sexta-feira, 7 de junho de 2013

A CIVILIZAÇÃO MESOPOTÂMICA


 
   Considerada como o “berço da civilização” e denominada de Mesopotâmia (palavra que significa “terra entre rios”), pelos gregos na Antiguidade, a região pertencia ao chamado Crescente Fértil, onde surgiram as primeiras civilizações.
   A Mesopotâmia localizava-se no Oriente Médio, na região formada pelas bacias dos rios Tigre e Eufrates, que nascem nas montanhas da Armênia e desembocam no Golfo Pérsico, no atual Iraque. Atualmente, os dois rios juntam-se antes da desembocadura, formando o canal de Shatt al-Arab.
   Ao Norte da Mesopotâmia (Alta Mesopotâmia), ficava a Assíria, região mais árida, e ao sul (Baixa Mesopotâmia), ficava a Caldeia, região mais fértil. As cheias dos rios Tigre e Eufrates, que ocorriam entre junho e julho, provocavam grandes inundações, principalmente no sul. Quando as águas baixavam formavam um lodo que fertilizava o solo, tornavam a área ideal para o cultivo de cereais e frutas e para a criação de gado. O controle das cheias dos rios exigia um eficiente sistema de organização coletiva do trabalho, para a construção de diques de proteção, drenagem e canais de irrigação que levavam a água às regiões mais distantes do Tigre e do Eufrates.

   Por sua localização na passagem do Mar Mediterrâneo para o Golfo Pérsico, e sendo de fácil acesso para a Europa, a África e a Ásia, a planície mesopotâmica era uma região muito disputada atraindo povos de diversas origens, destacando-se os sumérios, os acádios, os amoritas (antigos babilônios), os assírios e os caldeus (novos babilônios). A história política da Mesopotâmia é marcada por sucessivas invasões, guerras, ascensão e declínio de diversos reinos e impérios.

Sumérios

  Os sumérios, considerados a mais antiga das grandes civilizações humanas, foram os que inicialmente ocuparam a região, por volta de 3500 a.C. Vindos do planalto do Irã, fixaram-se na Caldeia, sul da Mesopotâmia. Fundaram diversas cidades-estado, como Ur, Uruk, Nippur, Lagash e Eridu, com governos independentes.
  Cada cidade-estado sumeriana possuía um centro político, econômico e religioso, que era o templo. O líder de cada cidade era chamado patesi (sumo-sacerdote), era também chefe militar e governante, auxiliado pela elite aristocrática dos altos funcionários e sacerdotes do templo. As cidades-estado viviam constantemente em guerra entre si pela hegemonia na região.
   Considerados os inventores da escrita; os sumérios criaram uma escrita para registrar a contabilidade do rico patrimônio dos templos, a quantidade de cereais estocada nos celeiros, o número de cabeças de gado etc. A partir de 3000 a.C., passou a ser utilizada também para registrar textos religiosos, literários e algumas normas jurídicas.  Escreviam em “tábuas” de argila, utilizando um estilete de extremidade triangular deixando sinais em forma de cunha (a escrita cuneiforme).
   Os sumérios introduziram o uso de rodas nos veículos, o que representou uma revolução na locomoção terrestre. Antes os veículos em forma de trenó, eram puxados por animais, com a utilização da roda o transporte de mercadorias tornou-se mais simples e ágil. Os sumérios estabeleceram um ativo comércio com os povos vizinhos e relações comerciais com a costa Mediterrânea e o vale do rio Indo.
   A escrita cuneiforme, as artes, a religião, as técnicas agrícolas e de construção e outros inventos dos sumérios foram aproveitados pelos povos que com eles conviveram.
  As constantes guerras internas provocaram o enfraquecimento político dos sumérios, facilitando a invasão da Mesopotâmia pelos acádios, povo de origem semita.

Acádios

   Os acádios dominaram a Suméria por volta de 2550 a.C. Em 2300 a.C., conquistaram todas as cidades sumérias, liderados pelo rei Sargão I expandiram-se ao norte e dominaram a Mesopotâmia. A rápida vitória e o domínio sobre os sumérios podem ser explicados por duas razões: seu exército era mais ágil e utilizavam o arco e a flecha, instrumento mais rápido e eficiente do que as pesadas lanças e escudos dos sumérios. Estabeleceram a capital de seu império em Acad, daí o nome de civilização acadiana. Fundaram o primeiro império mesopotâmico, que durou até 2150 a.C., quando foram dominados pelos Guti, povo de origem asiática.
  Contudo, nova onda de invasões estrangeiras ocorreu na região, desestruturando o Império Acadiano e possibilitando a retomada da hegemonia política dos sumérios. O domínio sumério sobre a área não foi, contudo duradouro, enfraquecidos por rebeliões internas, sofreram invasões de guerreiros nômades. Em 2000 a.C., chegaram os amoritas, outro povo semita, vindo do deserto árabe, que dominaram toda a região, conseguindo fundar o Primeiro Império Babilônico.

Amoritas

   Os amoritas (antigos babilônios) estabeleceram-se no centro-sul da Mesopotâmia, vencendo seus vizinhos sob a liderança de Hamurabi formaram o Primeiro Império Babilônico, que ia do Golfo Pérsico aos Montes Zagros.
    Com o governo de Hamurabi, a partir de 1792 a. C., a Babilônia conquista toda a Baixa Mesopotâmia, fundando um vasto império. Depois de séculos de lutas constantes, a Mesopotâmia, no século XVIII a.C., conheceu enfim a unidade. A partir daí, a preocupação de Hamurabi não era mais a expansão territorial e sim a preservação das terras conquistadas, tendo-se preocupado essencialmente com os ataques dos povos vizinhos e com as sublevações dos povos conquistados. O rei Hamurabi administrou seu império durante quase cinquenta anos.
   A principal realização cultural dos amoritas foi o Código de Hamurabi, o primeiro código escrito que a história registra era baseado no Direito Sumeriano, tendo por finalidade consolidar o poder do Estado e adequar-se ao desenvolvimento da economia mercantil. O Código de Hamurabi que influenciou muitas civilizações era composto por centenas de leis, dentre elas destacava-se a Lei de Talião (olho por olho, dente por dente), estabelecia que as punições fossem idênticas ao delito cometido. A pedra em que estavam gravadas as leis foi encontrada por arqueólogos em 1901 e acha-se guardada no Museu do Louvre, em Paris.


 Algumas leis do Código de Hamurabi.
Se um filho bater com as mãos em seu pai, terá suas mãos cortadas.
Se um homem toma uma mulher e não estabeleceu um contrato, então essa mulher não é esposa.
Se um homem cegou o olho de um homem livre, terá o seu olho também furado. Furou-se o olho de um escravo, pagará metade do seu valor.
Se um médico tratou, com faca de metal a ferida de um escravo e lhe causou a morte, ele dará escravo por escravo.

   Ao mesmo tempo em que o modo de produção asiático atingiu o seu apogeu, desenvolveram-se também os fatores responsáveis pela sua dissolução como, por exemplo, a profissionalização do exército, a hereditariedade dos cargos burocráticos, o desenvolvimento de uma economia mercantil e da escravidão.
  Por volta de 1800 a.C. o Império Babilônico enfraquecido por problemas internos como a ruína dos camponeses que devido aos altos impostos e ao aumento dos trabalhos reais, eram transformados em escravos, e, portanto, impossibilitados de servirem ao exército. O império foi conquistado primeiro pelos hititas, que causaram grande impacto com a utilização do cavalo para fins militares, depois pelos cassitas e assírios.

Assírios

   Os assírios eram um povo que antes de 2500 a.C., estabeleceram-se no norte da Mesopotâmia, na região de Assur e Nínive. A partir de 883 a.C., os assírios iniciaram um movimento de expansão territorial. Em virtude da baixa produção agrícola (solos pobres), os assírios dedicaram-se as técnicas de guerra, com um poderoso exército, o primeiro exército organizado do mundo. O segredo de sua eficácia militar era o domínio da tecnologia do ferro na fabricação de armas e ferramentas. A eficiência de seus ataques explica-se também pelos velozes carros de guerra puxados por cavalos. Seu objetivo era saquear os povos conquistados e obrigá-los a pagar tributos.
   Entre o século VIII e VII a.C., seus domínios ultrapassaram a Mesopotâmia, abrangendo Síria, Fenícia, Palestina e Egito. Os responsáveis por essa expansão foram Sargão II, Senaqueribe e Assurbanipal. Guerreiros extremamente cruéis pilhavam as áreas conquistadas e massacraram sua população, provocando uma série de revoltas durante o reinado de Assurbanipal, que desestabilizaram e enfraqueceram o Império Assírio. Em 612 a.C., os caldeus, aliados aos medos, destruíram as principais cidades assírias. Nabopolassar, comandando caldeus e medos, povos vizinhos, puseram fim ao Império Assírio e inaugurou o Segundo Império Babilônico.

Caldeus

   Derrotados os assírios, a Babilônia volta a ser a capital da Mesopotâmia, agora sob domínio dos caldeus, formando um novo império, conhecido como Segundo Império Babilônico ou Neo Babilônico.
  Com Nabopalassar, os caldeus, aliados dos Medos, consolidaram a independência da Babilônia, mas foi com seu filho Nabucodonosor que o império caldeu atingiu o seu apogeu. Foi durante o seu governo que a Síria e a Palestina foram definitivamente conquistadas. Com violentas investidas militares, o rei Nabucodonosor ocupou Jerusalém em 586 a.C. e escravizou os judeus. Os hebreus foram transportados como escravos para a Babilônia, episódio relatado na Bíblia como o Cativeiro da Babilônia.
   No reinado de Nabucodonosor a cidade da Babilônia tornou-se o maior centro cultural e comercial de todo o Oriente. Foram construídos palácios, os Jardins Suspensos da Babilônia, considerados uma das sete maravilhas do mundo antigo e a Torre de Babel. O comércio se expandiu com o predomínio do comércio caravaneiro que fazia a rota do Mediterrâneo à índia.
   A morte de Nabucodonosor marcou o início da decadência do império até que, em 539 a.C., tropas persas comandadas pelo imperador Ciro I conquistaram a Babilônia, integrando a região ao seu império. A partir de então, a civilização mesopotâmica foi desaparecendo.

Economia, Sociedade e Política

    A principal atividade econômica na Mesopotâmia era a agricultura, tal como a do Egito, inseria-se no modo de produção asiático. Sendo a atividade agrícola a principal fonte de subsistência na Mesopotâmia, o poder público controlava de perto a construção de reservatórios de água, canais de irrigação e depósitos de alimentos. Para isso usava a mão de obra das populações camponesas, submetidas ao pagamento de impostos ao rei.
   A produção agrícola era variada, incluindo cevada, trigo, lentilha, linho, tâmaras e outros produtos. Nos campos criavam-se cabras, carneiros e ovelhas para obter carne, leite e lã. Os bois para puxar os arados e para outros serviços. Com o couro bovino faziam correias e sapatos, e com o leite de vaca fabricavam coalhadas e queijos finos. Mais tarde, começaram a domesticar cavalos para montaria e para a guerra.
  Nas cidades, desenvolveram importante atividade artesanal; tecelagem, cerâmica, fabricação de armas, joias, objetos de metal etc. A excelente localização da Mesopotâmia favoreceu o desenvolvimento do comércio. Comerciantes deslocavam-se para outras regiões levando produtos fabricados pelos babilônios. Em consequência, a Babilônia transformou-se num dos mais importantes entrepostos comerciais da Antiguidade.   Até o século VI a.C., a cevada e os metais eram utilizados como padrão de valor nas trocas comerciais.
   A sociedade na Mesopotâmia, de forma geral dividia-se em dois grupos principais: classe dominante (governantes, sacerdotes, militares e comerciantes) e classe dominada (camponeses, pequenos artesãos e dois tipos de escravos: de guerra e por dívida). Inicialmente, os escravos eram pouco numerosos e a sua existência devia-se principalmente às dívidas. Com o tempo, o costume de transformar os prisioneiros de guerra em escravos fez aumentar o número de cativos na região. A classe dominante controlava a riqueza econômica, as forças política e militar e o saber.
   A Mesopotâmia foi governada por monarquias teocráticas em que o poder estava concentrado nas mãos do soberano. O rei considerado um representante dos deuses na Terra, capaz de traduzir a vontade divina, detinha os poderes religiosos, militares e políticos.

Aspectos culturais

   A cultura na Mesopotâmia era muito rica em razão dos diversos povos que habitavam a região. Mas, quase toda a cultura mesopotâmica descendia dos sumérios, incluindo a religião, politeísta e antropomórfica. Sendo politeístas, acreditavam em vários deuses que representavam, como no Egito, fenômenos da natureza. Os deuses mesopotâmicos eram ao mesmo tempo entidades do bem e do mal. Cada cidade tinha seu deus protetor. Entre as principais divindades estavam Marduk, o deus da cidade da Babilônia e do comércio, Shamash, o sol e a justiça; Anu, o céu; Enlil, o ar; Ea, a água; Ishtar, a deusa do amor e da guerra e Tamus, a vegetação.
   Os sumérios explicavam a origem do mundo através do mito de Marduk e da lenda do Dilúvio, muito semelhante à história bíblica da Arca de Noé. Segundo suas crenças, o deus Marduk criara o céu e a terra, os astros e o homem. Contudo, um dilúvio ameaçara a existência humana na terra e Marduk ajudou Gilgamesh a sobreviver, advertindo-o do perigo e aconselhando-o a construir uma arca na qual deveria colocar vários animais e os membros de sua família. No governo de Hamurabi, o deus Marduk da Babilônia foi adorado por todo o império.
ZIGURATE
 

  
Os povos mesopotâmicos viam a religião como meio de obter recompensas terrenas, imediatas, não acreditando na vida após a morte. Os rituais religiosos, comandados pelos sacerdotes, faziam do templo (zigurate) o centro de toda a religiosidade. Esses templos, às vezes, abrigavam também o celeiro e as oficinas. Neles se conhecia o estoque e se definia o critério de distribuição dos excedentes agrícolas tomados aos camponeses.
  
   Os caldeus não acreditavam em vida após a morte, porém acreditavam em demônios, espíritos, magia, adivinhação e na influência dos astros sobre a vida humana, criaram a astrologia. Os astrólogos faziam horóscopos para interpretar a influência dos astros na vida humana.
   Na arquitetura mesopotâmica destacava-se a construção de templos e palácios, como os zigurates. Pintavam e esculpiam sobre temas religiosos, esportivos e militares. Inventados pelos sumérios, os zigurates tornaram-se sua marca arquitetônica registrada: eram imensos templos com várias torres retangulares, igualando-se em grandiosidade aos palácios construídos pelos assírios e caldeus. Mas o uso de arcos também deixou sua marca na arquitetura desse povo. Como artistas, os sumérios destacaram-se nos trabalhos em metal, na lapidação de pedras preciosas e na escultura.
   Foi, porém, no campo científico que os mesopotâmicos alcançaram maior destaque. Através da observação do céu, visando decifrar a vontade dos deuses, os sacerdotes acumularam informações a partir das quais foi elaborado, pouco a pouco, um conhecimento exato dos fenômenos celestes.

Legado Cultural da Mesopotâmia:
· Divisão do ano de 12 meses e a semana de 7 dias;
· A divisão do dia em 24 horas;
· A crença nos horóscopos e os doze signos do zodíaco;
· O hábito de fazer plantio de acordo com as fases da Lua;
· O círculo de 360 graus;
· O processo aritmético da multiplicação;
· O cálculo das quatro operações aritméticas;
 · A extração de raiz quadrada;
 · A álgebra;
· O sistema de numeração sexagesimal, que dividiu a circunferência em 360º e à hora em 60 minutos;
· A distinção entre planetas e estrelas;
· A arte de prever eclipses;
· O primeiro conjunto de leis escritas, o Código de Hamurabi, feito pelos babilônios no século XVIII a. C.


    No campo literário, o destaque fica para duas obras sumerianas: o Mito da Criação, que resgata a origem do mundo através do mito de Marduk, e a Epopeia de Gilgamesh, que conta a lenda do Dilúvio. Destaca-se também, como grande marco da história do Direito, o Código de Hamurabi. A descoberta suméria da escrita foi enriquecida com a produção de textos religiosos, históricos e lendas.
   A escrita cuneiforme, criada pelos sumérios, foi utilizada pelos vários povos mesopotâmicos e adotada por outros povos da Ásia Ocidental. Foi decifrada pelos estudiosos Grotefend e Rawlinson.
   Em linhas gerais, podemos dizer que a forma de produção dominante na Mesopotâmia foi a Asiática, não existindo, portanto a propriedade privada da terra. Os indivíduos só usufruíam da terra enquanto membros da comunidade. O rei, encarnação do Estado, era o proprietário nominal de todas as terras, o qual dirigia a construção de canais de irrigação que propiciavam as condições para o desenvolvimento da agricultura.
   No plano sociopolítico, esta forma de produção caracterizou-se pelos impérios teocráticos de regadio, organização estatal altamente centralizada. O poder estatal unificou em suas mãos os poderes político, militar, religioso e econômico. A rígida centralização do poder era necessária para o desenvolvimento da agricultura de regadio, através da organização do trabalho nas grandes obras públicas.
   A civilização mesopotâmica exerceu grande influência sobre os povos vizinhos, como os persas – que adotaram a escrita cuneiforme – e os hebreus – que aproveitaram algumas de suas tradições religiosas, como o mito do dilúvio.
08/11/10

Bibliografia consultada:
FERREIRA, Olavo Leonel. Mesopotâmia: o amanhecer da civilização, São Paulo: Ed. Moderna, 3ª edição, 1993.
LÉVÊQUE, Pierre. As Primeiras Civilizações, Vol. II: Mesopotâmia e hititas. Tradução de Antonio José P. Ribeiro. Rio de Janeiro: Edições 70, 1987.
CARDOSO, Ciro Flamarion. Sete Olhares sobre a Antiguidade. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1994.
CROUZET, Maurice (org.) O Oriente e a Grécia Antiga. Tradução de Pedro M. Campos. (Coleção História Geral das Civilizações). Rio Janeiro: ED. Bertrand Brasil SA, 1993

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