quarta-feira, 28 de setembro de 2016

O QUE SIGNIFICA "BATISMO COM FOGO" FALADO POR JOÃO BATISTA?

1.      
               
Por Jefferson Rodrigues                                
 Uma questão que intriga a muitos estudantes da Bíblia é a expressão profética usada por João Batista: “[...]ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo. (Mt 3:11b)”. Esta profecia é relatada em dois dos três evangelhos sinópticos, Mateus e Lucas. A primeira parte da afirmação é de entendimento quase unanime entre pesquisadores, ou seja, Jesus batizou com Espírito Santo no Dia de Pentecoste. A divergência ocorre principalmente sobre a natureza deste batismo, se regenerativo ou um revestimento de poder posterior a salvação, conforme já discutimos anteriormente. Todavia, a celeuma de maior envergadura acontece em torno da expressão “com Espírito e com fogo”(cf. Mt 3.11; Lc 3.16). A partir deste ponto as opiniões são divergentes entre teólogos, sejam eles pentecostais ou de outras correntes teológicas. A principal objeção nesta questão refere-se ao tipo de fogo que João se referia. Por acaso esse fogo é do Espírito ou Fogo do Juízo? Ou ainda: Seriam dois batismos, sendo um com Espírito para os fieis e outro com fogo para os infiéis? Por fim, será que o texto não faz alusão a um único batismo, como o descrito no dia de Pentecostes (At 2.4)?
Batismo com fogo
Passemos a analisar o contexto em que a profecia é dita, considerando Mateus 3.11 que diz: “E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo”(Mt 3.11). Ao observar o contexto da citação, vemos que João encontrava-se no rio Jordão, cumprindo sua missão de preparar o caminho para o Messias (Mt 3.3). Ao que tudo indica muitas daquelas pessoas acreditavam que o Batista era o próprio Messias que viria libertar Israel (Mt 3.5,11), por essa razão João enfatiza que não era o “Esperado”, mas que ele, o Messias, seria exponencialmente superior ao profeta do Jordão. Para dar maior ênfase em sua fala João faz uma comparação de sua inferioridade. Em primeiro lugar destaca que o Messias seria mais poderoso que ele, e que não serviria nem mesmo para ser um serviçal que amarraria as sandálias do Cristo. Quanto ao poder do Messias, é feito um paralelo entre o batismo de João e o que Ele traria. Ao invés do Ungido de Israel batizar com água, ele imergiria o povo no Espírito Santo e com fogo. Ora, se o batizado com água era simbolicamente purificado pela água, assim também o batizado com fogo seria refinado e purificado pelo fogo, ou pelo menos estariam infinitamente mais sensíveis à ação do Espírito que conduz o homem ao arrependimento (Jo 16.8). João fazia o seu ouvinte compreender que o Batismo trazido por Jesus aperfeiçoaria os que seriam imersos na dimensão do Espírito e que seria uma demonstração visível da ação de Deus no meio do povo.
Não seria a primeira vez que o fogo seria sinal da presença do Altíssimo entre a nação de Israel, e é provável que João falasse sabendo que seus ouvintes compreenderiam esta ligação. Afinal, durante a libertação de Israel da escravidão egípcia Deus falou pessoalmente com Moisés através do fogo em uma sarça ardente (Ex 3.2) e guiou o povo pelo deserto através de uma coluna de fogo (Ex 13.22) que os direcionava durante a noite. Sem dúvidas, o papel do Messias incluía trazer libertação para Israel (Lc 4.18) e assim como foi com Moisés, o fogo mostraria o poder de Deus diante do povo. Não é atoa que a durante o Pentecostes os sinais visíveis da presença de Deus foram o vento e o fogo, mostrando que a ação libertadora de Cristo estava completa através da chegada do Espírito Santo.
Assim, entendemos que tal batismo é uma alusão direta a ação do Espírito Santo que foi manifesta em Atos 2, no dia de Pentecostes. Nossa afirmação se baseia na perspectiva que uma exegese desprovida de preconceito fara do texto, pois conforme nos diz o Dr. Russel N. Champlin, em seu comentário do NT: “a interpretação mais aceita é de que o fogo do v.11 indica o caráter do batismo do Espírito. Talvez o modo em que ele veio (no Pentecostes) tenha sido como vento, dotado de poder, força, como se fora um fogo impelido pelo vento; e quanto aos seus feitos seria isso a purificação do povo de Deus (na qualidade do fogo produziria a purificação) e transmissão de poder (usando a força do fogo)[...][1]”. Ralph Earle, comentarista bíblico, corrobora com esta posição ao citar o entendimento do erudito Henry Alford, autor do Greek Testament Commentary( Comentário do Novo testamento Grego), quando afirma que o batismo com fogo foi cumprido no Pentecostes, assim nos diz o comentarista: “isso foi literalmente cumprido no dia de Pentecoste[2]”. Ele ainda amplia o entendimento quanto ao caráter deste fogo: “está claro que [...] não é nada além do caráter de fogo da operação do espírito sobre a alma – procurar, consumir, refinar, sublimar – como quase todos os bons interpretes entendem essas Palavras[3]”. Igualmente, as palavras do erudito pentecostal José Gonçalves são deverás pertinente a este debate, quando diz: “a hermenêutica pentecostal destaca que esse é o entendimento que deve manter acerca dos eventos do Jordão, [...] entende que as palavras do batista, quando se referiu ao ‘batismo de fogo’ estão intimamente ligas as ‘línguas de fogo’ do Cenáculo (At 2.1-4)[4] .
 Assim, quando a Bíblia faz referencia ao fogo deve-se ponderar que nem sempre implica em um julgamento, no Antigo Testamento, por exemplo, muitas vezes o fogo vem como uma sanção da manifestação profética, tendo com isto um caráter positivo (Jr 5.14; 23.29); e ainda o fogo aparece sendo associado com o Espírito Santo (Jz 15.14). Consolidando o entendimento de que nem sempre o fogo está ligado ao juízo Divino, é válido observar o que nos diz Stanley M. Horton:
[...] em vista de sua ocorrência durante a festa de Pentecostes, o fogo significou a aceitação da parte de Deus do corpo da Igreja, por exemplo, o templo do Espirito Santo (1 Co 3.16; Ef 2.21,22) e, então, a aceitação dos crentes individualmente como sendo também templos do Espirito Santo (1 Co 6.19). Ele focaliza a atenção em incidentes do Antigo Testamento onde o fogo desceu sobre o altar, por exemplo, com Abraão, e na dedicação tanto do tabernáculo quanto do templo de Salomão[5].
Assim, quando observamos o contexto da afirmação de João Batista entendemos que ele trata sobre o caráter refinador do Espírito. Com isto não dizemos que batismo com o Espírito Santo produza santidade instantânea e completa (doutrina da perfeição cristã). O que afirmamos é que a imersão no Espírito tornará o cristão mais sensível aos apelos do Espírito e, portanto, o levará a viver uma vida que agrade cada dia mais ao Senhor, afinal é o Espírito que convence o homem de sua situação deplorável (Jo.8) e o faz mudar a rota em direção a Cristo. Portanto, é desta forma, que compreendemos a refinação do fogo do Espírito na vida do cristão.

O fogo do Juízo Messiânico

A despeito de todo o exposto acima, devemos salientar que não rejeitamos o sentido de juízo proposto no versículo 12 que afirma: Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará”(Mt 3.12). É por ligar o versículo 11 a este que muitos intérpretes deduzem que João refere-se ao batismo com fogo para juízo. Não negamos que este versículo refere-se a um juízo, contudo, entendemos que se trata de juízo escatológico, é a algo vindouro. Percebam que dentro do contexto da superioridade messiânica João destaca que ele, o Ungido de Israel, traria um batismo superior ao seu; e aponta que para aqueles que não se arrependeram com sua pregação, a vinda do Messias revelaria a realidade de um juízo final. Nesta perspectiva é importante lembrarmos que Jesus será  aquele que julgará a humanidade (Jo 5.22; Ap 20.11) e que o final de todos os impenitentes será no lago de fogo que não se apaga (Ap 20.15).
Passemos a analisar as principais expressões deste versículo. “Em sua mão tem pá”, Jesus será quem separará aqueles que serão lançados no lago de fogo e os que entrarão na vida Eterna (1 Jo 5.12). O Dr. Champlin complementa essa ideia ao afirmar: “a pá é o símbolo do ministério Jesus; foram o ministério e a mensagem que efetuaram a separação, trazendo salvação ou juízo[6]”. “Recolherá no celeiro seu trigo”, os salvos tem a garantia de lugar de delícias na presença do Pai Celestial (Ap 21.3,4) e estes são comparados ao trigo pelo próprio Cristo (Mt 13.38), porém, os infiéis são comparados ao joio, uma forma infrutífera de gramínea (semelhante a palha). “Queimará a palha com fogo que nunca se apaga”¸ aqui vemos que este fogo é diferente do citado no versículo anterior (Mt 3.11); ele aparece como fogo de juízo, tendo em vista sua conexão clara ao fogo eterno, citado no livro das Revelações. Segundo o Apocalipse de João o destino dos infiéis será o Lago de fogo, vejamos: E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo”(Ap 20.15). Jesus também referiu-se a este lugar como um local onde fogo nunca apaga, sendo identificado como inferno (Mc 9.43). Portanto, entendemos que João se refere neste ponto ao caráter de julgamento que o Messias teria, porém, de acordo com uma analise geral das Escrituras este juízo assume uma perspectiva escatológica.

Considerações finais

Concluímos esta analise reafirmando que em Mateus 3.11, João Batista destacou que o ministério de Jesus seria superior ao seu em todos os aspectos, principalmente pelo poder que o Redentor de Israel apresentaria. Jesus viria a batizar o povo com o Espírito Santo e com fogo, sendo que este fogo aqui citado era a manifestação visível da presença do Deus Eterno no meio do povo (Ex 3.2; At 2.4). Todavia, não rejeitamos o entendimento exposto no versículo seguinte (Mt 3.12), onde aponta para um juízo dos impenitentes. Porém, acreditamos que esta afirmação é escatológica, pois desta forma encaixa-se com várias outras descrições do papel de juiz exercido por Jesus no Novo Testamento. É valido lembrar que enquanto este futuro escatológico não chega, a Bíblia apresenta Jesus como nosso advogado e não Juiz (1 Jo 2.1), porém, na consumação do século, o Senhor será visto como o juiz de todos (Jo 5.22; 2 Co 5.10; Ap 20.11). Assim, quando este juízo for estabelecido, os infiéis serão lançados no “fogo que não se apaga” (Mc 9.43; Ap 20.15).
Por fim, temos a consciência que não esgotamos a questão em torno deste texto, porém, esperamos ter lançado luz na interpretação destas profecias e acreditamos que pudemos esclarecer algumas dificuldades para aqueles que buscam compreender de forma mais ampla os textos Sagrados. 

Em Cristo, Jefferson Rodrigues





REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO


ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger (Ed).Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. 4 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
CHAMPLIN, Russel N. Comentário bíblico do Novo Testamento: versículo por versículo. Volume 1. São Paulo: Hagnos. 2014.
HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo: no Antigo e Novo Testamento. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1993.
________________. Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal. 12º edição, Rio de Janeiro, Casa Publicadora das Assembléias de Deus- CPAD, 2010.
GONÇALVES, José. Batismo com Espírito Santo e com fogo. Disponível em:< http://pastorjosegoncalves.blogspot.com.br/2016/06/batismo-com-o-espirito-santo-e-com-fogo.html > acesso em 27 de setembro de 2016 as 19h43min.
PALMA, Anthony D. O Batismo no Espírito Santo e com Fogo. 4 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2011
SHELTON, James B. Mateus. Em: ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger (Ed).Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. 4 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006



[1] CHAMPLIN, 2014, p. 283
[2] EARLE, Ralph. Evangelho segundo Mateus. In: Comentário Bíblico Becon, 2015, pp.42-43, VL. VI, NT.
[3] Idem, idem
[4] GONÇALVES, José. Batismo com Espírito Santo e com fogo. Disponível em: <http://pastorjosegoncalves.blogspot.com.br/2016/06/batismo-com-o-espirito-santo-e-com-fogo.html > acesso em 27 de setembro de 2016 as 19h43min.
[5] HORTON citado por STRONSTAD, 2011, p.61
[6] CHAMPLIN, 2014, p. 284, VL 1 NT

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

EXISTE DIFERENÇA ENTRE LÍNGUAS COMO SINAL DO BATISMO COM O ESPIRITO SANTO E COMO DOM ESPIRITUAL?


Por Jefferson Rodrigues

Existe alguma evidencia física que nos mostre que alguém foi batizado com o Espirito Santo? A resposta para esta pergunta dependerá de qual grupo pentecostal você pertença. O pentecostalismo é um movimento que pode ser dividido em três períodos, identificados como ondas. Para o sociólogo Ricardo Mariano (2014, p.28) os pentecostais de primeira onda são aqueles que surgiram a partir dos movimentos iniciados nos EUA do inicio do século XX, mormente da Azusa Street em Los Angeles; os membros deste grupo também são identificados como Pentecostais clássicos.  Estes pentecostais enfatizam o batismo com Espírito Santo e o falar em línguas como evidência física desta experiência. Os pentecostais de segunda onda teriam doutrinas carismáticas esposadas nas ideias do grupo anterior, inclusive admitindo o falar em línguas como evidência inicial do Batismo com o Espírito Santo. Porém, alguns carismáticos de segunda onda admitem a possibilidade de nem sempre esta ser a evidência do batismo com o Espírito Santo. Contudo, sua maior ênfase estaria na cura divina. Este grupo destaca-se no cenário mundial a partir da década de 60 com a renovação carismática de muitas denominações reformada e histórica, inclusive dentro da Igreja Católica Romana.
 Por fim, Mariano apresenta os pentecostais de terceira onda (idem, idem). Para este sociólogo, apesar de este grupo crer nos dons do Espírito, ele difere dos outros dois tanto nos usos e costumes quanto na percepção dos dons do Espírito, não vendo o dom de línguas como um sinal físico do Batismo com o Espírito Santo. Estes grupos são identificados como Neopentecostais tendo como algumas de suas características a teologia da prosperidade e a inclusão em suas liturgias de práticas que consideramos no mínimo, extra bíblicas para ser elegante. Algumas de suas práticas incluem forte ênfase na prosperidade material, uso maciço dos recursos midiáticos como TV e Rádio, ênfase exagerada em batalha espiritual inclusive entrevistando “demônios”, venda de objetos considerados milagrosos e ativadores da fé como água ungida, rosa ungida, caneta ungida entre outras práticas. Por hora nos centraremos na evidencia física do Batismo e não discutiremos mais sobre as práticas neopentecostais que tem contribuído para a difamação da fé carismática.
Como exposto acima, para os pentecostais de primeira onda a evidência física do Batismo com o Espírito Santo sempre será o falar em línguas. Já os de segunda onda admitem a possibilidade de que nem sempre o falar em línguas seja necessário para a evidência desta experiência. E os de terceira onda, não dão enfoque sobre a questão. Mas afinal, qual opinião está em consonância com a Palavra de Deus? Entendemos que a opinião defendida por Pentecostais clássicos (primeira onda) está em consonância com as evidências escriturísticas e vamos justificar esta opinião com base na Palavra de Deus. Assim acreditamos que o falar em línguas seja a evidência inicial do Batismo no Espírito pelos seguintes motivos:
1.             Em Jerusalém esta foi à marca distintiva no Pentecostes. Juntamente com o vento e fogo, as línguas foram os sinais exteriores que marcaram o Dia de Pentecoste descrito em Atos 2. É valido lembrar que a dimensão da experiência ocorrida no Pentecostes não se repete nos demais casos apresentados em Atos, com exceção das línguas. Desta forma, as línguas continuam sendo marca distintiva de que algo sobrenatural estava acontecendo. Parece-nos que era inquestionável a ligação entre falar em línguas e o batismo com o Espírito Santo na igreja primitiva, e para tanto, devemos considerar a isenta opinião de um ministro presbiteriano escocês, o doutor A. B. Macdonald que assim nos fala:
A crença da igreja acerca do Espírito surgiu dum fato que experimentou. Bem cedo em sua carreira os discípulos notaram um novo poder que operava dentro deles. No princípio, sua manifestação mais extraordinária foi "falar em línguas", o poder de expressão oral extática numa língua não inteligível. Tanto esses que eram tomados por esse poder, como também os que viam e ouviam suas manifestações foram convencidos de que um poder do mundo superior atingira suas vidas, dotando-os de capacidades de expressão e de outros dons, os quais pareciam ser algo diferente, e não apenas uma intensificação da capacidade que já possuíam [...][1]
Por este citação entendemos que as manifestações das línguas serviam para testemunhar do poder Divino entre os mais variados grupos de pessoas, parecendo ser este o padrão esperado pela Igreja apostólica.
2.             Em Atos todos os casos de batismo foram acompanhados pela evidencia das línguas. Todos os casos expostos em Atos dos Apóstolos onde cristãos foram Batizados com o Espirito Santo ocorre a evidência física das línguas, seja explicitamente falado no texto (At 2.4; 10.42-47; 19.1-7), ou ainda implicitamente (At 8.12ss). Em todos estes eventos o Espírito repetiu o sinal das línguas apresentadas no Pentecostes. Até mesmo entre os Apóstolos este sinal já era entendido como o recebimento do Batismo com o Espirito Santo, por isso Pedro declara ao ver Cornélio falar em línguas que este era o mesmo sinal que eles haviam recebido no dia de Pentecoste, assim nos diz a Palavra:E, quando comecei a falar, caiu sobre eles o Espírito Santo, como também sobre nós ao princípio (At 11.15). E como Pedro sabia que “caiu” o Espírito sobre Cornélio e sua casa? A resposta o próprio texto nos dá, através da evidencia física de falar em línguas, vejamos: “[...]maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios. Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus”. (At 10.45b,46). O falar em línguas para Pedro definia que eles haviam recebido o Espírito Santo!
Poderíamos sem dúvidas citar ainda o ocorrido em Éfeso (At 19.1-7), onde discípulos foram interpelados por Paulo se já haviam recebido o Espirito Santo (At 19.2) e responderam negativamente. Na oportunidade Paulo impôs as mãos sobre eles e “[...] veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam”(At 19.6 b.). Mais uma vez o fator distintivo do recebimento do Espírito consiste no falar em línguas. Neste caso ainda houve o profetizar deixando ainda mais nítido o propósito deste dom em capacitar homens para o trabalho cristão. Finalizamos este ponto com a opinião sensata dos teólogos Pentecostais Menzies e Horton:
Se todas as referências à concessão pentecostal, no livro de Atos, forem reunidas em um único bloco, não haverá mais dúvidas de que as línguas são a evidência inicial e física do batismo no Espírito Santo. Visto que reconhecemos nas descrições históricas do livro de Atos um propósito teológico e a intenção de ser exemplo para a Igreja hoje, temos nele um forte fundamento para acreditar que os crentes que eram cheios do Espirito Santo esperavam a evidência do falar em línguas[2].
Esclarecido este ponto, passemos ao próximo. Aprestaremos a diferença existente entre língua como dom do Espírito e como sinal do batismo com o Espirito Santo.
Diferença entre sinal e dom na manifestação das línguas. Para finalizarmos as questões concernentes a evidencia física do batismo com o Espírito Santo vamos apresentar a diferença existente entre línguas como dom e como sinal visível desta experiência. Em primeiro lugar é importante salientar que toda a manifestação do Espírito é uma dadiva do Céu, e, portanto, trata-se de um dom da parte de Deus. Sendo assim, independente da forma como se apresente as línguas sempre serão um dom do Espírito para a Igreja. Contudo, precisamos deixar claro que nem todo cristão tem o dom de línguas (1 Co 12.10), pois a própria Escritura nos faz crer na impossibilidade de todos falarem em línguas (1 Co 12.30). E como compreender a aparente contradição de que a Bíblia mostra que o Batismo é para todos, porém, nem todos possuem o dom de língua? Defendemos a proposição de que há uma mudança na função das línguas. No ato do batismo com o Espírito Santo cremos que elas servem para exaltar e glorificar a Deus. Todavia, como dom, a sua função primária é a edificação da Igreja (podendo também glorificar a Deus). A seguir explicaremos esta ideia de forma mais ampla.
É importante observar que ao falarmos de línguas como sinal há uma variação nítida da função que é posta quando esta manifestação aparece como dom no Novo Testamento. Com isso não queremos dizer que a fonte dessas línguas (Espírito Santo) seja diferente, ou a tipologia (sobrenatural ou humanas) ceda lugar a outra forma. Não obstante, acreditamos que a variação acontece no proposito, ou seja, elas tem como função primária magnificar a Deus (no Batismo com o Espírito Santo) e edificar a igreja (como dom). Quando o dom de línguas é apresentado nas Epístolas Paulina tem como propósito primário a edificação do Corpo de Cristo (1 Co 12-14), por esta razão é insistentemente recomendado que haja interprete quando a mensagem em línguas for dirigida à congregação (1 Co 14.5) e falada na congregação. Além desta função primaria, Paulo ainda acrescenta a utilidade das línguas para edificação espiritual do falante (1 Co 14.4), e ressalta que não se deve proibir o falar em línguas (1 Co 14.39), desde que seja tudo feito com “decência e ordem” (1 Co 14.40).
Contudo, os casos em que o falar em línguas é apresentado em conexão com a experiência do batismo com o Espírito Santo assume uma forma diversa daquela proposta por Paulo, ou seja, estas línguas são usadas prioritariamente para magnificar à Deus (podendo posteriormente vir uma mensagem de caráter profético à todos). Vemos estes exemplos tanto em Jerusalém no Pentecostes (At 2.11), como em Cesareia, na casa do centurião Cornélio. Quanto a manifestação ocorrida em Jerusalém, devemos observar que os discípulos "falavam das grandezas de Deus", ou seja, magnificavam a Deus, não sendo esta uma pregação (mesmo sendo línguas idiomáticas das nações), pois posteriormente Pedro se encarrega desta missão conforme defende o Dr Roger Stronstad (2011, p.69) em seu livro "Batismo no Espírito Santo e com fogo"(CPAD)
 Passemos a analisar este outro caso: na casa do centurião Cornélio (At 10.42-47). Em Cesareia, os discípulos, vindo de Jerusalém, perceberam que aqueles homens haviam recebido o batismo com Espírito Santo porque os viam falar em línguas (At 11.15). Contudo, é importante destacar que naquele lugar não houve necessidade de interprete para a língua falada, apesar de que nenhum dos presentes compreendia o que foi falado, conforme entendemos a partir da expressão Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus” (At 10.46).Também não houve uma mensagem especifica para aqueles irmãos, isto em razão de toda a mensagem ter sido apresentada anteriormente por Pedro aos presentes. Assim, as línguas (gr. lalounton glossais) faladas na Casa de Cornélio tiveram como finalidade primária glorificar a Deus. Neste ponto compreendemos que a língua como evidencia física do batismo com Espírito Santo não possui, necessariamente, a mesma função do dom de língua. Contudo, as experiências observadas nas Escrituras sobre batismo com Espírito Santo foram acompanhadas pelo falar em línguas como forma de glorificar a Deus (At 2.4; 10.46; Ef 19.1-7). Ressaltamos que é possível que o cristão receba tanto o sinal do batismo como o dom de línguas ao mesmo tempo.
Então, compreendemos que todo cristão ao ser batizado com o Espírito Santo fala em línguas com o objetivo de glorificar ao Pai Eterno, todavia, isto não implica dizer que ele possui o dom de língua, Menzies e Horton confirmam esta visão ao afirmar: “[...] é valido lembrar que uma pessoa pode receber as línguas como a evidencia do batismo no Espirito Santo e só mais tarde receber o dom das línguas, que pode manifestar-se nas devoções pessoais ou nos cultos públicos[3]”. Será preciso orar e pedir ao Senhor que seja dado o dom de línguas, assim como os demais dons(1 Co 12.30). Desta forma, concluímos reiterando que, segundo o relato Lucano em Atos dos Apóstolos a experiência do batismo com o Espírito Santo era acompanhada com o falar em línguas, dando testemunho visível e público do que Deus estava fazendo no meio do povo! 
Por fim, ressaltamos que mesmo defendendo as línguas como sinal primário do batismo com o Espírito Santo, outras manifestações podem acompanhar esta experiência sobrenatural, como por exemplo, o ato de profetizar (At 19.7). Não podemos esquecer que o revestimento de poder advindo do batismo com o Espírito Santo potencializa a manifestação dos dons, dessa forma o Espírito Santo opera livremente no cristão que cede lugar a presença do Eterno.
Em Cristo,
Jefferson Rodrigues




[1] MACDONALD citado por PERALMAN, 2014, pp.313, 314
[2] MENZIES; HORTON, 1999, p.144
[3]  MENZIES; HORTON, 1999, p.145

sábado, 24 de setembro de 2016

1 CO 12.13 AFIRMA QUE TODOS OS CRISTÃOS JÁ SÃO BATIZADOS PELO ESPIRITO SANTO?


Por Jefferson Rodrigues
Entre alguns grupos de teologia "reformada" há uma falsa acusação contra os pentecostais de que pregamos uma doutrina que promove um elitismo espiritual (Batismo com o Espírito Santo), e que por conseguinte, rejeitamos a ideia de que todos os cristãos possuem o Espírito Santo. Na verdade é oposto a isto, pois aceitamos e defendemos que todos os cristãos ao confessarem a Cristo como Senhor tornam-se habitação do Espírito Santo e, portanto, possuem o Espírito em sua vida. Não obstante, defendemos um revestimos de poder subsequente à salvação denominado de batismo com o Espírito Santo. É neste ponto que mais uma vez os opositores desta doutrina afirmam que erramos, pois eles citam o texto de 1 Coríntios 12.13 como prova de que todos os cristãos são batizados com o Espirito Santo. O texto diz: Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito”(1 Cor 12.13)
Sem dúvidas o texto nos apresenta uma forte indicação de que todos somos batizados com o Espírito Santo. Porém, precisamos perguntar: o texto está se referindo a uma experiência de revestimento de poder posterior a salvação? Ou o texto dentro do seu contexto refere-se à inclusão de um cristão no Corpo místico de Cristo, a igreja? Se sua reposta for sim para esta ultima questão e não para a primeira, então entendo que você compreendeu de fato o texto Paulino. Passemos analisar o capítulo completo.
O capítulo 12 inicia-se tratando sobre dons espirituais (v.1). Na verdade há uma possibilidade de que Paulo referia-se a um grupo de irmãos (os espirituais, gr. pneumatikon) que se consideravam superiores aos demais por desfrutarem de alguns dons espirituais e, portanto, entendiam que somente eles eram pertencentes à Igreja de Cristo. Por essa razão, Paulo começa a explicar que existe uma diversidade de dons (vv 4-10) e que estes são concedidos pelo Espírito a cada cristão como convém. A partir do versículo 11 o foco é mudado para a diversidade de dons que existe na Igreja e enfoca na diversidade de membros e dons que existe no Corpo, porém, ele destaca que nenhum membro deve sentir-se superior ao outro, “Pois todos nós fomos batizados em (gr. ‘en’) um Espírito, formando um corpo [...]” (1 Co 12.13). Ou seja, através do Espírito Santo, todos os crentes foram inseridos no Corpo místico de Cristo, independente da capacidade espiritual que possua. Aqui Paulo não estava se referindo a uma experiência de poder da qual João Batista havia profetizado (Mt 3.11), ou aquelas que foram descritas no livro de Atos (e.g. At 10.42-47). Este batismo ao qual Paulo se refere é a inclusão de todos os Cristãos no Corpo de Cristo através do Espírito Santo (Jo 16.8)
Esta diferença pode ser entendida pela forma do texto que pode ser traduzido como batizados “pelo” Espírito. Mais uma vez a preposição, no grego, escolhida por Paulo é “en” e sendo esta uma preposição versátil no grego, precisamos escolher a melhor tradução a partir do contexto. E observando o capítulo 12, vemos que Paulo utiliza-se desta preposição sempre com o intuito de dizer “pelo”. Prova disso são os versículos 3 e 9. No versículo 3 lemos o seguinte: “portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo (en) Espírito de Deus [...]E ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor senão pelo (en) Espírito Santo”. Ele continua neste mesmo entendimento no versículo 9 quando apresenta a lista de dons: “[...]e a outro, pelo (en) mesmo Espírito, a fé; e ao outro, pelo (en) mesmo Espírito, os dons de curar”. É razoável entender que no versículo 13 a preposição “en” também assuma a ideia de “pelo” ao invés de “com” ou “no” como quando se refere ao batismo com o Espírito Santo (Mt 3.11; At 1.5). Assim, a partir deste entendimento compreendemos que o termo “batizado ‘pelo’ Espírito Santo” “indica que o Espírito Santo é o meio ou o instrumento pelo qual este batismo acontece[1]”.
Após esta analise exegética do texto é possível compreender que a experiência a qual Paulo se refere neste texto é o fato do Cristão ser inserido no corpo de Cristo. Esta ideia é reafirmada até mesmo por teólogos que seguem uma linha diversa da pentecostal. Vemos por exemplo Champlin afirmar enfaticamente que este texto “não se trata do batismo que infunde poder, aludido em Atos 2.4[2]”, mas que ele ressalta a capacidade de tornar os cristãos unidos a partir da ação do Espirito. Segundo Champlin “a influencia do Espírito é que transforma e une, conferindo-lhes uma mentalidade espiritual e um só estado metafisico. Faz deles uma só entidade espiritual[3]”. E consolidando este pensamento temos a posição do comentarista bíblico Donald S. Metz que afirma: “Paulo procura eliminar as tensões e as rivalidades insistindo na unidade essencial dos crentes em Cristo [...] Dessa forma, judeu e gregos, servos (escravos) ou livres, todos participam da mesma experiência comum de pertencer a um único corpo a Igreja[4].
Todos estes autores fazem coro com nosso entendimento e reafirmam a posição que defendemos. Para finalizar este ponto, achamos pertinente apresentar a posição do renomado teólogo pentecostal Roger Stronstad que, de forma sintética, apresenta a diferença entre batismo com (no) o Espírito Santo e batismo pelo Espírito: “(I) batismo pelo Espirito, que incorpora a pessoa ao Corpo de Cristo (I Co 12.13) e (2) batismo no [com] Espirito, que primariamente da poder a pessoa (Mt 3.11: Mc 1.8; Lc 3.16; Jo 1.33; At 1.5; 11.16; veja também Lc 24.49; At 1.8)[5]”. Assim, compreendemos que a interpretação adequada para este versículo ficou clara, não sendo necessário nos alongar nesta discussão.
Que o Espírito continue nos guiando através de sua Palavra!
Em Cristo,
Jefferson Rodrigues




[1] ARRINGTON; STRONSTAD, 2009, pp. 238, 239
[2] CAHAMPLIN, 2014, 250, Vl 4 NT
[3] Idem, 2014, p. 251
[4] METZ, Doanld S. A primeira Epístola de Paulo aos Coríntios. In: Comentário Bíblico Becon, 2015, p.339
[5] STRONSTAD,2011, p.20