segunda-feira, 26 de setembro de 2016

EXISTE DIFERENÇA ENTRE LÍNGUAS COMO SINAL DO BATISMO COM O ESPIRITO SANTO E COMO DOM ESPIRITUAL?


Por Jefferson Rodrigues

Existe alguma evidencia física que nos mostre que alguém foi batizado com o Espirito Santo? A resposta para esta pergunta dependerá de qual grupo pentecostal você pertença. O pentecostalismo é um movimento que pode ser dividido em três períodos, identificados como ondas. Para o sociólogo Ricardo Mariano (2014, p.28) os pentecostais de primeira onda são aqueles que surgiram a partir dos movimentos iniciados nos EUA do inicio do século XX, mormente da Azusa Street em Los Angeles; os membros deste grupo também são identificados como Pentecostais clássicos.  Estes pentecostais enfatizam o batismo com Espírito Santo e o falar em línguas como evidência física desta experiência. Os pentecostais de segunda onda teriam doutrinas carismáticas esposadas nas ideias do grupo anterior, inclusive admitindo o falar em línguas como evidência inicial do Batismo com o Espírito Santo. Porém, alguns carismáticos de segunda onda admitem a possibilidade de nem sempre esta ser a evidência do batismo com o Espírito Santo. Contudo, sua maior ênfase estaria na cura divina. Este grupo destaca-se no cenário mundial a partir da década de 60 com a renovação carismática de muitas denominações reformada e histórica, inclusive dentro da Igreja Católica Romana.
 Por fim, Mariano apresenta os pentecostais de terceira onda (idem, idem). Para este sociólogo, apesar de este grupo crer nos dons do Espírito, ele difere dos outros dois tanto nos usos e costumes quanto na percepção dos dons do Espírito, não vendo o dom de línguas como um sinal físico do Batismo com o Espírito Santo. Estes grupos são identificados como Neopentecostais tendo como algumas de suas características a teologia da prosperidade e a inclusão em suas liturgias de práticas que consideramos no mínimo, extra bíblicas para ser elegante. Algumas de suas práticas incluem forte ênfase na prosperidade material, uso maciço dos recursos midiáticos como TV e Rádio, ênfase exagerada em batalha espiritual inclusive entrevistando “demônios”, venda de objetos considerados milagrosos e ativadores da fé como água ungida, rosa ungida, caneta ungida entre outras práticas. Por hora nos centraremos na evidencia física do Batismo e não discutiremos mais sobre as práticas neopentecostais que tem contribuído para a difamação da fé carismática.
Como exposto acima, para os pentecostais de primeira onda a evidência física do Batismo com o Espírito Santo sempre será o falar em línguas. Já os de segunda onda admitem a possibilidade de que nem sempre o falar em línguas seja necessário para a evidência desta experiência. E os de terceira onda, não dão enfoque sobre a questão. Mas afinal, qual opinião está em consonância com a Palavra de Deus? Entendemos que a opinião defendida por Pentecostais clássicos (primeira onda) está em consonância com as evidências escriturísticas e vamos justificar esta opinião com base na Palavra de Deus. Assim acreditamos que o falar em línguas seja a evidência inicial do Batismo no Espírito pelos seguintes motivos:
1.             Em Jerusalém esta foi à marca distintiva no Pentecostes. Juntamente com o vento e fogo, as línguas foram os sinais exteriores que marcaram o Dia de Pentecoste descrito em Atos 2. É valido lembrar que a dimensão da experiência ocorrida no Pentecostes não se repete nos demais casos apresentados em Atos, com exceção das línguas. Desta forma, as línguas continuam sendo marca distintiva de que algo sobrenatural estava acontecendo. Parece-nos que era inquestionável a ligação entre falar em línguas e o batismo com o Espírito Santo na igreja primitiva, e para tanto, devemos considerar a isenta opinião de um ministro presbiteriano escocês, o doutor A. B. Macdonald que assim nos fala:
A crença da igreja acerca do Espírito surgiu dum fato que experimentou. Bem cedo em sua carreira os discípulos notaram um novo poder que operava dentro deles. No princípio, sua manifestação mais extraordinária foi "falar em línguas", o poder de expressão oral extática numa língua não inteligível. Tanto esses que eram tomados por esse poder, como também os que viam e ouviam suas manifestações foram convencidos de que um poder do mundo superior atingira suas vidas, dotando-os de capacidades de expressão e de outros dons, os quais pareciam ser algo diferente, e não apenas uma intensificação da capacidade que já possuíam [...][1]
Por este citação entendemos que as manifestações das línguas serviam para testemunhar do poder Divino entre os mais variados grupos de pessoas, parecendo ser este o padrão esperado pela Igreja apostólica.
2.             Em Atos todos os casos de batismo foram acompanhados pela evidencia das línguas. Todos os casos expostos em Atos dos Apóstolos onde cristãos foram Batizados com o Espirito Santo ocorre a evidência física das línguas, seja explicitamente falado no texto (At 2.4; 10.42-47; 19.1-7), ou ainda implicitamente (At 8.12ss). Em todos estes eventos o Espírito repetiu o sinal das línguas apresentadas no Pentecostes. Até mesmo entre os Apóstolos este sinal já era entendido como o recebimento do Batismo com o Espirito Santo, por isso Pedro declara ao ver Cornélio falar em línguas que este era o mesmo sinal que eles haviam recebido no dia de Pentecoste, assim nos diz a Palavra:E, quando comecei a falar, caiu sobre eles o Espírito Santo, como também sobre nós ao princípio (At 11.15). E como Pedro sabia que “caiu” o Espírito sobre Cornélio e sua casa? A resposta o próprio texto nos dá, através da evidencia física de falar em línguas, vejamos: “[...]maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios. Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus”. (At 10.45b,46). O falar em línguas para Pedro definia que eles haviam recebido o Espírito Santo!
Poderíamos sem dúvidas citar ainda o ocorrido em Éfeso (At 19.1-7), onde discípulos foram interpelados por Paulo se já haviam recebido o Espirito Santo (At 19.2) e responderam negativamente. Na oportunidade Paulo impôs as mãos sobre eles e “[...] veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam”(At 19.6 b.). Mais uma vez o fator distintivo do recebimento do Espírito consiste no falar em línguas. Neste caso ainda houve o profetizar deixando ainda mais nítido o propósito deste dom em capacitar homens para o trabalho cristão. Finalizamos este ponto com a opinião sensata dos teólogos Pentecostais Menzies e Horton:
Se todas as referências à concessão pentecostal, no livro de Atos, forem reunidas em um único bloco, não haverá mais dúvidas de que as línguas são a evidência inicial e física do batismo no Espírito Santo. Visto que reconhecemos nas descrições históricas do livro de Atos um propósito teológico e a intenção de ser exemplo para a Igreja hoje, temos nele um forte fundamento para acreditar que os crentes que eram cheios do Espirito Santo esperavam a evidência do falar em línguas[2].
Esclarecido este ponto, passemos ao próximo. Aprestaremos a diferença existente entre língua como dom do Espírito e como sinal do batismo com o Espirito Santo.
Diferença entre sinal e dom na manifestação das línguas. Para finalizarmos as questões concernentes a evidencia física do batismo com o Espírito Santo vamos apresentar a diferença existente entre línguas como dom e como sinal visível desta experiência. Em primeiro lugar é importante salientar que toda a manifestação do Espírito é uma dadiva do Céu, e, portanto, trata-se de um dom da parte de Deus. Sendo assim, independente da forma como se apresente as línguas sempre serão um dom do Espírito para a Igreja. Contudo, precisamos deixar claro que nem todo cristão tem o dom de línguas (1 Co 12.10), pois a própria Escritura nos faz crer na impossibilidade de todos falarem em línguas (1 Co 12.30). E como compreender a aparente contradição de que a Bíblia mostra que o Batismo é para todos, porém, nem todos possuem o dom de língua? Defendemos a proposição de que há uma mudança na função das línguas. No ato do batismo com o Espírito Santo cremos que elas servem para exaltar e glorificar a Deus. Todavia, como dom, a sua função primária é a edificação da Igreja (podendo também glorificar a Deus). A seguir explicaremos esta ideia de forma mais ampla.
É importante observar que ao falarmos de línguas como sinal há uma variação nítida da função que é posta quando esta manifestação aparece como dom no Novo Testamento. Com isso não queremos dizer que a fonte dessas línguas (Espírito Santo) seja diferente, ou a tipologia (sobrenatural ou humanas) ceda lugar a outra forma. Não obstante, acreditamos que a variação acontece no proposito, ou seja, elas tem como função primária magnificar a Deus (no Batismo com o Espírito Santo) e edificar a igreja (como dom). Quando o dom de línguas é apresentado nas Epístolas Paulina tem como propósito primário a edificação do Corpo de Cristo (1 Co 12-14), por esta razão é insistentemente recomendado que haja interprete quando a mensagem em línguas for dirigida à congregação (1 Co 14.5) e falada na congregação. Além desta função primaria, Paulo ainda acrescenta a utilidade das línguas para edificação espiritual do falante (1 Co 14.4), e ressalta que não se deve proibir o falar em línguas (1 Co 14.39), desde que seja tudo feito com “decência e ordem” (1 Co 14.40).
Contudo, os casos em que o falar em línguas é apresentado em conexão com a experiência do batismo com o Espírito Santo assume uma forma diversa daquela proposta por Paulo, ou seja, estas línguas são usadas prioritariamente para magnificar à Deus (podendo posteriormente vir uma mensagem de caráter profético à todos). Vemos estes exemplos tanto em Jerusalém no Pentecostes (At 2.11), como em Cesareia, na casa do centurião Cornélio. Quanto a manifestação ocorrida em Jerusalém, devemos observar que os discípulos "falavam das grandezas de Deus", ou seja, magnificavam a Deus, não sendo esta uma pregação (mesmo sendo línguas idiomáticas das nações), pois posteriormente Pedro se encarrega desta missão conforme defende o Dr Roger Stronstad (2011, p.69) em seu livro "Batismo no Espírito Santo e com fogo"(CPAD)
 Passemos a analisar este outro caso: na casa do centurião Cornélio (At 10.42-47). Em Cesareia, os discípulos, vindo de Jerusalém, perceberam que aqueles homens haviam recebido o batismo com Espírito Santo porque os viam falar em línguas (At 11.15). Contudo, é importante destacar que naquele lugar não houve necessidade de interprete para a língua falada, apesar de que nenhum dos presentes compreendia o que foi falado, conforme entendemos a partir da expressão Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus” (At 10.46).Também não houve uma mensagem especifica para aqueles irmãos, isto em razão de toda a mensagem ter sido apresentada anteriormente por Pedro aos presentes. Assim, as línguas (gr. lalounton glossais) faladas na Casa de Cornélio tiveram como finalidade primária glorificar a Deus. Neste ponto compreendemos que a língua como evidencia física do batismo com Espírito Santo não possui, necessariamente, a mesma função do dom de língua. Contudo, as experiências observadas nas Escrituras sobre batismo com Espírito Santo foram acompanhadas pelo falar em línguas como forma de glorificar a Deus (At 2.4; 10.46; Ef 19.1-7). Ressaltamos que é possível que o cristão receba tanto o sinal do batismo como o dom de línguas ao mesmo tempo.
Então, compreendemos que todo cristão ao ser batizado com o Espírito Santo fala em línguas com o objetivo de glorificar ao Pai Eterno, todavia, isto não implica dizer que ele possui o dom de língua, Menzies e Horton confirmam esta visão ao afirmar: “[...] é valido lembrar que uma pessoa pode receber as línguas como a evidencia do batismo no Espirito Santo e só mais tarde receber o dom das línguas, que pode manifestar-se nas devoções pessoais ou nos cultos públicos[3]”. Será preciso orar e pedir ao Senhor que seja dado o dom de línguas, assim como os demais dons(1 Co 12.30). Desta forma, concluímos reiterando que, segundo o relato Lucano em Atos dos Apóstolos a experiência do batismo com o Espírito Santo era acompanhada com o falar em línguas, dando testemunho visível e público do que Deus estava fazendo no meio do povo! 
Por fim, ressaltamos que mesmo defendendo as línguas como sinal primário do batismo com o Espírito Santo, outras manifestações podem acompanhar esta experiência sobrenatural, como por exemplo, o ato de profetizar (At 19.7). Não podemos esquecer que o revestimento de poder advindo do batismo com o Espírito Santo potencializa a manifestação dos dons, dessa forma o Espírito Santo opera livremente no cristão que cede lugar a presença do Eterno.
Em Cristo,
Jefferson Rodrigues




[1] MACDONALD citado por PERALMAN, 2014, pp.313, 314
[2] MENZIES; HORTON, 1999, p.144
[3]  MENZIES; HORTON, 1999, p.145

Um comentário:

  1. Olá. Graça e paz.

    Para os pentecostais clássicos o falar em "línguas" é um sinal, mas não é o próprio dom de línguas em si, então é só uma evidência. Se é assim, por que muitos dos que evidenciam o batismo falando em "línguas", continuam falando depois, e até se cobram(ou são cobrados) quando não continuam? Não fica meio que na cabeça das pessoas que o batismo e a capacidade de dali pra frente poder falar em "línguas" como uma coisa só?

    ResponderExcluir

Caros irmãos fiquem a vontade para concordar, discordar, criticar e elogiar. Apenas peço que o façam com base na Palavra de Deus. Lembro a todos que os comentários que forem ofensivos serão removidos, pois nosso espaço é para reflexão e não agressão. No mais fiquem a vontade!