Considerada como o “berço da civilização” e
denominada de Mesopotâmia (palavra que significa “terra entre rios”), pelos
gregos na Antiguidade, a região pertencia ao chamado Crescente Fértil, onde surgiram as primeiras civilizações.
A
Mesopotâmia localizava-se no Oriente Médio, na região formada pelas bacias dos
rios Tigre e Eufrates, que nascem nas montanhas da Armênia e desembocam no
Golfo Pérsico, no atual Iraque. Atualmente, os dois rios juntam-se antes
da desembocadura, formando o canal de Shatt al-Arab.
Ao Norte
da Mesopotâmia (Alta Mesopotâmia), ficava a Assíria, região mais árida, e ao
sul (Baixa Mesopotâmia), ficava a Caldeia, região mais fértil. As cheias dos
rios Tigre e Eufrates, que ocorriam entre junho e julho, provocavam grandes
inundações, principalmente no sul. Quando as águas baixavam formavam um lodo
que fertilizava o solo, tornavam a área ideal para o cultivo de cereais e
frutas e para a criação de gado. O controle das cheias dos rios exigia um
eficiente sistema de organização coletiva do trabalho, para a construção de
diques de proteção, drenagem e canais de irrigação que levavam a água às
regiões mais distantes do Tigre e do Eufrates.
Por sua
localização na passagem do Mar Mediterrâneo para o Golfo Pérsico, e sendo de
fácil acesso para a Europa, a África e a Ásia, a planície mesopotâmica era uma
região muito disputada atraindo povos de diversas origens, destacando-se os
sumérios, os acádios, os amoritas (antigos babilônios), os assírios e os
caldeus (novos babilônios). A história política da Mesopotâmia é marcada por
sucessivas invasões, guerras, ascensão e declínio de diversos reinos e
impérios.
Sumérios
Os sumérios,
considerados a mais antiga das grandes civilizações humanas, foram os que
inicialmente ocuparam a região, por volta de 3500 a.C. Vindos do planalto do
Irã, fixaram-se na Caldeia, sul da Mesopotâmia. Fundaram diversas
cidades-estado, como Ur, Uruk, Nippur, Lagash e Eridu, com governos
independentes.
Cada
cidade-estado sumeriana possuía um centro político, econômico e religioso, que
era o templo. O líder de cada cidade era chamado patesi (sumo-sacerdote), era
também chefe militar e governante, auxiliado pela elite aristocrática dos altos
funcionários e sacerdotes do templo. As cidades-estado viviam constantemente em
guerra entre si pela hegemonia na região.
Considerados os inventores da escrita; os sumérios criaram uma escrita para
registrar a contabilidade do rico patrimônio dos templos, a quantidade de
cereais estocada nos celeiros, o número de cabeças de gado etc. A partir de
3000 a.C., passou a ser utilizada também para registrar textos religiosos,
literários e algumas normas jurídicas. Escreviam em “tábuas” de argila,
utilizando um estilete de extremidade triangular deixando sinais em forma de
cunha (a escrita cuneiforme).
Os
sumérios introduziram o uso de rodas nos veículos, o que representou uma
revolução na locomoção terrestre. Antes os veículos em forma de trenó, eram
puxados por animais, com a utilização da roda o transporte de mercadorias
tornou-se mais simples e ágil. Os sumérios estabeleceram um ativo comércio com
os povos vizinhos e relações comerciais com a costa Mediterrânea e o vale do
rio Indo.
A
escrita cuneiforme, as artes, a religião, as técnicas agrícolas e de construção
e outros inventos dos sumérios foram aproveitados pelos povos que com eles
conviveram.
As constantes
guerras internas provocaram o enfraquecimento político dos sumérios,
facilitando a invasão da Mesopotâmia pelos acádios, povo de origem semita.
Acádios
Os
acádios dominaram a Suméria por volta de 2550 a.C. Em 2300 a.C., conquistaram
todas as cidades sumérias, liderados pelo rei Sargão I expandiram-se ao
norte e dominaram a Mesopotâmia. A rápida vitória e o domínio sobre os sumérios
podem ser explicados por duas razões: seu exército era mais ágil e utilizavam o
arco e a flecha, instrumento mais rápido e eficiente do que as pesadas lanças e
escudos dos sumérios. Estabeleceram a capital de seu império em Acad, daí o
nome de civilização acadiana. Fundaram o primeiro império mesopotâmico, que
durou até 2150 a.C., quando foram dominados pelos Guti, povo de origem
asiática.
Contudo, nova
onda de invasões estrangeiras ocorreu na região, desestruturando o Império
Acadiano e possibilitando a retomada da hegemonia política dos sumérios. O
domínio sumério sobre a área não foi, contudo duradouro, enfraquecidos por
rebeliões internas, sofreram invasões de guerreiros nômades. Em 2000 a.C.,
chegaram os amoritas, outro povo semita, vindo do deserto árabe, que dominaram
toda a região, conseguindo fundar o Primeiro Império Babilônico.
Amoritas
Os
amoritas (antigos babilônios) estabeleceram-se no centro-sul da Mesopotâmia,
vencendo seus vizinhos sob a liderança de Hamurabi formaram o Primeiro
Império Babilônico, que ia do Golfo Pérsico aos Montes Zagros.
Com o
governo de Hamurabi, a partir de 1792 a. C., a Babilônia conquista toda a Baixa
Mesopotâmia, fundando um vasto império. Depois de séculos de lutas constantes,
a Mesopotâmia, no século XVIII a.C., conheceu enfim a unidade. A partir daí, a
preocupação de Hamurabi não era mais a expansão territorial e sim a preservação
das terras conquistadas, tendo-se preocupado essencialmente com os ataques dos
povos vizinhos e com as sublevações dos povos conquistados. O rei Hamurabi
administrou seu império durante quase cinquenta anos.
A
principal realização cultural dos amoritas foi o Código de Hamurabi, o
primeiro código escrito que a história registra era baseado no Direito
Sumeriano, tendo por finalidade consolidar o poder do Estado e adequar-se ao
desenvolvimento da economia mercantil. O Código de Hamurabi que influenciou
muitas civilizações era composto por centenas de leis, dentre elas destacava-se
a Lei de Talião (olho por olho, dente por dente), estabelecia que as punições
fossem idênticas ao delito cometido. A pedra em que estavam gravadas as leis
foi encontrada por arqueólogos em 1901 e acha-se guardada no Museu do Louvre,
em Paris.
Algumas
leis do Código de Hamurabi.
Se um filho bater
com as mãos em seu pai, terá suas mãos cortadas.
Se um homem toma
uma mulher e não estabeleceu um contrato, então essa mulher não é esposa.
Se um homem cegou o
olho de um homem livre, terá o seu olho também furado. Furou-se o olho de um
escravo, pagará metade do seu valor.
Se um médico
tratou, com faca de metal a ferida de um escravo e lhe causou a morte, ele
dará escravo por escravo.
|
Ao mesmo
tempo em que o modo de produção asiático atingiu o seu apogeu, desenvolveram-se
também os fatores responsáveis pela sua dissolução como, por exemplo, a
profissionalização do exército, a hereditariedade dos cargos burocráticos, o
desenvolvimento de uma economia mercantil e da escravidão.
Por volta de
1800 a.C. o Império Babilônico enfraquecido por problemas internos como a ruína
dos camponeses que devido aos altos impostos e ao aumento dos trabalhos reais,
eram transformados em escravos, e, portanto, impossibilitados de servirem ao
exército. O império foi conquistado primeiro pelos hititas, que causaram grande
impacto com a utilização do cavalo para fins militares, depois pelos cassitas e
assírios.
Assírios
Os
assírios eram um povo que antes de 2500 a.C., estabeleceram-se no norte da
Mesopotâmia, na região de Assur e Nínive. A partir de 883 a.C., os assírios
iniciaram um movimento de expansão territorial. Em virtude da baixa produção
agrícola (solos pobres), os assírios dedicaram-se as técnicas de guerra, com um
poderoso exército, o primeiro exército organizado do mundo. O segredo de sua
eficácia militar era o domínio da tecnologia do ferro na fabricação de armas e
ferramentas. A eficiência de seus ataques explica-se também pelos velozes
carros de guerra puxados por cavalos. Seu objetivo era saquear os povos
conquistados e obrigá-los a pagar tributos.
Entre o
século VIII e VII a.C., seus domínios ultrapassaram a Mesopotâmia, abrangendo
Síria, Fenícia, Palestina e Egito. Os responsáveis por essa expansão foram
Sargão II, Senaqueribe e Assurbanipal. Guerreiros extremamente cruéis pilhavam
as áreas conquistadas e massacraram sua população, provocando uma série de
revoltas durante o reinado de Assurbanipal, que desestabilizaram e
enfraqueceram o Império Assírio. Em 612 a.C., os caldeus, aliados aos medos,
destruíram as principais cidades assírias. Nabopolassar, comandando caldeus e
medos, povos vizinhos, puseram fim ao Império Assírio e inaugurou o Segundo
Império Babilônico.
Caldeus
Derrotados os assírios, a Babilônia volta a ser a capital da Mesopotâmia, agora
sob domínio dos caldeus, formando um novo império, conhecido como Segundo
Império Babilônico ou Neo Babilônico.
Com
Nabopalassar, os caldeus, aliados dos Medos, consolidaram a independência da
Babilônia, mas foi com seu filho Nabucodonosor que o império caldeu
atingiu o seu apogeu. Foi durante o seu governo que a Síria e a Palestina foram
definitivamente conquistadas. Com violentas investidas militares, o rei
Nabucodonosor ocupou Jerusalém em 586 a.C. e escravizou os judeus. Os hebreus
foram transportados como escravos para a Babilônia, episódio relatado na Bíblia
como o Cativeiro da Babilônia.
No
reinado de Nabucodonosor a cidade da Babilônia tornou-se o maior centro cultural
e comercial de todo o Oriente. Foram construídos palácios, os “Jardins Suspensos da Babilônia”, considerados uma
das sete maravilhas do mundo antigo e a Torre de Babel. O comércio se
expandiu com o predomínio do comércio caravaneiro que fazia a rota do
Mediterrâneo à índia.
A morte
de Nabucodonosor marcou o início da decadência do império até que, em 539 a.C.,
tropas persas comandadas pelo imperador Ciro I conquistaram a Babilônia,
integrando a região ao seu império. A partir de então, a civilização
mesopotâmica foi desaparecendo.
Economia, Sociedade e
Política
A
principal atividade econômica na Mesopotâmia era a agricultura, tal como a do
Egito, inseria-se no modo de produção asiático. Sendo a atividade agrícola a
principal fonte de subsistência na Mesopotâmia, o poder público controlava de
perto a construção de reservatórios de água, canais de irrigação e depósitos de
alimentos. Para isso usava a mão de obra das populações camponesas, submetidas
ao pagamento de impostos ao rei.
A
produção agrícola era variada, incluindo cevada, trigo, lentilha, linho,
tâmaras e outros produtos. Nos campos criavam-se cabras, carneiros e ovelhas
para obter carne, leite e lã. Os bois para puxar os arados e para outros
serviços. Com o couro bovino faziam correias e sapatos, e com o leite de vaca
fabricavam coalhadas e queijos finos. Mais tarde, começaram a domesticar
cavalos para montaria e para a guerra.
Nas cidades,
desenvolveram importante atividade artesanal; tecelagem, cerâmica, fabricação
de armas, joias, objetos de metal etc. A excelente localização da Mesopotâmia
favoreceu o desenvolvimento do comércio. Comerciantes deslocavam-se para outras
regiões levando produtos fabricados pelos babilônios. Em consequência, a
Babilônia transformou-se num dos mais importantes entrepostos comerciais da
Antiguidade. Até o século VI a.C., a cevada e os metais eram
utilizados como padrão de valor nas trocas comerciais.
A
sociedade na Mesopotâmia, de forma geral dividia-se em dois grupos principais:
classe dominante (governantes, sacerdotes, militares e comerciantes) e classe
dominada (camponeses, pequenos artesãos e dois tipos de escravos: de guerra e
por dívida). Inicialmente, os escravos eram pouco numerosos e a sua existência
devia-se principalmente às dívidas. Com o tempo, o costume de transformar os
prisioneiros de guerra em escravos fez aumentar o número de cativos na região.
A classe dominante controlava a riqueza econômica, as forças política e militar
e o saber.
A
Mesopotâmia foi governada por monarquias teocráticas em que o poder estava
concentrado nas mãos do soberano. O rei considerado um representante dos deuses
na Terra, capaz de traduzir a vontade divina, detinha os poderes religiosos,
militares e políticos.
Aspectos culturais
A
cultura na Mesopotâmia era muito rica em razão dos diversos povos que habitavam
a região. Mas, quase toda a cultura mesopotâmica descendia dos sumérios,
incluindo a religião, politeísta e antropomórfica. Sendo politeístas,
acreditavam em vários deuses que representavam, como no Egito, fenômenos da
natureza. Os deuses mesopotâmicos eram ao mesmo tempo entidades do bem e do
mal. Cada cidade tinha seu deus protetor. Entre as principais divindades estavam
Marduk, o deus da cidade da Babilônia e do comércio, Shamash, o sol e a
justiça; Anu, o céu; Enlil, o ar; Ea, a água; Ishtar, a deusa do amor e da
guerra e Tamus, a vegetação.
Os
sumérios explicavam a origem do mundo através do mito de Marduk e da lenda do
Dilúvio, muito semelhante à história bíblica da Arca de Noé. Segundo suas
crenças, o deus Marduk criara o céu e a terra, os astros e o homem. Contudo, um
dilúvio ameaçara a existência humana na terra e Marduk ajudou Gilgamesh a
sobreviver, advertindo-o do perigo e aconselhando-o a construir uma arca na
qual deveria colocar vários animais e os membros de sua família. No governo de
Hamurabi, o deus Marduk da Babilônia foi adorado por todo o império.
ZIGURATE |
Os
caldeus não acreditavam em vida após a morte, porém acreditavam em demônios, espíritos,
magia, adivinhação e na influência dos astros sobre a vida humana, criaram a
astrologia. Os astrólogos faziam horóscopos para interpretar a influência dos
astros na vida humana.
Na
arquitetura mesopotâmica destacava-se a construção de templos e palácios, como
os zigurates. Pintavam e esculpiam sobre temas religiosos, esportivos e
militares. Inventados pelos sumérios, os zigurates tornaram-se sua marca
arquitetônica registrada: eram imensos templos com várias torres retangulares,
igualando-se em grandiosidade aos palácios construídos pelos assírios e
caldeus. Mas o uso de arcos também deixou sua marca na arquitetura desse povo.
Como artistas, os sumérios destacaram-se nos trabalhos em metal, na lapidação
de pedras preciosas e na escultura.
Foi,
porém, no campo científico que os mesopotâmicos alcançaram maior destaque.
Através da observação do céu, visando decifrar a vontade dos deuses, os
sacerdotes acumularam informações a partir das quais foi elaborado, pouco a
pouco, um conhecimento exato dos fenômenos celestes.
Legado Cultural da
Mesopotâmia:
· Divisão do ano de
12 meses e a semana de 7 dias;
· A divisão do dia
em 24 horas;
· A crença nos
horóscopos e os doze signos do zodíaco;
· O hábito de fazer
plantio de acordo com as fases da Lua;
· O círculo de 360
graus;
· O processo
aritmético da multiplicação;
· O
cálculo das quatro operações aritméticas;
|
· A extração de raiz quadrada;
· A álgebra;
· O sistema de
numeração sexagesimal, que dividiu a circunferência em 360º e à hora em 60 minutos;
· A distinção entre
planetas e estrelas;
· A arte de prever
eclipses;
· O primeiro
conjunto de leis escritas, o Código de Hamurabi, feito pelos babilônios no
século XVIII a. C.
|
No
campo literário, o destaque fica para duas obras sumerianas: o Mito da Criação,
que resgata a origem do mundo através do mito de Marduk, e a Epopeia de
Gilgamesh, que conta a lenda do Dilúvio. Destaca-se também, como grande marco
da história do Direito, o Código de Hamurabi. A descoberta suméria da escrita
foi enriquecida com a produção de textos religiosos, históricos e lendas.
A
escrita cuneiforme, criada pelos sumérios, foi utilizada pelos vários povos
mesopotâmicos e adotada por outros povos da Ásia Ocidental. Foi decifrada pelos
estudiosos Grotefend e Rawlinson.
Em
linhas gerais, podemos dizer que a forma de produção dominante na Mesopotâmia
foi a Asiática, não existindo, portanto a propriedade privada da terra. Os
indivíduos só usufruíam da terra enquanto membros da comunidade. O rei,
encarnação do Estado, era o proprietário nominal de todas as terras, o qual
dirigia a construção de canais de irrigação que propiciavam as condições para o
desenvolvimento da agricultura.
No plano
sociopolítico, esta forma de produção caracterizou-se pelos impérios teocráticos
de regadio, organização estatal altamente centralizada. O poder estatal
unificou em suas mãos os poderes político, militar, religioso e econômico. A
rígida centralização do poder era necessária para o desenvolvimento da
agricultura de regadio, através da organização do trabalho nas grandes obras
públicas.
A
civilização mesopotâmica exerceu grande influência sobre os povos vizinhos,
como os persas – que adotaram a escrita cuneiforme – e os hebreus – que
aproveitaram algumas de suas tradições religiosas, como o mito do dilúvio.
08/11/10
Bibliografia consultada:
FERREIRA, Olavo Leonel.
Mesopotâmia: o amanhecer da civilização, São Paulo: Ed. Moderna, 3ª edição,
1993.
LÉVÊQUE, Pierre. As Primeiras
Civilizações, Vol. II: Mesopotâmia e hititas. Tradução de Antonio José P.
Ribeiro. Rio de Janeiro: Edições 70, 1987.
CARDOSO, Ciro Flamarion. Sete
Olhares sobre a Antiguidade. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1994.
CROUZET, Maurice (org.) O Oriente
e a Grécia Antiga. Tradução de Pedro M. Campos. (Coleção História Geral das
Civilizações). Rio Janeiro: ED. Bertrand Brasil SA, 1993.
Fonte: www.historiamais.com
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