Quem gostaria de um espinho na carne?
Texto base: “E, para que não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me exaltar. (II Cor 12.7)”
Você já percebeu como nós, seres humanos, ocidentais, somos induzidos pela aparência, pelos títulos, pela glória? E numa sociedade diretamente influenciada pela estrutura capitalista, que nos induz a sempre “ir mais longe”, a nunca nos sentirmos felizes com aquilo que temos, este fato é identificado claramente. Devemos sempre estudar mais, trabalhar mais, enriquecer mais, sempre mais e mais... Este é o nosso lema! É ou não é? Para atingir este objetivo vale de tudo, trapacear, ser egoista, mentir e respeitar somente aqueles que possam nos levar ao "topo".
Infelizmente toda esta dinâmica secular, que deveria estar distante do formoso corpo de Cristo, está presente também no meio da igreja. São irmãos buscando a sua própria glória, buscando “dar rasteira” no outro, tudo com a finalidade de atingir seus objetivos: alcançar sempre mais. São pessoas que esqueceram os ensinos do mestre Jesus que “[...] esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens”(Fp 2.7), nos dando o melhor exemplo de qual é a gloria do cristão. Sabemos que ser reconhecido pelos seus trabalhos, ou por tudo que temos feitos é algo extremamente valoroso, inclusive o Apóstolo Paulo diz que “a quem honra, honra” (Rm 13.7b), no entanto, todos querem um cargo na Igreja - de preferência um de grande importância e que tenham muitas pessoas para administrar - todos querem um título – pode ser até o de patriarca, como alguns foram recentemente declarados. Mas será que buscam com o propósito de exaltar o nome do Senhor Jesus? É possível. Mas o que temos visto nos prova o contrário.
Tais “obreiros” não percebem que estas “honras” trazem consigo inúmeras responsabilidades, e mais, nos levam a sempre considerar o irmão maior do que nós (Fp 2.3). Paulo nos afirma que se alguém deseja ser um trabalhador da obra do Senhor, este deseja excelente coisa (I Tm 3.1), porém ele também nos ensina que estas pessoas deveriam, entre outras coisas, serem simples, modestos, não ganancioso, hospitaleiros e etc. Agora faça uma analise, tem sido fácil encontrar estas características naqueles que se propõem a guiar o povo de Deus? Acredito que não. E afirmo mais: o motivo está justamente na procura pelo sucesso, pela “fama” no meio cristão, na procura de ser bem sucedido na carreira de pregador ( agora é conferencista, deve ser mais chique [risos] ), de cantor, de palestrante, de “operador” de milagres e etc. É a síndrome capitalista que domina a mente de muitos cristãos, pois semelhante a um empresário de sucesso que tem que chegar ao topo, estas pessoas buscam também o “topo”, esperam que seus ministérios sejam melhor que o do outro. Alguém pode dizer que é zelo pela obra, porém eu prefiro dizer que isto é exaltar-se a si mesmo usando para isso o Santo Nome de Jesus!
Nosso texto base apresenta o oposto do que temos visto em nossos dias. Paulo tinha todas as características para se exaltar diante da sociedade judaica e também romana. Era um homem que estudou nas melhores escolas judaicas, aos pés do famoso mestre da Lei Gamaliel, era descendente da Tribo de Benjamim (uma linhagem considerada pelo povo de Israel), era cidadão romano livre (titulo extremante considerado pela sociedade romana), um ferrenho defensor da Lei e ocupava alto cargo como líder Fariseu. Ele chegou no “topo”! Porém, todas estas credenciais foram consideradas pelo Apostolo como esterco (Fp 3.8), como escória, como perda, pois este não era seu objetivo como servo de Deus, seu alvo agora era a Pátria Celestial (Fp 3.20). Sabemos que Paulo teve que sofrer duras provas para chegar a esta conclusão, porém, ele não deixou que suas credenciais falassem mais alto em seu ministério, nem desistiu por que não “prosperou” ainda mais, e quando Paulo pensou em exaltar-se foi lhe dado um espinho na carne (II Cor.12.7) para que ele sempre lembrasse que sem o Senhor nada seria (II Cor 12.9). É interessante notar que esta passagem ocorre por volta de 55 d.C., e seis anos mais tarde, quando Paulo esteve preso em Roma, ele escreve aos felipenses, mostrando que aquela provação (espinho na carne) tinha sido bem proveitosa em sua vida, pois ele não deixou que o homem carnal se sobressaísse ao espiritual, ele aprendeu que não precisava de nada disso, que a graça do Senhor lhe bastava (II Cor 12.9) e que poderia tudo, mas no Senhor Jesus que o fortalecia (Fp 4.13).
Agora me digam quantos apóstolos, bispos, “patriarcas”, pastores televisivos ou não estão dispostos a fazerem um caminho de “retrocesso” como Paulo ou como o próprio Jesus, que ao invés de crescerem, de ter uma rede de televisão gigantesca ou um jatinho particular para “realizar a obra”, tiveram rejeição, prisão, perseguição e por fim mortes dolorosas. Quantos estariam dispostos a viverem com um espinho na carne e mesmo assim pregarem o Evangelho do Reino? Suponho que poucos de nós.
Deixo por fim a pergunta: E você, gostaria de um espinho na carne para aprender a depender mais do Senhor Jesus?
Autor: Jefferson Rodrigues
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