LIÇÃO BÍBLICA JOVENS: SEU REINO NÃO
TERÁ FIM
SUBSÍDIO LIÇÃO 2- JOVENS 1º TRIMESTRE 2018
Aula em: 14/01/2018
Autor da lição: PR NATALINO DAS NEVES
Por Jefferson Rodrigues
Olá
amigo professor! Espero que sua primeira aula tenha sido proveitosa e que o
material que produzimos o tenha ajudado no desempenho desta tão sublime tarefa
que é a ministração de aulas na Escola Bíblica.
Agora
partiremos para nosso segundo desafio de 2018, ou seja, a ministração da lição
de numero 2, com o tema “O nascimento de Jesus segundo o Evagelho de Mateus.
Nesta lição será abordado 3 temas centrais: 1. Maria como a escolhida para ser
mãe de Jesus; 2. O papel de José como esposo de Maria; e por fim 3. A concepção
virginal de Jesus Cristo. Percebam que são temas centrais da fé cristã, pois
deles dependem a teologia da encarnação de Cristo como a conhecemos. É preciso
que os professores abordem com maestria e segurança pois é certo que dúvidas
surgirão, especialmente em relação a ideia de “concepção virginal de Jesus”.
Com
o objetivo de auxiliar a você amigo professor, deixarei alguns pontos que
entendo ser de valor para o complemento da lição. Hoje nos concentraremos na explicação
do conceito de noivado na comunidade judaica nos dia de Maria e José e sobre a
relação entre a concepção virginal de Jesus e as mitologias pagãs.
JOSÉ ERA CASADO OU NOIVO DE MARIA?
Para
início de aula aconselho aos mestres a abrirem uma discussão e explicação sobre
o texto de Mateus 1.18 (exposto na revista) que nos diz: Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi
assim: “Que estando Maria, sua mãe, desposada
com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo” (Mateus 1:18). Percebam que o texto diz que Maria
estava desposada com José. Afinal, o
que este termo nos quer dizer[1]? E
se olharmos no versículo 19, veremos um problema ainda maior, pois ele nos diz: “Então José, seu marido [...]” (Mt 1:19
a). De acordo com estas palavras nos parece que José e Maria já eram casados e
não apenas noivos como costumamos entender. Em virtude desta aparente
contradição vale apena explicar este fato aos alunos. Vejamos:
Analisando o texto
grego
Em
uma analise na língua original veremos que o termo “desposada” em grego é
“mnesteuõ” (mnhsteuo) e
que este verbo quando apresentado na voz passiva terá o significado de “ser
prometido em casamento, ficar noivo[2]”,
tradução que é confirmada pelo conhecido Léxico Analítico do Dr William D. Mouce[3].
Outra questão que vale ressaltar é que este verbo só parece em sua forma passiva
no texto de Mateus 1.18 e Lucas 1.27; 2.5, todos fazendo referencia a Maria.
Assim, entendemos que a melhor tradução para este frase seria: “Maria sendo prometida em casamento a José”,
tradução que já é utilizada pela Nova Versão Internacional;
No
versículo 19 vemos um aparente problema do texto ao dizer que: José já era marido de Maria. Ora como é
possível? De fato no texto grego veremos a utilização do substantivo “aner” (anhr), que de modo geral significa “homem, macho adulto”, mas que conforme o
contexto poderá ser traduzido como marido, conforme o versículo em tela. Assim,
vemos que a opção da tradução por marido ou esposo é correta; porém, como
explicar o fato de José ser chamado marido de Maria, tendo em vista que no
versículo anterior o texto nos diz que Maria estava “apenas” prometida em
casamento? Seriam eles casados ou noivos? Para explicar este ponto é preciso
compreender o contexto cultural nos dias de José e Maria. Vejamos como
funcionava um noivado judaico.
O noivado nos dias de
Maria e José
Quando
falamos em noivado, nos dias atuais não nos parece ser um compromisso tão
sério. Na verdade nos arremete apenas para um “namoro mais próximo do casamento”.
Contudo, nos dias de José e Maria este compromisso era bem mais sólido e,
portanto deveria ser levado a sério. O noivado era assumido e chancelado
perante a família dos noivos e na presença da comunidade, tendo um peso social e
religioso altíssimo. Na verdade, os noivos já eram considerados para todos os
efeitos sociais como casados, sem contudo, morarem juntos ou manterem relações
sexuais.
O
mundialmente conhecido comentarista A.T. Robertson nos explica que: “estar
desposado (noivo) era questão séria entre os judeus, em cujo estado civil não
se entrava levianamente e nem se desfazia facilmente. O homem que desposa uma
moça era legalmente seu marido (Gn 29.31; Dt 22.23-28)[4]. E para anular este compromisso era preciso
uma gama burocrática que segundo Ralph
Earle “o homem devia dar a mulher um documento por escrito, e pagar uma multa[5]”.
Assim, por todas estas razões e levando em conta que o autor do texto bíblico
conhecia perfeitamente estes rituais, nada mais comum do que definir José como
marido de Maria, mesmo sabendo que este ainda não havia tomado ela como esposa
no sentido pleno da palavra.
Diante
de tão grande compromisso entendemos o motivo que fez José desejar deixar Maria
secretamente. Ora, a pena para o adultério era o apedrejamento. E de acordo com
fontes judaicas como o Mishna “o adultério durante o período de noivado é
pecado mais sério do que depois do casamento[6]”.
Ainda segundo o Comentário judaico do Novo Testamento, as penalidades previstas
pela Mishna para o tipo de acusação que Maria estaria passiva seria a morte por
apedrejamento[7].
Mas
louvado seja Deus pela vida de José que era um homem justo diante de Deus (Mt
1.19)! Se José expusesse Maria, com certeza era seria submetida a duras penas
sociais e penais, pois ninguém acreditaria que a jovem noiva havia ficado
gravida através de uma ação sobrenatural do Espírito Santo. Mas vemos que o
próprio Deus buscou confirmar com José que a jovem Maria trazia em seu ventre o
Salvador do mundo e que este não foi gerado pelo pecado, mas sim pelo Santo
Espirito (Mt 1.20,21), levando o Carpinteiro a desistir do plano de deixar
Maria e o conduzindo ao papel de protetor da família humana do Salvador Jesus.
Louvado seja Deus!
II. A CONCEPÇÃO
VIRGINAL DE JESUS E A MITOLOGIA PAGÃ
Para
iniciar este ponto é relevante destacar que há diferença entre os conceitos “nascimento
virginal” e “concepção virginal”. O primeiro conceito se refere de modo mais
estrito ao pensamento católico romano em que Maria não teria dado a luz a Jesus pelo modo natural, antes teria havido
uma espécie de cesariana espiritual permitindo que Maria continuasse virgem
(sem rompimento do hímen) perpetuamente.
Já
a segunda a afirmação se torna relevante por considerar que a concepção de
Jesus foi de maneira sobrenatural (com Maria sendo virgem), porém, posteriormente
o nascimento do Mestre Jesus seguiu o curso natural, não sendo necessária a
manutenção do dogma da “virgindade perpetua de Maria”. Este ponto está em maior
consonância com os relatos das Escrituras tanto em Mateus como em Lucas.
Por que devemos crer
nesta doutrina da concepção virginal?
Na
continuidade do estudo deste tema é válido que apresentemos uma justificativa plausível
para se crer nesta doutrina. A seguir apresentaremos 3 motivos para que a
Igreja continue crendo e defendendo esta doutrina, vejamos:
1.
A
Bíblia é suficiente para nós.
Para
todo cristão ortodoxo, que crer na infalibilidade das Escrituras e na sua
inspiração plenária pelo Espírito Santo nenhuma doutrina será inaceitável.
Assim, se a Bíblia afirma em dois textos específicos (Mateus 1.18-25 e Lucas
1.26-38) que Jesus foi concebido de forma sobrenatural e virginal, então não
nos restam dúvidas. A sociedade contemporânea é que precisa de provas
cientificas, porém, para os cristãos a Palavra de Deus é suficiente e por esta
razão podemos crer no que ela apresenta.
2.
A
história da Igreja confirma esta crença.
A
história da Igreja sempre deve ser consultada a fim de verificarmos se
determinado dogma e doutrina foi inventado ou não tinha credibilidade entre
cristãos primitivos. Em primeiro lugar esta doutrina é atestada em todas as
versões do Credo Apostólico (documento do século V, mas que tem suas raízes no
segundo século), subscrito e usado (em sua forma antiga) por grandes nomes do
cristianismo como Tertuliano e Irineu de Lion, mostrando que esta não é uma
doutrina nova no cristianismo.
Em
segundo lugar, é valido destacar o pensamento do Bispo Inácio de Antioquia, que
foi martirizado no ano de 117 D.C. Percebam que ele fazia parte das primeiras
gerações de cristãos e ocupava um cargo de liderança dentro da Igreja. Para
Inácio esta era uma doutrina cristalizada, ou seja, não restavam dúvidas que
Jesus tinha sido concebido de maneira sobrenatural e virginal. Neste ponto,
vemos a opinião do renomado teólogo Millard J. Erckson que nos diz: “quando
vemos Inácio Atestando o nascimento virginal não como uma novidade, mas como
uma questão absolutamente certa, como um dos fatos aceitos por Cristo, torna-se
evidente que a crença no nascimento virginal deve ter prevalecido muito antes
do final do primeiro século[8]” .
Assim, podemos ver que esta doutrina é antiga e os cristãos primitivos creram
nela e nos dão a orientação para crermos também.
3.
A
concepção virginal difere dos mitos pagãos
Não
é estranha aos estudantes dos Evangelhos a ideia de que o relato do nascimento
de Jesus pode ser comparado com alguns relatos mitológicos. Entre os acusadores
do Evangelho há um especial interesse sobre a mitologia egípcia. O relato que
mais chama atenção trata-se do deus Hórus. Segundo os céticos, o que a
cristandade fez foi apenas adaptar a mitologia do nascimento do deus egípcio
Hórus aos relatos do nascimento virginal de Jesus. Contudo, estas teorias não
passam pelo crivo da arqueologia egípcia. Para esclarecer esta diferença
reproduzirei parte de um artigo produzido pelo apologeta J. Warner Wallace e
publicado no site napec.org, vejamos o que ele nos diz:
“A Verdade Sobre Hórus
O Deus mítico egípcio, Hórus, foi adorado principalmente
em dois centros de cultos em Bekhdet no norte e Idfu no sul. Pouco sobrou no
norte, mas ainda há um templo Ptolomaico grande e bem preservado em Idfu.
Então, a maior parte da informação sobre Hórus vem deste templo do sul. Hórus
era geralmente representado como um falcão, ao passo que ele era um grande Deus
do céu e o Filho de Isis e Osíris. Vamos ver as afirmações que já descrevemos e
separar a verdade da ficção e, em seguida, tentar entender a esperança
principal do povo que inventou o deus chamado Hórus:
Afirmação: Hórus foi concebido por uma mãe virgem chamada
Meri, e teve um padrasto chamado Seb (José)
Verdade: Hórus NÃO foi concebido de uma virgem. Na verdade,
ambas evidências murais e textuais do Egito indica que Isis (não há evidência
de que “Meri” em algum momento fez parte de seu nome) pairava sobre o pênis
ereto (que ela criou) de Osíris e concebeu Hórus. Embora ela pudesse ter sido
uma virgem antes da concepção, ela utilizou o pênis de Osíris para conceber.
Depois ela teve outro filho com Osíris também. Não há nenhuma evidencia de três
homens sábios como parte da história (nem na história de nascimento de Jesus e
nem na de Hórus). Seb, na verdade, era o ‘deus da terra’, (a terra, assim como
Nut era o céu); Ele não era o pai terrestre de Hórus. Seb NÃO é o equivalente de
José e, na maioria dos casos, ele é descrito como o pai de Osíris!
O Raciocínio por de trás da Mitologia de
Hórus: Claramente os homens sonharam e
pensaram sobre Deus e, quando fazemos isto, é razoável para nós imaginarmos que
Deus seja de alguma forma diferente da ordem natural que Ele criou. É razoável
assumir, então, que Ele apareceria de uma forma sobrenatural, desafiando a
ordem natural das coisas[9]”
Percebam que a acusação de similaridade não passa de má
fé por parte daqueles que resolveram acusar o cristianismo de plágio destas
mitologias. Contudo, é natural que entre os povos primitivos houvesse uma ideia
geral de conceitos celestiais e isto a própria Escritura nos fala (Sl 19.1-4;
Rm 1.19-21). Segundo o Paulo, ao escrever aos romanos, Deus se fez conhecer aos
povos primitivos, porém, estes decidiram honrar
mais a criatura que o Criador, sendo, portanto, passiveis de juízo.
Assim nos diz as Escrituras: “19. Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus
lho manifestou. 20. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu
eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas
coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; 21. Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram
como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o
seu coração insensato se obscureceu (Romanos 1:19-21)
Contudo, o nascimento de Jesus é algo singular. Afirmamos
isto tanto pelo fato de já ter sido profetizado cerca de 700 anos antes pelo
profeta Isaias (Is 7.14), como pelo caráter único em relatos onde não há
participação de uma parte masculina através do envolvimento sexual, como era
comum nas mitologias primitivas. Antes vemos que Jesus foi gerado de modo
sobrenatural pelo poder do Espírito Santo, sem qualquer inferência sexual. Neste
ponto aceitamos o que nada ortodoxo comentarista Dr. R. N. Champlin nos diz
sobre este fato: “A história de Jesus não se originou no paganismo bou nas
especulações pias, mas na fé firmada no poder ilimitado de Deus, nas primeiras
histórias que circularam em torno do nascimento de Jesus e no senso de
admiração ante a grandeza da vida e da obra de Jesus Cristo[10]”. Assim, Jesus é
verdadeiramente Deus, gerado pelo Espírito Santo! Creiamos nas Escrituras e não
deixemos que as teorias liberais venham nos afastar das verdades bíblicas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Hoje
buscamos trazer aos nobres mestres um aprofundamento linguístico no texto de
Mateus 1.18-21, bem como trazer um esclarecimento sobre a diferença entre o
relato do nascimento de Jesus e a mitologia egípcia. Acreditamos que é
importante esclarecer estes pontos a fim de que não haja dúvidas quanto a
concepção sobrenatural de Jesus. Neste ponto também é valido ressaltar que não
há contradição no texto bíblico, antes vemos um complemento de informações
utilizadas pelo Evangelista Mateus, que tão de perto conhecia a cultura judaica
de seus dias.
Esperamos
que com este pequeno comentário tenhamos contribuído para que nossos amigos e
amigas que lidam na EBD tenham mais um subsídio para ampliar a discussão em
torno da lição de número 2 da classe de Jovens.
Em
Cristo,
Jefferson
Rodrigues- Teólogo, escritor e professor de grego bíblico.
REFERENCIAIS
BIBLIOGRAFICO
CHAMPLIN, Russel
Norman. O Novo testamento interpretado
versículo por versículo. São Paulo: Hagnos, 2015. Vol. 1.
DAS
NEVES, Natalino. Lições Bíblicas Jovens:
Seu Reino não terá fim. Rio de Janeiro, CPAD, 2018.
EARLE, Ralph. Evangelho segundo Mateus. In: EARLE, Ralph;
SANNER, A. Elwood; et ali. Comentário
Bíblico Beacon: João a Atos. 2ª impressão. Rio de Janeiro: Casa
Publicadora das Assembleias de Deus- CPAD, 2015, Vol. 6.
ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015.
HENDRIKSEN, William. Comentário do NT-Mateus Vol 1. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010.
MOUNCE, William D. Léxico Analítico do Novo Testamento grego.
São Paulo: Vida Nova, 2012.
ROBERTSON,
A.T. Comentário de Mateus e Marcos. Rio
de Janeiro: CPAD, 2011.
STERN,
David H. Comentário judaico do Novo
Testamento. São Paulo: Editora Atos, 2008.
VINE, W.E., UNGER,
Merril F. Et ali. Dicionário Vinner:
O significado exegético e expositivo das palavras do Antigo e Novo Testamento.
1º edição, Ed. Casa Publicadora das Assembleias de Deus- CPAD, Rio de Janeiro,
2002.
[1]
Perbebam que utilizamos a mesma versão utilizada pelo autor da revista, pois a
discussão deve ser travada em cima da aula e do tema apresentado pela revista
de EBD.
[2] VINE, 2012, p.555
[3] MOUCE, 2012, p.419
[4] ROBERTSON, 2011, p. 25
[5] EARLE, 2015, p.30
[6] STERN, 2008, p.27
[7] Idem, idem
[8]
ERICKSON, 2015, p.718
[9] WALLACE,
J. Warner. É Jesus simplesmente um
reconto da mitologia de Hórus? Disponível em:
<http://www.napec.org/apologetica/e-jesus-simplesmente-um-reconto-da-mitologia-de-horus/> acesso em 05 de janeiro de 2018
[10]
CHAMPLIN, 2014, p.268
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