segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

A IMPORTÂNCIA DO JEJUM COMO DISCIPLINA ESPIRITUAL



Por Jefferson Rodrigues[1]

O psicólogo e palestrante nacionalmente conhecido Içami Itiba em sua obra “Disciplina: limite na medida certa” aborda de modo magistral um problema que a cada dia tem se proliferado mais e mais entre o homem do século XXI: a ausência de disciplina. O autor citado, em sua obra, aborda a falta de disciplina na criação de filhos e aponta para os malefícios que tais ações podem trazer para a formação de uma personalidade saudável na criança e adolescente[2]. Não obstante, ao observarmos a forma como a sociedade ocidental, nas últimas 5 ou 6 décadas, tem demonizado a imposição de limites, vemos que tais assertivas do professor Itiba podem ser transportadas para todas as esferas de vivências hodierna. Criamos uma sociedade que abomina o não, o negar-se, o se abster-se. É uma sociedade que assume a máxima propagada por um artista popular brasileiro que morreu de overdose e que dizia em uma de suas canções: “faça o que tu queres, pois é tudo da lei”.
Infelizmente a ausência de disciplina, de limites, tem adentrado até na vida cristã. Não são raros os casos em que encontramos cristãos militando contra todo o tipo de limites impostos tanto pelas Escrituras, como por convenções sociais e dogmáticas. “Não queremos regras”, “não queremos ser limitados”, buscamos a “satisfação completa em Cristo”. Com tais discursos - que beiram o hedonismo - estas pessoas buscam justificar sua ausência de disciplina com manobras teológicas que deixariam de cabelo em pé qualquer cristão que tenha nascido nos primeiros 1900 anos da Igreja.
Diante deste desregramento não faltam aqueles que rejeitam uma das disciplinas espirituais sempre valorizadas por todos os cristãos, estamos falando do jejum. Diante desta colocação surgem algumas indagações: Até que ponto a prática do jejum está alinhada com a manifestação plena da Graça de Deus? Será que devemos fazer está prática? O que a Bíblia diz sobre isso? Diante destas e outras questões, tentaremos, a seguir, esclarecer algumas destas indagações, ao tempo em que convidamos a todos para uma reflexão sobre a importância sumária de se manter a prática do jejum, assim como outras disciplinas espirituais que nos façam diminuir ante a majestade de Deus.

I.         O JEJUM E SUA APLICAÇÃO
Através de uma rápida busca no dicionário Aurélio online encontramos as seguintes definições do que seja jejum: 1 - Privação de comida durante um período. 2 - Privação de toda a espécie de alimento durante o dia (ou de outro período de tempo) por espírito de penitência. 3 - Privação; abstenção. Em uma perspectiva teológica podemos definir o jejum como: “Jejum na Bíblia implica em total abstinência de toda comida por um certo período[3]” ou ainda nas palavras de Ed René Kivitz: “Jejum é abstinência de alimento ou água[...] é uma forma de lembrar nossa consciência de que existe uma realidade mais importante do que nossa própria sobrevivência[4]”. Assim, com base em nestes os conceitos percebemos que o jejum trata-se de privar-se de alimento, e isso pode ser tanto com um caráter religioso como em razão de outros fatores, seja necessidade, enfermidade ou outros motivos.
A Bíblia nos mostra que o jejum era um hábito entre povo de Deus, é por isso que o professor R.N. Champlin nos informa que “o jejum, pois fazia parte importante da adoração judaica e, aparentemente, continuou assim na Igreja cristã primitiva[5]”. Encontramos, por exemplo, nas Escrituras hebraicas o verbo “sum” e o substantivo “som” para definir o ato de se abster de alimento. Já no Novo Testamento encontraremos a substantivo grego “nesteia”, palavra que tem sua raiz significando “fome”. Diante destas expressões aprendemos que para o Escritor sacro o ato de jejuar estaria diretamente ligado abstenção de alimento por determinado período de tempo, bem como este hábito era uma prática amplamente utilizada pelo povo de Deus.
Tanto no Antigo como Novo Testamento veremos inúmeros personagens que se abstiveram de alimento com vistas a um propósito espiritual. Um dos grandes exemplos de abstinência de alimentos no Antigo Testamento é o caso de Moisés. Na vida deste grande líder dos hebreus veremos pela primeira vez alguém que se absteve de alimentos com um proposito espiritual. Segundo o texto bíblico Moisés ficou “40 dias sem comer e nem beber”(Dt 9.19,18; Ex 34.28), e fez isso por duas vezes! É claro que uma pessoa em sua condição natural não poderia resistir a tanto tempo sem beber líquidos. Um ser humano normal suporta no máximo 72 horas sem ingerir líquidos. Contudo, devemos levar em conta que Moisés estava revestido da Glória de Deus, fazendo o trabalho de Deus e sustentado pelo próprio Autor da Vida. A magnitude do que houve no cume do monte foi tão glorioso que a face de Moisés resplandecia quando ele desceu da presença do Eterno (Ex 34.29,30). A ausência de alimento e água não seria um grande problema para alguém que estava ante o Eterno Criador.
Já no Novo Testamento veremos um caso similar de jejum, é o próprio Jesus. Segundo os Escritos de Mateus e Lucas Jesus jejuou por 40 dias, porém, diferente do que houve com Moisés o texto sacro não informa que o nosso Senhor ficou sem beber durante este tempo, Mateus, por exemplo nos diz: “E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome”(Mt 4.2); e Lucas afirma que: “[...] e naqueles dias não comeu coisa alguma; e, terminando eles, teve fome”(Lc 4.2). Em ambos os textos não vemos referência à ausência de beber líquidos. Neste ponto, você pode estar se perguntando será que o jejum de Moisés foi superior ao de Jesus? Não sejamos precipitados em nossas conclusões. Em primeiro lugar, é preciso observar que Moisés foi sustentado de forma sobrenatural por Deus. Em contrapartida, no desafio enfrentado por Jesus no deserto, Ele deveria vencer como homem para nos deixar o exemplo. O homem natural consegue manter-se vivo por aproximadamente 3 meses sem comer, porém, não resiste 3 dias sem beber. Assim, é possível que Jesus como homem tenha bebido algo durante este jejum. Porém, nada disso importa para o teor de nossa discussão. O que é valido ressaltar é que o Mestre Jesus jejuou.
II.                EXISTE ALGUM MANDAMENTO PARA QUE JEJUÁSSEMOS NO NOVO TESTAMENTO?
Diante o exemplo que acabamos de apresentar parece óbvio que Jesus tenha deixado alguma ordenança para a prática do Jejum, afinal, ele jejuou durante 40 dias! Porém, a resposta não é tão simples assim. Ao analisarmos com cuidado as páginas do Novo Testamento não encontramos uma afirmação impositiva para que os cristãos jejuassem. Contudo, veremos que por diversas vezes há a indicação desta prática como algo benéfico para a vida do Cristão. O próprio Jesus, quando interrogado sobre o porquê de seus discípulos não estarem jejuando como os de João Batista, responde que chegaria o dia em que o Noivo seria tirado e então viria o tempo de jejuar (Mt 9.15). Sim, este tempo é o que nós vivemos. São tempos em que a presença física de Jesus não está aqui, então, devemos sim jejuar buscando a proximidade espiritual com o Pai. Ainda de acordo com as palavras de Jesus, há uma orientação de como deveria ser o procedimento dos discípulos aos jejuarem, mostrado que tal prática era esperada para aqueles que seguissem a Cristo, vejamos: “Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto,” (Mateus 6:17). Existem ainda outros indicativos de jejuns por todo o Novo Testamento, tais como:
1. Nos Evangelhos: veremos o exemplo de uma mulher chamada Ana, que já em idade avançada não saia do templo, orando e jejuando (Lc 2.37), esperando a manifestação do Salvador de Israel.
2. No livro histórico de Atos dos Apóstolos, veremos que a Igreja nascente tinha uma rotina de consagração regada a jejuns e ao tomar decisões sempre o fazia através de jejuns e orações. Vejamos: a) líderes da igreja em Antioquia jejuavam buscando a adoração ao Senhor (At 13.2); b) Quando decidiram enviar missionários também se utilizaram desta prática disciplinar (At 13.3); c) Veremos que além de impor as mãos com jejum sobre os missionários enviados, a Igreja em Antioquia faziam também sobre os que recebiam autoridade de governo na igreja local. Assim, para estabelecer os ministros as Escrituras nos dizem que:Então Paulo e Barnabé lhes constituíram presbíteros em cada igreja; e, tendo orado e jejuado, eles os consagraram aos cuidados do Senhor, em quem haviam crido” (At 14.23);  d) Por fim, o próprio Paulo jejuou durante 14 dias em sua viagem para Roma (At 27.33)
3. Por fim, nas epístolas paulinas veremos diversas referências a jejuns praticados por Paulo (2 Co 6.3-5; 11.23-27).
Diante destas observações temos a convicção que a prática do jejum (sempre acompanhado pela oração) era algo de grande valor para a Igreja. Essa prática, inclusive, será adota pelos cristãos posteriores, como veremos, por exemplo, no documento litúrgico- final do século I ou início do séc. II- chamado Didaquê, que nos mostra que tal prática era comum também na Igreja pós-apostólica.
III.             AFINAL, O JEJUM MUDA OS DESIGNIOS DE DEUS?
Conscientes que esta prática era algo habitual entre os cristãos da Igreja apostólica e pós-apostólica podemos nos fazer a pergunta acima ou ainda outra mais precisa: será que eu mudo a vontade de Deus através de um jejum? Muitos crentes acreditam sinceramente que sim. Eles fazem tal afirmativa baseando-se em textos do Antigo Testamento onde parece que Deus mudou seus desígnios após um jejum de um povo ou uma pessoa. Não obstante parecer uma verdade inquestionável é preciso atentarmos para uma frase popular sobre o propósito do jejum: “O jejum não muda a Deus, antes ele muda a nós mesmos”.
Precisamos estar cônscios que o jejum alimentar é o ato de nos privarmos de algo vital para nossa existência para nos conectar com nosso Criador, ou nas palavras de Kivitz: “O jejum é um passo em direção a algo mais importante do que permanecermos vivos[6]”.  É colocar em prática as palavras proferidas pelo Senhor Jesus “nem só de pão viverá o homem” (Lc 4.4). Durante este momento de privação alimentar, e acompanhado de um período devocional onde nos voltamos para o que de fato é prioridade, para aquilo que vai além do sentido meramente carnal. Assim, com um coração voltado para o Senhor e dispostos a ouvir a sua vontade, conseguimos entender melhor qual é o centro da vontade de Deus. E se pedirmos, tendo a convicção que nossas petições estão dentro da vontade do Pai, é certo que receberemos, pois assim Jesus nos prometeu (Jo 14.13).  Ele nos concede por Graça e não porque jejuamos.
Diante disso, devemos sempre lembrar que através do jejum mudamos nosso coração, nossas prioridades e nos aproximamos mais do que é Eterno e imutável. É importante destacar que não é de grande valor jejuar sem estarmos buscando a Deus em devoção, pois isso poderá ser simplesmente “passar fome”. Se em todo caso, você tiver que trabalhar ou fazer algo durante o período de jejum, comece sempre este período com um devocional e em seguida vá para seus afazeres, mas sempre com um coração voltado para o Senhor. Finalizo este ponto afirmando que em minha experiência pessoal, já encerrei algumas vezes jejuns com um período devocional em um cantinho separado no trabalho ou até mesmo em uma praça pública. Mas é fundamental que independente do local, estejamos com o coração voltado para o Senhor.
IV.             COMO DEVE SER O JEJUM NA PRÁTICA?
Finalizarei este rápido artigo com algumas orientações práticas de como proceder durante o jejum. Faremos isso nos baseando tanto nas Escrituras, como na prática cotidiana.
1. Jejum sempre vem acompanhado de oração e uma atitude devocional. Para iniciarmos estas orientações é bom deixar claro que não podemos jejuar se não orarmos. Jejum sem oração é apenas fazer dieta. Precisamos iniciar o jejum, ainda que seja um dia comum de trabalho, com um período de oração. É preciso nos manter em “espírito de oração” e voltado para o Senhor, com plena consciência de que esta consagração nos servirá para nos aproximarmos de Deus. Não obstante o belo caráter espiritual desta prática,  é válido ressaltar um problema que muitos levantam. Em virtude da dificuldade em conciliar jejum e devocional, muitos irmãos optam por fazerem esta disciplina espiritual durante o domingo ou feriado. Contudo, penso eu, que todos os dias são propícios a esta prática, desde que nos mantenhamos em um sentimento de devoção sempre. Assim, inicie com oração e encerre o período com oração, não importando o local em que você esteja.
2.Jejum não é voto.  É preciso diferenciar a prática de jejum da prática bíblica de oferecer um voto ao Senhor. Nas Escrituras quando se fala de jejum sempre está relacionado com a ausência de alimentos. Contudo, existem alguns irmãos que defendem que o jejum pode ser feito de outras coisas como aparelhos celulares, redes sociais, televisão e outros meios similares. Na verdade, para mim, tais ações são bem vindas, porém, acredito que sejam mais compatíveis com votos ao Senhor do que com jejum. O jejum em si é a abstenção de alimentos (vide tópico 1).
4.Quanto tempo deve ser? Neste ponto, é importante falarmos em relação ao tempo do jejum. Algumas pessoas acreditam que tal prática só é válida se iniciada no raiar do dia e findada no por do Sol ou ainda se for de 24 horas. Porém, quando vemos alguns exemplos nas Escrituras podemos perceber que a rainha Ester, por exemplo, jejuou 3 dias (Et 4.16), já o Paulo jejuou tanto por 3 dias como por 14 dias (At 9.9; At 27.33). Então, não há uma especificidade de dias ou horas. O que deve ser lembrado é que o jejum só pode ser válido se você se sentir jejuando, ou seja, você deve sentir que está se abstendo daquela refeição. Eu particularmente jejuo de modo total (falaremos dos tipos a seguir), a partir do raiar do dia até a refeição do almoço, ou ainda, me abstenho do almoço até o entardecer. Mas isso deve ser ponderado por cada um, de modo sincero e reverente diante de Deus.
5.Quais são os tipos de jejuns? Neste ponto é importante observarmos que existem pelo menos 3 tipos de jejuns: parcial, normal e total.  Em relação ao jejum parcial é aquele praticado por pessoas que tem dificuldades (por razões médicas) de ficar sem comer durante muito tempo. Neste tipo de Jejum recomenda-se que a pessoas tire alimentos que lhe causam prazer tais carne, arroz e outros que para a pessoa é essencial. Temos como exemplo deste tipo de Jejum o profeta Daniel (Dn 10.2,3).
Em relação ao que chamamos de jejum normal é aquele em que se admite o consumo de água. Este é o tipo de jejum mais comum nas Escrituras, inclusive é o que se acredita que Jesus praticou no deserto (Mt 4.2). É  recomendado para quem irá passar muitas horas (talvez 12horas ou um pouco menos), pois a desidratação poderá trazer sérios danos para a saúde física. Por fim, temos o jejum total. Neste tipo de jejum a pessoa se abstém tanto de líquidos como de comidas. Este tipo de prática é recomendada para aqueles que não tem problemas de saúde ou que não ficarão por longos períodos de consagração, na Bíblia vemos poucos exemplos explícitos deste tipo de jejum.
6. A recomendação essencial: não seja hipócrita! Por fim, se estiver jejuando não tenha isso como mérito pessoal. Esse tipo de jejum foi condenado pelo Senhor Jesus, para piorar Jesus chamou tais pessoas de hipócritas (Mt 6.16). Não precisamos aparentar que estamos morrendo ou ficar com aparência abatida para nos mostrarmos mais santos que outros. O jejum é algo que deve servir para nos aproximar de Deus e nos tornar mais servos uns dos outros. Então, tome banho, escove os dentes aja normalmente. E se for indagado por que rejeitou algum alimento não precisa ser misterioso, apenas diga: obrigado, hoje estou dedicando um tempo especial ao Senhor. Façamos de modo que o Reino de Deus seja glorificado. Afinal, como diz o apóstolo Paulo: “façamos tudo para glória de Deus”(1 Co 10.31 b).
Considerações finais.
Diante do exposto vimos que a prática do jejum é algo bíblico e benéfico para a vida espiritual do cristão. Porém, precisamos ter em mente que o verdadeiro jejum é a mudança de atitude diante de Deus. Não adianta vivermos uma vida inteira passando fome (como faziam os fariseus) se o nosso coração não estiver voltado para Deus e para fazer a verdadeira obra de Deus. É por esta razão que o profeta Isaías advertiu de modo severo ao povo de Deus para que cuidasse dos oprimidos e necessitados, mostrando que o verdadeiro jejum era a mudança do seu interior e a prática do amor ao próximo  (Is 58.5-9). Desta forma, desejo sinceramente que o nosso jejum seja aquele que verdadeiramente agrade ao nosso Deus!
 
 
 



[1] Jefferson Rodrigues, é Bacharel em Teologia pela Faculdade Evangélica do Piauí, Licenciado em História pela Universidade Estadual do Piauí, com especialização em Estados, Movimentos Sociais e Cultura pela mesma universidade. É Evangelista na Assembleia de Deus em Teresina-PI, Campo do Aeroporto, onde é coordenador de EBD. Também é membro da Academia Evangélica de Letras do Piauí. Cadeira 32.
[2] ITIBA, 1996, pp.42-48
[3] WICLYFFE, 2011, p.1016
[4] KIVITZ, 2012, p.73
[5] CHAMPLIN, 2015, p.442
[6] KIVITZ, 2012, p.73

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

CANTANDO A FÉ: A REAFIRMAÇÃO DA DOUTRINA ESCATOLÓGICA ATRAVÉS DA HARPA CRISTÃ



Por Jefferson Rodrigues

Era mais um almoço em família e como de costume, estávamos reunidos à mesa. Éramos minha esposa, meus dois filhos e eu. Na oportunidade oramos e já estávamos pronto para começar a nos alimentar quando me recordo que tinha na geladeira um delicioso suco de uva integral. Foi instantânea a minha reação! Dirigi-me até a geladeira e retornei à mesa com aquela garrafa contendo o precioso fruto da vide geladíssimo, uma ótima pedida para um lugar quentíssimo como minha cidade, Teresina-PI. Até aqui o leitor deve está se perguntando, mas o que isso tem a ver com o tema proposto no artigo? Peço um pouco mais de paciência.
No momento em que me aproximei da mesa, meu filho Emanuel ( 4 anos), viu a garrafa de suco em minha mão e de pronto começou a cantarolar: “[...] Vem cear, o mestre chama, vem cear.. Mesmo hoje tu te poder saciar.. Poucos pães multiplicou, água em vinho transformou[...]”. Esta é uma musica que sempre cantamos ao celebrarmos a Ceia do Senhor em nossa Congregação, fazendo parte do hinário oficial da Assembleia de Deus, a Harpa Cristã. O que me chamou atenção na cena é o modo como, de pronto, meu filho fez a ligação entre suco de uva (vinho servido na Ceia) e a música que cantamos. É a mais nítida expressão do poder educador da música!
Na ação acima citada vemos claramente o modo como o hino ficou marcado na mente de meu filho. Para ele, o suco de uva deveria ser acompanhado pela canção, expressando assim um símbolo do sagrado, no caso, da Ceia do Senhor. Assim, naquele instante puder perceber na prática o conceito defendido por Kurt Palhen, que nos diz: “Toda a comunidade humana, toda a época possui sua música, que lhe é peculiar e adequada. Nela reflete sua vida, seu sentimento, seu sonho, sua crença, sua esperança [...][1]”. A música é um poderoso instrumento de transmissão de nossas crenças, a mesma é também um forte instrumento de fixação de saber, pois: “A música pode exibir como o cidadão vê a sociedade em que vive [...] A música também pode ser o ponto de partida para a busca de várias informações e valorização da cultura de um povo[2]”.
Neste contexto somos levados a perceber que a música é um ótimo instrumento de fixação de dogmas e doutrinas de determinado grupo religioso. No caso das Igrejas Pentecostais, em especial a Assembleia de Deus, temos a convicção de que os hinos cantados nas reuniões, como por exemplo, aqueles expostos no Hinário oficial da denominação, são fontes de fortalecimento das crenças da comunidade ao tempo em que cria um sentimento de pertencimento a uma tradição cristã em foco. Deste modo, a seguir vamos perceber a importância que músicas e hinos para o fortalecimento de um ramo específico da dogmática assembleiana, no caso, a visão escatológica.
A Música Como Parte Da Liturgia Judaico-Cristã
Em virtude da exiguidade do espaço de escrita não podemos esgotar todo o tema exposto na liturgia judaico-cristã. Contudo, é fundamental que voltemos o nosso olhar para o culto veterotestamentário. Ao observarmos de modo amplo veremos que no culto judaico a parte de cânticos e louvores era parte integrante da liturgia. Veremos através das páginas das Escrituras judaicas uma multiplicidade de cânticos que tem como base fortalecer a fé judaica e introduzir de modo “popular” a teologia da fé judaica. Talvez o exemplo mais notório que podemos tirar seja o próprio Livro de Salmos.
 Nesta obra sapiencial do povo hebreu encontramos cerca de 150 cânticos, expressando os principais temas da fé de Israel. São cânticos que vem desde os tempos do grande líder Moisés, passando pelo compositor Mor Davi e tantos outros Salmos de autores desconhecidos. No “Tehillim” é possível encontrar, por exemplo, temas que abordam o fortalecimento da fé monoteísta (Sl 115), a exaltação das Escrituras (Sl 119), orientações para uma vida justa e de bênçãos (Sl 1), o caráter de Amor e cuidado revelado em Deus (Sl 23), louvores que contam as histórias do povo (Sl 126), o valor da família como sinônimo da benção de Deus (Sl 127), entre tantos outros temas. Assim, os salmos como obra de louvor, também podem ser identificados como uma obra de ensino dogmático.
Outro ponto relevante e digno de observação é a estruturação musical que foi estabelecida no Culto Hebreu, nos dias do reinado de Davi.  É sabido pelas páginas sagradas que Davi foi um músico por excelência e, portanto, nada mais natural que a valorização desta área pelo “tangedor de harpa” Davi. Caberá então ao Rei tocador organizar grupos de cantores que levariam a liturgia musical do templo adiante. Ele colocou Asafe, Hemã e Jedutum (pelo visto também chamado Etã) à frente de 4 mil cantores e músicos. A esses, Davi juntou 288 especialistas, que treinavam e supervisionavam o restante do grupo. Os 4 mil cantores e músicos compareciam ao templo para as três grandes festividades anuais (1 Crônicas 23.5; 25.1, 6, 7). Pelos relatos que podemos observar nas Escrituras, esta deveria ser uma cena esplendorosa, pois todos cantavam e tocavam como se fossem um só (2 Cr 5.13). Toda esta idealização deixa nítido o apreço que este servo de Deus tinha pelo louvor no culto. É por essa razão que são atribuídos a Davi 73 dos 150 salmos expostos nas Escrituras.
A valorização do louvor será percebida na Igreja em sua formação primitiva. Vemos, por exemplo, que Paulo por pelo menos três vezes orienta as Igrejas sobre os seus cuidados pastorais a estabelecerem em suas liturgias a adoração através de “Salmos, hinos e cânticos espirituais”. O famoso comentarista bíblico Matthew Henry faz uma observação pertinente sobre as orientações paulinas: “Por Salmos podemos entender salmos de Davi, ou hinos que eram cantados com instrumentos musicais. Por hinos podemos entender cânticos restritos ao louvor, como os hinos de Zacarias, Simeão e etc. Cânticos espirituais podem conter uma variedade maior de temas: doutrinário, profético, histórico e etc[3]” . Nas palavras do professor de Rikison Moura: O cântico dos Salmos fazia parte do culto da igreja primitiva ( 1Co 14.26; Ef 5.19; Cl 3.16). Tertuliano, que viveu no segundo século depois de Cristo, escreveu que os cristãos cantavam os Salmos como antífonas. Crisóstomo e Agostinho também mencionam o uso dos Salmos nos cultos cristãos[4]”.  Diante de tais testemunhos é inegável o papel essencial que o louvor exercia na vida e liturgia da Igreja primitiva.
Durante o período medieval o louvor assumirá um papel de importância estratégica na vida da Igreja Institucional. É neste período  que surgirá os monastérios e com ele o cântico dos monges, além disso, os sacerdotes assumirão um aspectos supra espiritual e o louvor passa a ser restrito a um grupo reduzido, no caso os próprios membros do clero. Eles entoavam louvores em forma uníssona e sem instrumentos musicais, sem a participação da comunidade leiga. É importante salientar que neste modelo - que tem o seu grande destaque com o famoso Cântico Gregoriano - não há participação da congregação. Na verdade, a comunidade reunida basicamente assiste a apresentação feita pelos sacerdotes da Igreja Institucional.
A partir da Reforma Protestante veremos o retorno à valorização do cântico que envolva tanto leigos como clérigos, especialmente, através do empenho musical de Matinho Lutero, considerado como personagem principal da Reforma. Segundo a professora Suenia Barbosa de Almeida em sua dissertação de mestrado,
A música tornou-se parceira inseparável de Lutero em sua busca por Alemanha diferente, talvez mais consciente de sua fé e livre para usufruir dela com toda intensidade. Essa cumplicidade entre musica e as doutrinas do reformador lhe permitiu usa-la como instrumentos em suas mãos. Cônscio de seu potencial didático e plenamente convicto que esse universo deveria ser explorado como uma importante área do conhecimento, Lutero parece ter contemplado esses dois usos da música em sua obra[5].
De acordo com a afirmação acima, Lutero soube aproveitar o “poder” da música para fortalecer tanto a fé como as doutrinas expostas pela Reforma. Vemos em seus inúmeros hinos o caráter pedagógico e doutrinário. Segundo Parcival Módolo citado por Almeida (2011, p.68): “Na tradição musical reformada luterana, a música revela o texto. Ela o explica (explicatio textos). Nesse sentido ela deverá ser uma espécie de exegese, de explanação do texto, um sermão em sons (praedicatio sonora)[6]”. Com este modelo, “praedicatio sonora”, a música para Lutero assumiria um valor muito mais didático que de contemplação. Considerando é claro que tais proposições não são mutuamente excludentes.
Os Pentecostais Na Música
Os demais reformadores e pós-reformadores continuaram a valorizar o louvor dentro da liturgia. Alguns valorizavam menos que outros, porém, nunca esteve distante das liturgias pós reforma. Não obstante, a partir do século XIX veremos uma eclosão de louvores que entrarão para a história do cristianismo. Já com o despontar do século XXI veremos a eclosão do Movimento Pentecostal, herdeiro das tradições tanto Wesleynas como do movimento Hollines. Para o historiador do Movimento Pentecostal Isael de Araújo: “O movimento pentecostal abarcou uma variedade de estilos e tipos de músicas, com suas bases tanto na Bíblia como nas tradições históricas da Igreja [...] a música pentecostal enfatizou uma maneira sincera e profunda de cantar e tocar os instrumentos[7]”.
Os pentecostais surgiram como um movimento de liberdade. Liberdade litúrgica e consequentemente no modo de adoração. Os cultos ficaram marcados com a espontaneidade no modo de entoar louvores a Deus. Contudo, sempre se valorizavam a o reforço doutrinário e teológico através da adoração. Para Isael de Araújo, “A música fazia parte da vida do crente antes, durante e depois do culto. Antigos relatos informam sobre cânticos, louvores, palmas, clamores e até dança diante do Senhor [...] a música pentecostal possuiu qualidades características tanto no som como no conceito, o que a distingue de todas as épocas e práticas das tradições evangélicas e litúrgicas[8]”.
O louvor será marca distintiva do pentecostalismo, contudo, este louvor ganhará aspectos que o distancie da prática luterana e de muitos outros grupos oriundos desta tradição cristã. O pentecostalismo prima pela espontaneidade no louvor e apresenta uma interação peculiar entre o adorador e sua maneira de expor sua adoração. Assim, por todos os locais que foram alcançados pelas missões pentecostais, o louvor veio junto com as demais representações dogmáticas deste movimento. No Brasil, não poderia ser diferente, vejamos, por exemplo, a importância da música para a liturgia simples e espontânea de um culto pentecostal nos anos de 1925-1926, segundo relatos descritos no livro Diário de um Pioneiro:
O pastor começa a contar um hino. Todos se levantam e cantam juntos. Outro hino é cantado com muito fervor e alegria. O hino é dirigido por uma senhora ruiva, a irmã Frida Vingren, que está tocando um órgão. Um jovem está ao seu lado, tocando violino, e um senhor de idade toca trombone. É a orquestra principal[9]
Perceba que os hinos eram acompanhados por instrumentos musicais e também por toda a congregação, que “com fervor e alegria” entoavam louvores a Deus. Este momento da liturgia era ainda marcado por expressões de júbilo através de brados de “Aleluias e Glórias a Deus”. E visando facilitar a adoração era muito útil a utilização de um hinário próprio. Por este motivo, a Harpa Cristã vai sendo cada vez mais indispensável para o louvor nos cultos da Assembleia de Deus.
Louvando em terras brasileiras através da Harpa Cristã
 Com a chegada do pentecostalismo no Brasil a expressão de adoração através da música continuou sendo ponto forte da “liturgia” pentecostal. Veremos a adaptação de hinos tradicionais ao nosso idioma e especificamente, na Assembleia de Deus, veremos a preocupação de organizar um hinário característico “[...] com o objetivo de elevar o cântico congregacional e proporcionar o louvor a Deus nas diversas liturgias da Igreja: culto público, Santa Ceia, batismo, casamento, funeral e outras ocasiões[10]”.  É válido destacar que para cada uma destas ocasiões anteriormente citadas há um fortalecimento doutrinário através do hinário. A Harpa cristã (hinário oficial da Assembleia de Deus) apresenta uma gama de temas bíblicos para cada ocasião. Por exemplo, culto público é apresentado o sacrifício da Cruz (Hino 15, 18, 169 e etc), para a Ceia do Senhor é apresentado a importância desta ordenança e de seus símbolos (Hinos 300, 328 e 39 e etc), funeral são cantados louvores de esperança escatológicas, como os Hinos 26, 186, 509 e etc. Para cada ocasião sempre terá um hino com proposições doutrinárias a disposição do crente pentecostal que adota a Harpa Cristã.
O Hinário da Assembleia de Deus assumiu nomes diversos no decorrer do tempo. A princípio os pentecostais utilizavam os “Salmos e Hinos”, hinário adotado por diversas congregações. Contudo, buscando caracterizar o louvor pentecostal, em 06 de outubro 1917, influenciado pelos missionários suecos, a Assembleia de Deus em Belém (PA) lançou um hinário, contendo 194 hinos. Apesar do trabalho de 1917 ser bem visto, ainda era preciso estabelecer uma identidade musical pentecostal, e com este objetivo, em 1921 (dez anos depois da fundação da Assembleia de Deus) foi publicado o hinário o Cantor Pentecostal, sob a orientação editorial de Almeida Sobrinho, sendo distribuído pela AD de Belém. Este hinário continha 44 hinos e 10 corinhos.
 Em 1922, em Recife (PE), foi lançada a primeira edição da Harpa Cristã, contendo 100 hinos. Este hinário viria a se tornar o hinário oficial da Assembleia de Deus no Brasil e de várias outras denominações de matriz pentecostal. Sucederam várias outras edições deste hinário, sempre adicionando novos hinos e adaptando outros. Finalmente, em 1996 a Harpa Cristã assumiu a característica que nos dias atuais possui, contendo 640 hinos. Este hinário teve importante papel na consolidação de doutrinas bíblicas, bem como na profusão da adoração durante as reuniões pentecostais. Um fator que devemos destacar é o papel unificador que este hinário desenvolveu na denominação, pois de norte a sul do Brasil, onde existir uma Assembleia de Deus, os crentes daquele lugar possuirão e cantarão os hinos denominacionais e, por conseguinte, estarão se fortalecendo em diversas doutrinas, tais como o “Batismo no Espírito Santo”(Hino 24), ou a Esperança na volta pré-milenial de Cristo (Hino 300).
É claro que o louvor pentecostal não se resumiu a Harpa Cristã, porém, em suas páginas vemos a expressão da fé genuinamente bíblica e pentecostal. Fora esse ponto, veremos ainda muitos ilustres cantores que reafirmaram doutrinas bíblicas e esperança cristã em suas canções como, por exemplo, a cantora Cecília de Souza- que fez muito sucesso nas décadas de 1975-80- com sua famosa canção Trono Branco. E para que atinjamos o objetivo que inicialmente nos propusemos a tratar neste breve artigo, abordaremos o Hino 206, de autoria do pastor Paulo Leivas Macalão, um expoente da hinologia assembleiana. Através desta análise buscaremos mostrar o teor doutrinário da harpa Cristã e como ele reflete aquilo que a denominação professa.
Escatologia no louvor: esperança e alerta
De modo sintético, escatologia é uma temática abordada pela Teologia Sistemática. Escatologia é o estudo das últimas coisas, dos últimos acontecimentos da história da humanidade. Millard Erickson define esta disciplina como “o estudo das últimas coisas[11]” e acrescenta: “ela lida com questões concernentes à consumação da história, a conclusão da atuação de Deus no mundo[12]”. Assim, vemos que esta disciplina é de fundamental importância para o cristão, pois ao estudá-la o cristão é despertado a pelos menos duas situações: Manter-se vigilante quanto a volta de Cristo e Manter acesa a chama da Esperança de encontrar-se com Jesus e ver todas as promessas Eternas se cumprindo.
Os pentecostais tiveram na Escatologia um forte impulso missionário, pois em razão do derramamento do Espírito ocorrido em suas vidas eles criam genuinamente estar vivendo os últimos dias descritos por Joel. É por essa razão que veremos com grande ênfase as mensagens pentecostais girarem, a princípio, em torno de quatros eixos: Jesus Salva, Jesus Cura, Batiza com o Espirito Santo e BREVE VOLTARÁ. Este evangelho com quatro vertentes era a chave de toda predica pentecostal, inclusive, com uma forte ênfase na volta de Jesus. Era o anseio de todo pentecostal (e ainda deve ser): o grande dia de se encontrar com seu Rei e ver o retorno de Jesus, arrebatando a sua noiva para si. Vejamos a seguir essa esperança descrita na música de um grande compositor de Hinos do hinário assembleiano, o pastor Paulo Leivas Macalão.
Paulo Leivas Macalão era um gaúcho, nascido em Santana do Livramento em 1903. Converteu-se ainda muito jovem (18 anos) na cidade para qual havia migrado com sua família em razão das mudanças constantes de seu pai, o general do exército João Maria Macalão. A família Macalão mudou-se para o Rio de Janeiro. Músico de mão cheia, com uma educação elitizada, Paulo Leivas rendeu-se a Cristo e dedicou sua vida a esta nobre missão, mesmo a contra gosto de seu pai. No Rio de Janeiro, em 1930 foi ordenado ao ministério pastoral por Gunnar Vingren e Levi Pethrus importantes ícones da fé pentecostal. Macalão é considerado o maior compositor de hinos para a Harpa Cristã, ao tempo em que adaptou para a língua portuguesa  inúmeros outros hinos. Também é sobre os cuidados do pastor Paulo Leivas Macalão que a Assembleia de Deus em Madureira (RJ) se tornará uma Igreja pujante e vigorosa.
 Entre tantos hinos compostos por este servo de Deus destacamos o hino 206. Fazemos esta escolha por acreditarmos que tal hino apresenta uma estrutura escatológica que será padrão na composição do pastor de Madureira, que se estrutura em um misto alerta, segurança em Cristo, certeza de sua volta e uma promessa de benção para aqueles que forem fieis. A seguir passaremos a analisar o hino 206 da Harpa Cristã:
Alerta a vigilância. O autor começa com um chamamento a ficarmos alertas quanto ao volta de Jesus, um despertamento para que o crente não faça como as “virgens néscias” descritas por Jesus em uma de suas parábolas (Mt 25.1-13). Nesta estrofe Macalão apresenta o chamamento da trombeta de Deus aos seus santos (1 Ts 4.16,17), destacando que o Rei já se aproxima; por fim, há um destaque para o modo como será esta vinda, ou seja, será certa e esplendorosa (Mt 24.31).  Vejamos o que a estrofe nos diz::
“O clarim já nos alerta
Nosso coração desperta,
Pois a vinda é bem certa de Jesus;
De mil anjos rodeado,
Para o crente preparado,
Cristo volta coroado. Aleluia!”

Recompensas para os fieis. Nas estrofes seguintes Macalão reafirma a esperança descrita Pelo Senhor para aqueles que perseverarem. É uma mensagem de estímulo e perseverança, ao tempo em que o paralelo com as descrições do livro do Apocalipse são enormes. Por exemplo, na segunda estrofe é destacado o evento escatológico conhecido como “Bodas do Cordeiro” (Ap 19.7-9), onde a Igreja estará com o Senhor Jesus ceando e sendo coroada por Ele na Glória. Uma mensagem de esperança e consolo para crentes abatidos. Em seguida o autor nos faz memorar o capítulo 21.4-7 do Apocalipse, quando nos mostra que “no Céu não haverá mais pranto, eis que tudo será canto”. Por fim, ele conclui com a promessa: “Quão felizes nós seremos com Jesus! Para sempre gozaremos, E com Cristo reinaremos, Sua glória fruiremos. Aleluia!” Vejamos as duas últimas estrofes deste belo hino:
2. Lá nas bodas do Cordeiro,
Sentaremos prazenteiros;
Oh! Que gozo verdadeiro com Jesus!
Pois no céu não há mais pranto,
Eis que tudo será canto;
Cristo vem buscar os santos.Aleluia!

3. Sim à mesa sentaremos,
E com Cristo cearemos;
Quão felizes nós seremos com Jesus!
Para sempre gozaremos,
E com Cristo reinaremos,
Sua glória fruiremos. Aleluia!

Salvação e firmeza. No Coro, que se repete depois de cada estrofe, vemos uma reafirmação da mensagem pregada pelos pentecostais: Jesus salva e breve voltará. A mensagem é clara: “Ó irmão por Deus liberto, pelo sangue estas coberto; tens o teu perdão bem certo, Salvo estás [...]”. É uma afirmação sobre a origem da salvação, ou seja, a libertação vem do Senhor (Ef 2.8), é através do sangue de Jesus vertido na cruz que os crentes adquiriram o perdão de seus pecados (1 Jo 1.7). Em seguida a mensagem continua: “Voz de júbilo ouviremos, e no céu nós cantaremos, Cristo breve nós veremos. Aleluia!”. O coro encerra mais uma vez reafirmando a esperança escatológica do Céu, de estarmos juntos com o Senhor cantando e adorando aquele que vive eternamente. Amém!!
É uma mensagem que se repete por todos os demais hinos que encontraremos na Harpa Cristã e que falam sobre pontos Escatológicos. Vemos essa mesma esperança, por exemplo, nos hinos 204 , 272 e 483 de composição de Leivas Macalão. E ainda no hino de numero 301 que tem como tema fundamental “Nossa Esperança é sua vinda”, de autoria de José Manoel Cavalcante de Almeida. Enfim, através do hinário Harpa Cristã a doutrina da volta de Jesus é reafirmada em suas páginas, estimulando todos os crentes à firmeza nas promessas de Cristo e a esperarem seu retorno iminente. A doutrina escatológica é fortemente apresentada e ensinada enquanto o crente pentecostal assembleiano canta e exalta ao Senhor! Por fim, encerramos apresentando um trecho do hino 272, também composto pelo pastor Leivas Macalão:
“Quando Jesus aparecer,
Que festa para nós há de ser,
Ao céu de luz iremos ter,
P'ra desfrutar eterno prazer,
Quando ao Seu Pai nos apresentar,
Que alegria no céu haverá;
No trono Seu teremos lugar,
Em nossa fronte coroa porá”

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de tudo que apresentamos fica patente a importância que o louvor tem para a vida de todo cristão. Em especial, para os pentecostais, a hinologia exposta na Harpa Cristã assume um papel de dupla importância: adoração e ensino. Através dos hinos apresentados no hinário oficial da Assembleia de Deus vemos um chamamento à adoração ao Senhor, ao mesmo tempo, vemos nestas canções o fortalecimento de princípios teológicos e dogmáticos da fé pentecostal.
Um tema que não deixa de existir neste hinário é a escatologia, a mensagem de esperança na Volta de Cristo, bem como a reunião do povo de Deus com o seu Senhor. Ao cantarmos hinos como o acima analisado, somos relembrados da promessa de Cristo sobre sua vinda (Jo 14.1-3), de seu retorno iminente (Ap 22.20) e também somos despertados para uma vida de santidade que se enquadre nos padrões escriturístico (Hb 12.14; Ap 22.11) . Sim, fiquemos alerta, afinal: “O clarim já nos alerta; Nosso coração desperta, Pois a vinda é bem certa de Jesus [...]”. Cantemos com fervor, cantemos com consciência bíblica e estejamos sempre aguardando o retorno de nosso Rei Jesus! Por fim, encerramos este trabalho com o coro do belo hino 547 de nossa Harpa cristã, que nos adverte:
O Rei está voltando! O Rei está voltando!
A trombeta está soando, para os santos trasladar
Sim, o Rei está voltando! O Rei está voltando!
Aleluia! Ele vem nos buscar!





















REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
ALMEIDA, Suenia Barbosa de. Matinho Lutero e os usos da música: o passado ainda canta. Dissertação (Mestre em educação, arte e cultura)- Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011.
ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. 1ª edição. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus- CPAD, 2007.
_______________. História do movimento pentecostal no Brasil: o caminho do pentecostalismo brasileiro até os dias de hoje. 1ª edição. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus- CPAD, 2016.
ARAUJO, kenia Kerlley Saraiva de. A contribuição da musica  para o desenvolvimento e aprendizagem da criança. Disponível em: < https://monografias.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/a-contribuicao-da-musica-para-desenvolvimento-e-aprendizagem-da-crianca.htm>  acesso em 15 de agosto de 2018, às 10h15 min.
CONDE, Emílio. História das Assembleias de Deus no Brasil. 3ª Impressão. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2017.
CRISTÃ, Harpa. Harpa cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015.
HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento: Atos a Apocalipse. 3 ª impressão. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2015. Edição completa.
MOURA, Rikison. Breve introdução ao livro de Salmos. Disponível em: <http://ipbrussas.blogspot.com/2014/10/breve-introducao-ao-livro-dos-salmos.html> acesso em 15 de agosto de 2018, às 16h22 min.
PALHEN, Kurt. Uma nova história universal da música. São Paulo: Melhoramentos, 1907.
VINGREN, Ivar. Diário do pioneiro: Gunnar Vingren, fundador das Assembleias de Deus no Brasil. Edição comemorativa, 3ª reimpressão. Rio de Janeiro, RJ: CPAD, 2017.








[1] PALHEN, Kurt. Uma nova história universal da musica. São Paulo: Melhoramentos, 1907, p.12
[2] ARAUJO, kenia Kerlley Saraiva de. A contribuição da musica  para o desenvolvimento e aprendizagem da criança. Disponível em: < https://monografias.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/a-contribuicao-da-musica-para-desenvolvimento-e-aprendizagem-da-crianca.htm>  acesso em 15 de agosto de 2018, às 10h15 min.
[3] HENRY, 2015, p.600, V. 6
[4] MOURA, Rikison. Breve introdução ao livro de Salmos. Disponível em: <http://ipbrussas.blogspot.com/2014/10/breve-introducao-ao-livro-dos-salmos.html> acesso em 15 de agosto de 2018, às 16h22 min.
[5] ALMEIDA, 2011, p.65
[6] MÓDOLO citado por ALMEIDA, 2011, p.68
[7] ARAUJO, 2007, p.496
[8] Idem, idem.
[9] VINGREN, 2017, p.142
[10] Idem, idem.
[11] ERICKSON, 2015, p. 1098
[12] Idem, idem.