Por Jefferson Rodrigues
Introdução
“Por
que comigo SENHOR?!!!” Quantos de nós já nos pegamos fazendo esta pergunta.
Parece inconcebível que num mundo governado por um Deus justo e bom pessoas que
aparentemente são boas venham a sofrer. O problema do sofrimento humano é um
dos pontos mais controversos dentro da doutrina cristã. Contudo, mesmo sendo
difícil de compreender é impossível negar a existência do sofrimento. Bastar
olhar para os desastres naturais onde vidas são ceifadas, ou para a quantidade
de crimes hediondos que vemos nas grandes cidades, ou pior ainda, para o número
de pessoas que vivem de modo honesto mas que mesmo assim padecem com uma
enfermidade terminal. Nossa pequena mente humana não consegue digerir tais
coisas e diante disso somos impulsionados a questionar a ação do criador.
A bondade de Deus e o
problema do sofrimento
Em
tais situações somos tentados a questionar a existência de Deus, bem como sua
bondade. É por isso que antes de mais nada é preciso entender que Deus, de
fato, é a essência da bondade. No Senhor Deus podemos encontrar todos os
padrões necessários para que possamos entender o que de fato é ser bom.
Rejeitamos a ideia de que o que para justiça humana é considerado
irremediavelmente má venha a ser considerado bom aos olhos de Deus. Faço essa
afirmação com base no conceito de que aquilo que nos resta de entendimento
sobre o que é bom ou justo é resquício do ideal plantado pelo próprio Deus em
nossa mente. Portanto, ainda que distorcido pelo pecado, temos um padrão de
bondade que emana do próprio Deus. Nas palavras do grande escritor C.S.Lewis é
semelhante a uma criança que tenta desenhar um círculo e não o faz com
perfeição até que atinja as habilidades necessárias para tal. Contudo, ainda
que informe, aquele círculo feito pela criança apresentará as características
de um círculo. De igual modo, o homem pecador terá a ideia do que é bom, mesmo
não podendo atingir o padrão de bondade ideal requerida pelo SENHOR.
A
metáfora acima citada serve para defender que Deus em hipótese nenhuma pode ser
considerado autor do mal como já foi sugerido por alguns teólogos fatalistas.
Para o escritor arminiano Roger Olson, “[...] embora Deus tenha o direito e o
poder de fazer o que lhe aprouver com qualquer criatura, o caráter de Deus como
amor e justiça supremos tornam certos atos de Deus inconcebíveis. Entre estes
estaria a preordenação do pecado e do mal[1]”. Neste ponto, podemos
fazer coro com as Escrituras que afirmam categoricamente: “Deus é amor” (1 Jo
4.8). Ora, se Deus é amor, então por que ele permite o sofrimento humano?
O amor Divino e a
responsabilidade humana
Para
responder a esta questão quero me ater a duas situações: a amor de Deus e a
responsabilidade humana. Em primeiro lugar é preciso entender que o amor de
Deus não é a liberdade para que o ser humano seja feliz no sentido hedonista,
ou seja, na satisfação imediata do seu prazer pecaminoso. Para começarmos esta
questão é preciso esclarecer inicialmente a ideia geral do que é o Amor de
Deus. Na verdade, quando amamos alguém de verdade, como por exemplo um filho,
não permitimos que ele ou ela seja feliz no sentido hedonista. Sempre dizemos
não, sempre impedimos que eles prossigam em direção a um precipício que venha
os ferir.
Para
aquele que está tendo suas vontades no momento cerceadas parece que não há amor
em proibir que se alcance o prazer pleno. Isso de algum modo pode causar um
sofrimento momentâneo. Não obstante, o fim desta ação é sempre o bem real
daqueles que são amados. Neste sentido é imprescindível ouvirmos mais uma vez a
voz de C.S. Lewis sobre o tema: “O problema de reconciliar o sofrimento humano com
a existência de um Deus que ama só é insolúvel enquanto associarmos um
significado trivial à palavra "amor" e considerarmos as coisas como
se o homem fosse o centro delas. O homem não é o centro. Deus não existe por
causa do homem. O homem não existe por sua própria causa. ‘Porque todas as
coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram
criadas’" (Ap 4.11)[2].
Deste
modo, o amor de Deus não pode ser visto como permissividade. Outrossim, o Amor
de Deus também impõe limites e faz com que os homens sejam limitados em suas
vontades e em razão de sermos limitados e temporais não compreendemos que
aquele momento de sofrimento momentâneo é projeto de Deus a fim de ensinar seus
filhos e sua criação sobre algo maior. As vezes oramos por uma cura, uma
solução de problemas ou mesmo um livramento e estes pedidos não são atendidos.
Devemos lembrar que em hipótese nenhuma isto implica retirar o amor Divino da
equação. Na verdade, para aquele que não há limites temporais e que conhece
todas as tangenciais do universo, a pronuncia de um não é um ato de sabedoria e
amor que para seres limitados como nós pode parecer incompreensível no momento,
contudo, sem dúvidas esconde um pensamento muito mais alto. Em tais situações
só podemos pedir a Deus para que nossos corações sejam confortados e aceite sua
Santa decisão.
Por
último, quero falar da responsabilidade humana. Sim, Deus criou homens com
liberdade de decisão. Doutra forma, não poderíamos falar em responsabilidade
humana, pois como poderíamos ser culpados ou responsáveis por algo que não
tínhamos outro opção a não ser cumprir “os decretos ocultos de Deus?”.
Infelizmente, a liberdade humana é permeada pela influência do pecado e,
portanto, sempre tenderá a práticas que desagradam o plano original de Deus.
Neste caso, quando olhamos, por exemplo, para uma família que foi vítima de uma
enchente em um morro do Brasil e ali morreu crianças inocentes, podemos
perguntar: onde estava Deus neste acidente? Bem, é preciso entender que há a
responsabilidade humana neste caso hipotético (mas muito real). Podemos
responder com as seguintes indagações: quem permitiu que essa casa fosse
construída nas encostas de morros? Por que não foi tomada medidas de segurança
antes? A família poderia ter sido livrada deste acidente pelas ações do poder
público?
Da
mesma forma encontramos situações similares, ao vermos um trágico homicídio ou
acidente de transporte (terrestre, aéreos ou marítimos). Em tais situações
sempre haverá mortes prematuras, dor e sofrimento. Em tais casos vemos claramente
a consequência do pecado, da maldade e ganância que invade os corações de
homens perversos em natureza. É um ciclo que só será contido quando
definitivamente todas as coisas estiverem sujeitas ao Deus Pai (1 Co 15.28) e
tudo o que corruptível tomar a forma incorruptível.
Podemos
refletir em cima destas questões e afirmar que muitas tragédias como essas
citadas poderiam ser evitadas com ações adequadas dos homens que em razão do
pecado, sempre tendem a atitudes que desagradam ao Pai Celeste. Corroborando
com nossa afirmação encontramos a fala do filosofo norte americano William Lane
Graig que diz: “As escrituras indicam que Deus entregou a raça humana ao
pecado, e ela o tem escolhido livremente; Deus não interfere para impedir, mas
deixa a depravação humana seguir seu curso (Rm 1.24, 26, 28). Isso apenas serve
para tornar Deus ainda maior a responsabilidade moral da raça humana perante
Deus, assim como a nossa impiedade e a nossa necessidade de perdão e de pureza
moral[3]”
Outro
ponto que é imprescindível abordar é a forma como devemos nos portar ante o
sofrimento de um povo ou de uma pessoa. Em razão de nossa mente filosófica
sempre buscaremos uma razão explicita para o sofrimento inesperado pelo qual
alguém esteja passando. Contudo, em momentos de dor recomendamos que você
guarde suas especulações filosóficas e teológicas para si mesmo. Nada que
dissermos para uma pessoa que está com seu coração ferido pela dor irá aliviar
o sofrimento naquele momento. O ideal é que diante do sofrimento alheio
saibamos quando nos calar e apenas orar por aqueles que sofrem. Se possível
estendamos nossos braços para ajudar e abraçar aqueles que estão debaixo do
julgo da dor de um sofrimento, ou como diz o pastor Erwin W. Lutzer: [...]
declarações superficiais não ajudam e, de fato, ferem. Às vezes, precisamos
apenas nos sentar ao lado daqueles que estão sofrendo, permitindo que saibam
que nos importamos. Nesses momentos de choque e dor, nosso silencio, aliado à
nossa presença demonstra afeto, acalma muito mais que ficarmos falando sobre
promessas e propósitos de Deus[4]”. O que o autor enfoca é a
necessidade de deixar discursos teológicos para um momento posterior, devendo
no momento focar em gestos que transmitam amor aquelas vidas que estão
sofrendo, demonstrando na prática o amor ao próximo ensinado por Jesus.
Considerações finais
Concluímos
esta breve reflexão reafirmando: não é simples explicar a razão para existência
do mal e do sofrimento. Não há uma explicação que feche todas as lacunas que
surgem diante deste problema. Contudo, é importante que tenhamos em nossa mente
que Deus em seus planos infinitos e insondáveis estará conosco em nossa dor. É
bem provável que ele não responda às suas indagações, ou o porquê do sofrimento
pelo qual você está passando, assim como foi com o personagem bíblico Jó. Não
obstante, ainda que Ele não responda tenha certeza que o Senhor estará com você
em todas as circunstancias. Encerro este ponto citando as palavras do escritor
estadunidense Joe Coffey, em sua obra Defenda sua fé (2012): “Ele é o único
Deus que abriu caminho da cruz para a alegria, de modo que suas lágrimas aqui
na terra um dia se transformarão, no céu, em lágrimas de alegria. Um dia vou
sentar com meu irmão mais novo, John, e riremos até que as lágrimas rolem em
nosso rosto. Mas não riremos porque o céu é maravilhoso. Vamos rir porque
nossas lágrimas aqui foram finalmente redimidas[5]”.
REFERENCIAL BIBLIOGRAFICO
COFFEY, Joe. Defenda sua fé: pondo por terra as gigantescas questões da
apologética. 1ª edição. São Paulo: Vida Nova, 2012.
CRAIG, William Lane. Apologética para questões difíceis da vida. 1ª edição. São Paulo:
Vida Nova, 2012.
LEWIS. C. S. Cristianismo puro e simples. São Paulo: Martins Fontes, 2005
___________. O problema do sofrimento humano. 2ª Edição- São Paulo: Vida, 1986.
LUTZER, Erwin W. Um ato de Deus? Respostas difíceis acerca do papel de Deus nos
desastres naturais. 1ª Edição- Rio de Janeiro: CPAD, 2014.
NASCIMENTO, Valmir. A razão da nossa esperança: alegria, crescimento e firmeza nas
cartas de Pedro. 1ª edição: Rio de Janeiro. CPAD, 2019.
OLSON, Roger. Teologia arminiana: mitos e realidades. 1ª Edição- São Paulo.
Editora Reflexão, 2013.
RODRIGUES, Jefferson. Lições de Sobrevivências. 1ª edição. Teresina: Editora Filadélfia,
2012.
[1]
OLSON, 2013, p.155
[2]
LEWIS, 1986, p. 24
[3]
CRAIG, 2012, p.104
[4]
LUTZER, 2014, p. 16
[5]
COFFEY, 2012, p. 46
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