Por Jefferson Rodrigues
Texto base: “Desde então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e
já não andavam com ele. Então disse Jesus aos doze: Quereis vós também
retirar-vos?” (João 6: 66, 67)
Que
beleza, o número de evangélicos no Brasil não para de crescer! Segundo o último
censo divulgado pelo IBGE somos quase 43 milhões (22, 2%) de pessoas que se
auto - declaram evangélicas no Brasil. E estes dados causam muita euforia na
maioria dos nossos irmãos, especialmente porque se sentem como aquele torcedor
que deseja ver seu time ganhando o campeonato não importa como. O desejo é ver
500 mil “evangélicos” reunidos em alguma “Marcha pra Jesus” espalhada pelo
Brasil a fora, especialmente por que se o “time” adversário usa estes recursos
para jogar, nós também devemos fazê-lo! Talvez seja como dizia Nicolau
Maquiavel: “os fins devem justificar os meios”. Em meio a toda esta euforia não
há lugar para reflexão, apenas ufanismo! Contudo, será que o Senhor Jesus
esteve ou está preocupado com a multidão que o segue? Para responder a esta
questão devemos analisar alguns pontos que a Palavra de Deus nos apresenta,
vejamos a seguir.
Durante
o ministério terreno de Jesus a multidão o seguia e perseguia. Aonde
encontrava-se o Mestre, lá estavam as massas populares. Foi assim enquanto
pregava no monte (Mt 5), quando estava em casa na vila de Cafarnaum (Mc 2), ao
entrar na cidade de Naim (Lc 7), enfim, são inúmeros os exemplos bíblicos que
nos mostram o grande número de pessoas que faziam questão de ouvir e ver Jesus.
Contudo, tal multidão não empolgava o Mestre, muito menos fazia com que Ele se
sentisse o líder de uma grande força política. Ao contrario da lógica humano,
Jesus assim se pronunciava: “O meu reino não é deste mundo; se o meu
reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse
entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui” (Jo 18:36).
Jesus
não se importava se as multidões o seguiriam, antes afirmava que o Pai
procurava servos fiéis, que não estariam sendo levados por modismo religioso (Jo
4:23,24), ou práticas que APENAS exteriormente apresentassem aspectos de santidade
(Mt 23:27). Antes de celebrar a presença de tantas pessoas em sua volta, o
Senhor preferia fazer um “pente fino” para saber quem verdadeiramente seria
fiel, e dizia: “Porque muitos são chamados, mas poucos
escolhidos”(Mt 22: 14). Ou
ainda reforçava seu discurso dizendo que: “Entrai
pela porta estreita; porque larga
é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que
entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado o
caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem”(Mt 7:13,14).
Mas
neste “vestibular” do Reino, nada foi mais notável do que o discurso proferido
pelo Mestre após a famosa multiplicação de pães onde uma multidão foi saciada
(Jo 6:1-15). Mais uma vez vemos que quantidade nem sempre é qualidade, pois
segundo o Evangelho de João, estas multidões que foram alimentadas (entenda-se
necessidades físicas saciadas) ficaram desesperadas por verem que sua aparente “fonte
de alimentos” (Jesus) teria partido daquela região (Jo 6:22) e seguido para
Cafarnaum (Jo 6:59). Assim, todo este povo não se fez de rogado nem perderam
tempo, logo seguiram para onde Jesus estava! Agora pergunto: qual o real interesse deste
povo? O próprio Jesus responde: “Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais
que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes”(Jo 6:26).
Talvez
se
fosse em nossos dias e com o nível de liderança que temos em muitas comunidades
que se dizem cristãs, nada seria falado ou mudado em relação a este grande número
de pessoas, afinal o que importava é que multidões estavam “vindo ao encontro”
de Jesus. É bem provável que até fosse divulgado em alguma rede de televisão a
quantidade de gente que estava vindo ao encontro de Jesus! Contudo, quantidade nunca foi propósito de Jesus!
O Mestre deseja verdadeiramente que possamos segui-lo, mas não para sermos os
maiores em quantidade e sim para que andemos em conformidade com suas Palavras,
afinal assim ensinou Jesus: “E dizia a todos: Se alguém
quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc
9:23). Por conta desta
lógica inversa a humana, muitos daqueles supostos seguidores, rapidamente
deixaram Jesus pelo simples fato dele falar sobre coisas espirituais, pois pelo
que o texto nos faz entender, tais pessoas não estavam interessadas em
abandonar sua velha maneira de viver, vejamos: “Desde
então muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele”(Jo 6:66). Bem, pelos padrões modernos poderíamos afirmar que o
ministério do Senhor foi um fracasso. Porém, como afirmado anteriormente NÃO É
QUANTIDADE, MAS SIM QUALIDADE! Para piorar o “fracasso” ministerial de Jesus,
restaram apenas os Doze apóstolos, então acreditamos (nos padrões de hoje) que Jesus
deveria ter muito cuidado para não perder estes, porém veja o que nos diz o
Mestre: “Então disse Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos?”(Jo 6:67).
Será que nosso Senhor estava preocupado com quantidade?
Amados
irmãos, não fazemos parte de um clube de futebol, ou muito menos de um partido
político. Somos um povo diferente, escolhido pelo Senhor (1 Pd 2:9) e não
podemos nos levar pelo revanchismo que domina o mundo. Nós somos
influenciadores deste século, devemos fermentá-lo até que esteja modificado (Mt
13:33). Não devemos usar os mesmos mecanismos que o mundo usa, ainda que seja com
o intuito de aumentar o número de “cristãos” (Rm 12:1,2). Devemos sempre
lembrar que as maiores deturpações dos ensinos de Cristo ocorreram a partir da
institucionalização do cristianismo, ou seja, após os “cristãos” tornarem-se
maioria entre os povos medievais. Não devemos almejar ser a religião com maior
número de pessoas no Brasil ou no mundo. Antes, porém, devemos desejar, buscar
e lutar por cristãos amadurecidos pela palavra (Ef 4:14), que verdadeiramente
entendam a mensagem da Cruz e o sacrifício vicário de Cristo. Esta é a
principal razão do existir da Igreja! Lembremos sempre das Palavras de Jesus que
nos diz: “Mas a hora vem, e agora é, em que os
verdadeiros adoradores adorarão
o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem”(Jo
4:23).
Pequeninamente
em Cristo (Jo 3:30),
Jefferson
Rodrigues