sábado, 24 de setembro de 2016

1 CO 12.13 AFIRMA QUE TODOS OS CRISTÃOS JÁ SÃO BATIZADOS PELO ESPIRITO SANTO?


Por Jefferson Rodrigues
Entre alguns grupos de teologia "reformada" há uma falsa acusação contra os pentecostais de que pregamos uma doutrina que promove um elitismo espiritual (Batismo com o Espírito Santo), e que por conseguinte, rejeitamos a ideia de que todos os cristãos possuem o Espírito Santo. Na verdade é oposto a isto, pois aceitamos e defendemos que todos os cristãos ao confessarem a Cristo como Senhor tornam-se habitação do Espírito Santo e, portanto, possuem o Espírito em sua vida. Não obstante, defendemos um revestimos de poder subsequente à salvação denominado de batismo com o Espírito Santo. É neste ponto que mais uma vez os opositores desta doutrina afirmam que erramos, pois eles citam o texto de 1 Coríntios 12.13 como prova de que todos os cristãos são batizados com o Espirito Santo. O texto diz: Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito”(1 Cor 12.13)
Sem dúvidas o texto nos apresenta uma forte indicação de que todos somos batizados com o Espírito Santo. Porém, precisamos perguntar: o texto está se referindo a uma experiência de revestimento de poder posterior a salvação? Ou o texto dentro do seu contexto refere-se à inclusão de um cristão no Corpo místico de Cristo, a igreja? Se sua reposta for sim para esta ultima questão e não para a primeira, então entendo que você compreendeu de fato o texto Paulino. Passemos analisar o capítulo completo.
O capítulo 12 inicia-se tratando sobre dons espirituais (v.1). Na verdade há uma possibilidade de que Paulo referia-se a um grupo de irmãos (os espirituais, gr. pneumatikon) que se consideravam superiores aos demais por desfrutarem de alguns dons espirituais e, portanto, entendiam que somente eles eram pertencentes à Igreja de Cristo. Por essa razão, Paulo começa a explicar que existe uma diversidade de dons (vv 4-10) e que estes são concedidos pelo Espírito a cada cristão como convém. A partir do versículo 11 o foco é mudado para a diversidade de dons que existe na Igreja e enfoca na diversidade de membros e dons que existe no Corpo, porém, ele destaca que nenhum membro deve sentir-se superior ao outro, “Pois todos nós fomos batizados em (gr. ‘en’) um Espírito, formando um corpo [...]” (1 Co 12.13). Ou seja, através do Espírito Santo, todos os crentes foram inseridos no Corpo místico de Cristo, independente da capacidade espiritual que possua. Aqui Paulo não estava se referindo a uma experiência de poder da qual João Batista havia profetizado (Mt 3.11), ou aquelas que foram descritas no livro de Atos (e.g. At 10.42-47). Este batismo ao qual Paulo se refere é a inclusão de todos os Cristãos no Corpo de Cristo através do Espírito Santo (Jo 16.8)
Esta diferença pode ser entendida pela forma do texto que pode ser traduzido como batizados “pelo” Espírito. Mais uma vez a preposição, no grego, escolhida por Paulo é “en” e sendo esta uma preposição versátil no grego, precisamos escolher a melhor tradução a partir do contexto. E observando o capítulo 12, vemos que Paulo utiliza-se desta preposição sempre com o intuito de dizer “pelo”. Prova disso são os versículos 3 e 9. No versículo 3 lemos o seguinte: “portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo (en) Espírito de Deus [...]E ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor senão pelo (en) Espírito Santo”. Ele continua neste mesmo entendimento no versículo 9 quando apresenta a lista de dons: “[...]e a outro, pelo (en) mesmo Espírito, a fé; e ao outro, pelo (en) mesmo Espírito, os dons de curar”. É razoável entender que no versículo 13 a preposição “en” também assuma a ideia de “pelo” ao invés de “com” ou “no” como quando se refere ao batismo com o Espírito Santo (Mt 3.11; At 1.5). Assim, a partir deste entendimento compreendemos que o termo “batizado ‘pelo’ Espírito Santo” “indica que o Espírito Santo é o meio ou o instrumento pelo qual este batismo acontece[1]”.
Após esta analise exegética do texto é possível compreender que a experiência a qual Paulo se refere neste texto é o fato do Cristão ser inserido no corpo de Cristo. Esta ideia é reafirmada até mesmo por teólogos que seguem uma linha diversa da pentecostal. Vemos por exemplo Champlin afirmar enfaticamente que este texto “não se trata do batismo que infunde poder, aludido em Atos 2.4[2]”, mas que ele ressalta a capacidade de tornar os cristãos unidos a partir da ação do Espirito. Segundo Champlin “a influencia do Espírito é que transforma e une, conferindo-lhes uma mentalidade espiritual e um só estado metafisico. Faz deles uma só entidade espiritual[3]”. E consolidando este pensamento temos a posição do comentarista bíblico Donald S. Metz que afirma: “Paulo procura eliminar as tensões e as rivalidades insistindo na unidade essencial dos crentes em Cristo [...] Dessa forma, judeu e gregos, servos (escravos) ou livres, todos participam da mesma experiência comum de pertencer a um único corpo a Igreja[4].
Todos estes autores fazem coro com nosso entendimento e reafirmam a posição que defendemos. Para finalizar este ponto, achamos pertinente apresentar a posição do renomado teólogo pentecostal Roger Stronstad que, de forma sintética, apresenta a diferença entre batismo com (no) o Espírito Santo e batismo pelo Espírito: “(I) batismo pelo Espirito, que incorpora a pessoa ao Corpo de Cristo (I Co 12.13) e (2) batismo no [com] Espirito, que primariamente da poder a pessoa (Mt 3.11: Mc 1.8; Lc 3.16; Jo 1.33; At 1.5; 11.16; veja também Lc 24.49; At 1.8)[5]”. Assim, compreendemos que a interpretação adequada para este versículo ficou clara, não sendo necessário nos alongar nesta discussão.
Que o Espírito continue nos guiando através de sua Palavra!
Em Cristo,
Jefferson Rodrigues




[1] ARRINGTON; STRONSTAD, 2009, pp. 238, 239
[2] CAHAMPLIN, 2014, 250, Vl 4 NT
[3] Idem, 2014, p. 251
[4] METZ, Doanld S. A primeira Epístola de Paulo aos Coríntios. In: Comentário Bíblico Becon, 2015, p.339
[5] STRONSTAD,2011, p.20

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