, disse que tal cerimônia deveria ser feita em sua memória (Lucas 22.19) e Paulo ensinando aos Coríntios repetiu esta afirmação (1 Coríntios 11. 24,25) e se Jesus nos prometeu que “[...] onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles”(Marcos 18.16), não nos resta dúvidas que a sua presença estará também, e principalmente, na Ceia do Senhor. O professor de Teologia Kenneth J. Collins citando o pensamento de John Wesley afirma que a Ceia é “[...] uma lembrança continua da morte de Cristo por meio do comer o pão e do beber o vinho, os quais são sinais exteriores da graça interior, o corpo e o sangue de Cristo”(Collins apud Wesley, 2010, p.340), ou seja, para Wesley, assim como nós acreditamos, a presença de Cristo na Ceia, nos era transmitido pela graça interior, ou seja o Espírito Santo de Deus que habita em cada cristão(1 Coríntios3.16; 6.19).
  • A graça que vem da Ceia
Como citado anteriormente, não podemos inferir a Ceia o ato de transmitir ou concluir a graça da salvação, pois este ato foi realizado de forma definitiva e suficiente na cruz do Calvário (Hebreus 9.22, 25, 26, 27,28; 10.18). Contudo, acreditamos que esta cerimônia não se trata apenas e exclusivamente de um memorial, como pregava Zuinglio. Entendemos que ela nos transmite uma graça plena e abundante que é a união entre os irmãos(1 Coríntios 11.33), fortalece nossa fé, através da esperança de cear com Cristo novamente, tendo a certeza de Sua volta (Mateus 26.29; Lucas 22.12-30). Neste aspecto abrimos um parêntese para explicar o fato de atribuir curas divinas ao ato de participar da Ceia. De forma simples, sem maiores discussões teológicas, afirmamos que a Ceia fortalece nossa fé em Cristo, portanto torna-se momento ideal para que vejamos as manifestações de curas ou sinais da parte de Deus, acreditamos que tais manifestações ocorrem não apenas pelo ato de comer o pão e beber o vinho, mas sim pela intensa expectativa e esperança de encontra o Senhor Jesus, produzindo assim a fé e a esperança que salva o cristão(Romanos 8.24). Por fim, o ato mais sublime desta cerimônia, testificar a todos que Jesus entregou o Seu corpo e derramou o Seu sangue por mim e por todos quantos o receberam(João 1.11,12). Neste sentido, temos a convicção que a participação na Ceia do Senhor é dever, além de ser um prazer para todos os cristãos que verdadeiramente nasceram de novo.
Não obstante a tantos benefícios, o apóstolo Paulo nos prescreve alguns requisitos para participar desta cerimônia (1 Coríntios 11.26,27,28 e 33) , são eles:
1) Participar dela em atitude de reflexão, porque estamos proclamando que Cristo morreu por nós ( v.26);
2) Devemos participar de modo digno, com reverência e respeito devidos (v.27);
3) Devemos nos examinar antes de participar, ou seja, refletir sobre as razões que nos levaram a participar da ceia, se temos cometidos pecados contra nosso próximo ou contra o Senhor(v.28);
4) Devemos demonstrar nossa união, esperando sempre uns pelos outros (v.33)
(Adaptado, Bíblia de Estudo aplicação pessoal, p.1600, 2003)
A respeito do terceiro tópico, é importante ressaltar o fato de que muitos irmãos deixam de participar da Ceia por haverem cometido alguma falha no decorre dos dias. No entanto, compreendemos que o versículo 28 afirma que devemos nos examinar, ou seja, reconhecer nossos pecados, e conseqüentemente nos arrepender desta falha, e finalmente participar. Em nenhum momento Paulo incentivou aos coríntios a não participarem da Ceia, antes os orientou a fazê-lo com discernimento e reverência, mostrando a importância deste cerimonial para toda a cristandade.
Diante do exposto acima, concluímos com a idéia de que esta cerimônia é momento solene e que requer do cristão sinal de reverência pelo seu sublime significado, porém é extensivo a todos que fazem parte da Igreja do Senhor, estando intrinsecamente ligada ao ato do batismo em águas [falaremos posteriormente em outro artigo] que simboliza ao mundo a decisão de fazer parte do corpo de Cristo, de sua Igreja. Portanto de você não faz parte do sublime corpo de Cristo e ainda não participa desta cerimônia gloriosa, tome sua decisão, batize-se e cumpra esta ordenança do Mestre Jesus, desfrutando deste momento de intensa união da Igreja de Cristo, que é a Ceia do Senhor.
Em Cristo,
Jefferson Rodrigues
Bibliografias consultadas
APLICAÇÃO PESSOAL, Biblia de Estudo. Rio de Janeiro, Casa Publicadora das Assembléias de Deus- CPAD, 2003.
CAIRNS, Earle Edwin. O cristianismo através dos séculos: uma Historia da Igreja Cristã. 3º edição revisada e ampliada, São Paulo, Vida Nova, 2008.
COLLINS, Kenneth J. Teologia de John Wesley, 1º edição, Rio de Janeiro, Casa Publicadora das Assembléias de Deus- CPAD, 2010.
DUSING, Michael L. A Igreja no Novo Testamento. IN: HORTON, Stanley M.(org). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. 1º edição, Rio de Janeiro, Casa Publicadora das Assembléias de Deus- CPAD, 1996.
GILBERTO, Antonio et Al.Teologia Sistemática. 2º Edição, Rio de Janeiro, Casa Publicadora das Assembléias de Deus- CPAD, 2008.
HORTON, Stanley M.(org). Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. 1º edição, Rio de Janeiro, Casa Publicadora das Assembléias de Deus- CPAD, 1996.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

DOUTRINA, USOS E COSTUMES




                                      

                                                             Por Gutierres Siqueira

         O tema “usos e costumes” é uma velha questão nos círculos pentecostais. A tradição faz parte de todas as instituições e sociedades. Assim, é correto afirmar que todas as igrejas têm os seus costumes, impostos ou espontâneos, mas igualmente estabelecidos. Por muito tempo se confundiu costumes com doutrina, mas há diferenças significativas entre esses dois conceitos.
O que é costume? O lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda definiu costume como “uso, hábito ou prática geralmente observada” [1]. O dicionarista Adriano da Gama Cury definiu, de maneira mais completa, a palavra costume como “uso, prática habitual; modo de proceder; característica, particularidade; prática jurídica ou religiosa não escrita, baseada no uso; moda; traje característico ou adequado...” [2]. Essas definições mostram que o costume é um hábito repetidamente adotado por um determinado grupo social. Os costumes fazem parte da identidade de uma instituição.
O que é doutrina? No Novo Testamento a palavra mais usada para doutrina é didache e significa ensino, instrução, tratado ou doutrina. Segundo o teólogo Claudionor Corrêa de Andrade, doutrina é a “exposição sistemática e lógica das verdades extraídas da Bíblia, visando o aperfeiçoamento espiritual do crente” [3]. Doutrina, portanto, é o resultado do um ensino teológico, adotado por uma denominação ou religião.
O pastor Antonio Gilberto apresentou em seu livro Manual da Escola Dominical [4], algumas diferenças entre usos e costumes, e neste artigo será apresentada outras diferenças, além da lista exposta pelo teólogo pentecostal.
a) A doutrina é de origem divina, o costume é de origem humana. A doutrina é divina pois está baseada na inspirada Palavra de Deus. Para uma ideia ser doutrina bíblica é preciso que ela esteja exposta por todo o texto sagrado. Nunca uma verdadeira doutrina é baseada em textos isolados.
O costume é imposto por convenções humanas de maneira espontânea ou obrigatória, sendo assim, o costume é humano. Há muitos que tentam achar textos bíblicos para justificar a perpetuação de sua tradição, mas normalmente praticam a eisegese [5], ou seja, dizem o que bem querem e tentam justificar na Bíblia. O teólogo Esdras Costa Bentho, escrevendo sobre a eisegese, disse:

O intérprete está cônscio de que a interpretação por ele asseverada não está condizente com o texto, ou então está inconsciente quanto aos objetivos do autor ou do propósito da obra. Entretanto, voluntária ou involuntariamente, manipula o texto a fim de que sua loquacidade possa ser aceita como princípio escriturístico. [6]

Tentar justificar na Bíblia as tradições é uma tarefa que tem levado a muitas distorções bíblicas. O melhor é reconhecer a humanidade do costume.
b) A doutrina é imutável, o costume muda. A doutrina é permanente, ela nunca muda. A doutrina da “justificação pela fé”, exposta principalmente nos primeiros capítulos de Romanos, nunca mudou e nem deve ser mudada. Doutrina (bíblica) mudada é heresia. Quando Lutero resgatou a doutrina da justificação pela fé, ele orientou a igreja a voltar na perspectiva bíblica sobre o assunto. São passados mais de dois mil anos e essa doutrina nunca mudou no verdadeiro cristianismo.
O costume não é imutável. No Brasil era comum os cidadãos andarem pelas ruas de chapéus, tanto homens como mulheres, passados os anos não há mais esse costume no país. Antigamente, os pais escolhiam com quem a sua filha casaria, mas também esse costume mudou. É necessário que o costume mude, pois ele está ligado à cultura local, e toda cultura é dinâmica. Mudar alguns costumes não significa passar do são para o diabólico, como muitos pregam. A mudança é inevitável e deve ser bem orientada, mas como enfatizado, é sempre necessária. É bem relevante o que o teólogo britânico John Stott escreveu no seu livro Cristianismo Equilibrado [7]:

Quando resistimos a mudanças- sejam elas na igreja ou na sociedade devemos perguntar-nos se são na realidade, as Escrituras que estamos defendendo (como é nosso costume insistir ardorosamente) ou, se ao contrário, é alguma tradição apreciada pelos anciãos eclesiásticos ou de nossa heranças cultural. Isto não quer dizer que todas as tradições, simplesmente por serem tradicionais, devam a qualquer custo ser lançadas fora. Iconoclasmo sem crítica é tão estúpido quanto conservantismo sem crítica, e é algumas vezes mais perigoso. O que estou enfatizando é que nenhuma tradição pode ser investida com uma espécie de imunidade diplomática à examinação. Nenhum privilégio especial pode ser-lhe reivindicado.

Algumas igrejas estão impondo mudança de costumes, isso é um erro, que sempre levará a exageros. Os costumes mudam naturalmente, mas devem seguir orientação para não levar a práticas antibíblicas. As igrejas sem orientação pastoral tem aderido a costumes extravagantes, como bailes funks em meio ao culto. Tudo deve ser feito com equilíbrio, nada de permissividade em excesso e nem de legalismo. A igreja, também, não pode impor "tabus comunais".
c) A doutrina é universal, o costume é local.
A doutrina é universal no sentido que é para todos os povos em todas as culturas. Proclamar Jesus como Salvador faz sentido no Brasil em 2007, como para os indianos que foram evangelizados pelo apóstolo Tomé, o primeiro missionário daquela nação, ainda no primeiro século da Era Cristã.
O costume é local. Os homens na Escócia usam um tipo masculino de saia. No Siri Lanka é, também, costume para homens a vestimenta com saias. Enquanto a saia, na maior parte do Ocidente, é uma roupa exclusivamente feminina. No Brasil é comum comer peixe cozido ou frito, mas no Japão se come peixe-cru.
d) A doutrina santifica, o costume não santifica.
A doutrina bíblica santifica o crente mediante a Palavra de Deus. Jesus disse: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). O ensino da Palavra de Deus, ou seja, das doutrinas bíblicas, é um dos meios que Deus usa para levar o crente a uma vida reta, assim como escreveu o salmista: “Como purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a tua palavra”(Sl 119.9). John Henry Jowett disse: “Você não pode abandonar os grandes temas doutrinários e ainda assim produzir grandes santos”. O pastor A. W. Tozer escreveu: “O propósito que está por trás de toda doutrina é garantir a ação moral”. Por isso, é bom lembrar que a doutrina bíblica produz, naturalmente, bons costumes.
O costume não pode santificar. Quem acredita na santificação por meio dos costumes, normalmente, é um escravo do legalismo. O pastor Antonio Gilberto escreveu a respeito dos erros em relação a santificação e citou o engano de associar exterioridade com santidade: “Usos, práticas e costumes. Esses últimos, quando bons, devem ser o efeito da santificação, e não a causa dela”[8]. E bem relevante o que escreveu o pastor Ciro Zibordi no prefácio do livro Verdades Pentecostais:
Conservar não significa possuir uma falsa santidade, fazendo dos usos e costumes uma causa, e não um efeito. Como pode ser ao longo dessa obra , a observância da sã doutrina leva-nos a ter santidade interna e externa, o que implica vida santa a partir do espírito (1Ts 5.23) e manutenção dos bons costumes. Estes, pois, não devem gerar doutrinas, como vem acontecendo em algumas igrejas não legitimamente avivadas, para prejuízo de seus membros. [9]

O farisaísmo se caracterizava por associar sua obras com salvação. Há muitos que fazem dos costumes “doutrinas” e, assim, pensam que para serem salvos precisam fazer isso ou aquilo. Como dizia Lutero: “As boas obras não fazem o homem bom; mas o homem bom pratica as boas obras”. A inversão dessa ordem cria escravos do farisaísmo e não servos do Altíssimo.
e) A doutrina é um princípio, o costume é um preceito.
Há diferença entre princípio e preceito? Sim. O pastor José Gonçalves escreveu: “Os preceitos apontam para princípios e não o contrário. Um princípio é aquilo que está por trás do preceito ou norma”[10]. Por exemplo, usar uma roupa social em um tribunal é uma norma, um preceito. O princípio ou doutrina por trás dessa norma é que o tribunal é um lugar sério e não ambiente de entretenimento, onde se possa ir de jeans ou short.
f) A doutrina é verdade absoluta, o costume é uma verdade relativa.
A doutrina é sempre verdade absoluta, ou seja, é para todos, em todas as épocas e em todos os lugares. O costume é relativo, como lembra Geremias do Couto:
Ao insistirmos nos absolutos, não queremos afirmar que não haja também conceitos relativos. Essa diversidade se manifesta, por exemplo, nas comidas típicas de cada país, nos estilos da arquitetura, no estilo da vestimenta e até mesmo em relação à hora de dormir, que depende do fuso horário. Mas tais circunstâncias relativas acabam apontando para princípios biológicos absolutos; todos precisam alimentar-se, todos precisam dormir. [11]

O costume, por ser relativo, não deveria ser imposto como obrigação. Era comum missionários europeus tentarem impor os costumes do norte em países da Ásia e da América. Hoje, o conceito de “transculturação” está ajudando muito em relação a esse problema.
Há muitas outras diferenças entre doutrina e costumes, mas fica apontado que ambas não são a mesma coisa, porém estão ligadas. O bons costumes são aqueles que não escravizam o crente, colocando um jugo que Jesus tirou na cruz, mas sim, é resultado da boa doutrina.

Fonte: Gutierres Siqueira, no blog teologiapentecostal.com


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Notas e Referências Bibliográficas:
1- HOLANDA, Aurélio Buarque de. Mini-Aurélio Século XXI Escolar. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2000. p. 190.
2- KURY, Adriano da Gama. Minidicionário Gama Kury da Língua Portuguesa. 1 ed. São Paulo: FTD, 2001. p.265.
3- ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. 12 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 128.
4- Publicado pela CPAD(Casa Publicadora das Assembléias de Deus).
5- Prática de forjar o texto a fim de que justifique o pensamento próprio. Não confunda com exegese.
6- BENTHO, Esdras Costa. Hermenêutica Fácil e Descomplicada. 3 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005. p. 69.
7- Publicado pela CPAD (Casa Publicadora das Assembléias de Deus).
8- GILBERTO, Antonio. Verdades Pentecostais. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p 142.
9- ZIBORDI, Ciro Sanches. Idem, pp 3,4.
10- GONÇALVES, José. Voto de Nazireado, prática judaizante que despreza a doutrina da graça. Resposta Fiel, Rio de Janeiro, Ano 4, n. 12, p. 26, Jun-Jul-Ago/2004.
11- COUTO, Geremias do. E agora, como viveremos? Lições Bíblicas, Rio de Janeiro, p. 39, 4. trimestre de 2005.