terça-feira, 9 de janeiro de 2018

SUBSÍDIO LIÇÃO 2 - JOVENS (CPAD) 1º TRIMESTRE 2018

LIÇÃO BÍBLICA JOVENS: SEU REINO NÃO TERÁ FIM

SUBSÍDIO LIÇÃO 2- JOVENS 1º TRIMESTRE 2018
Aula em: 14/01/2018
Autor da lição: PR NATALINO DAS NEVES

Por Jefferson Rodrigues

Olá amigo professor! Espero que sua primeira aula tenha sido proveitosa e que o material que produzimos o tenha ajudado no desempenho desta tão sublime tarefa que é a ministração de aulas na Escola Bíblica.
Agora partiremos para nosso segundo desafio de 2018, ou seja, a ministração da lição de numero 2, com o tema “O nascimento de Jesus segundo o Evagelho de Mateus. Nesta lição será abordado 3 temas centrais: 1. Maria como a escolhida para ser mãe de Jesus; 2. O papel de José como esposo de Maria; e por fim 3. A concepção virginal de Jesus Cristo. Percebam que são temas centrais da fé cristã, pois deles dependem a teologia da encarnação de Cristo como a conhecemos. É preciso que os professores abordem com maestria e segurança pois é certo que dúvidas surgirão, especialmente em relação a ideia de “concepção virginal de Jesus”.
Com o objetivo de auxiliar a você amigo professor, deixarei alguns pontos que entendo ser de valor para o complemento da lição. Hoje nos concentraremos na explicação do conceito de noivado na comunidade judaica nos dia de Maria e José e sobre a relação entre a concepção virginal de Jesus e as mitologias pagãs.

JOSÉ ERA CASADO OU NOIVO DE MARIA?

Para início de aula aconselho aos mestres a abrirem uma discussão e explicação sobre o texto de Mateus 1.18 (exposto na revista) que nos diz: Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: “Que estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo” (Mateus 1:18). Percebam que o texto diz que Maria estava desposada com José. Afinal, o que este termo nos quer dizer[1]? E se olharmos no versículo 19, veremos um problema ainda maior, pois ele nos diz: “Então José, seu marido [...]” (Mt 1:19 a). De acordo com estas palavras nos parece que José e Maria já eram casados e não apenas noivos como costumamos entender. Em virtude desta aparente contradição vale apena explicar este fato aos alunos. Vejamos:
Analisando o texto grego
Em uma analise na língua original veremos que o termo “desposada” em grego é “mnesteuõ” (mnhsteuo) e que este verbo quando apresentado na voz passiva terá o significado de “ser prometido em casamento, ficar noivo[2]”, tradução que é confirmada pelo conhecido Léxico Analítico do Dr William D. Mouce[3]. Outra questão que vale ressaltar é que este verbo só parece em sua forma passiva no texto de Mateus 1.18 e Lucas 1.27; 2.5, todos fazendo referencia a Maria. Assim, entendemos que a melhor tradução para este frase seria:  “Maria sendo prometida em casamento a José”, tradução que já é utilizada pela Nova Versão Internacional;
No versículo 19 vemos um aparente problema do texto ao dizer que: José já era marido de Maria. Ora como é possível? De fato no texto grego veremos a utilização do substantivo “aner” (anhr), que de modo geral significa  “homem, macho adulto”, mas que conforme o contexto poderá ser traduzido como marido, conforme o versículo em tela. Assim, vemos que a opção da tradução por marido ou esposo é correta; porém, como explicar o fato de José ser chamado marido de Maria, tendo em vista que no versículo anterior o texto nos diz que Maria estava “apenas” prometida em casamento? Seriam eles casados ou noivos? Para explicar este ponto é preciso compreender o contexto cultural nos dias de José e Maria. Vejamos como funcionava um noivado judaico.

O noivado nos dias de Maria e José

Quando falamos em noivado, nos dias atuais não nos parece ser um compromisso tão sério. Na verdade nos arremete apenas para um “namoro mais próximo do casamento”. Contudo, nos dias de José e Maria este compromisso era bem mais sólido e, portanto deveria ser levado a sério. O noivado era assumido e chancelado perante a família dos noivos e na presença da comunidade, tendo um peso social e religioso altíssimo. Na verdade, os noivos já eram considerados para todos os efeitos sociais como casados, sem contudo, morarem juntos ou manterem relações sexuais.
O mundialmente conhecido comentarista A.T. Robertson nos explica que: “estar desposado (noivo) era questão séria entre os judeus, em cujo estado civil não se entrava levianamente e nem se desfazia facilmente. O homem que desposa uma moça era legalmente seu marido (Gn 29.31; Dt 22.23-28)[4].  E para anular este compromisso era preciso uma gama burocrática  que segundo Ralph Earle “o homem devia dar a mulher um documento por escrito, e pagar uma multa[5]”. Assim, por todas estas razões e levando em conta que o autor do texto bíblico conhecia perfeitamente estes rituais, nada mais comum do que definir José como marido de Maria, mesmo sabendo que este ainda não havia tomado ela como esposa no sentido pleno da palavra.
Diante de tão grande compromisso entendemos o motivo que fez José desejar deixar Maria secretamente. Ora, a pena para o adultério era o apedrejamento. E de acordo com fontes judaicas como o Mishna “o adultério durante o período de noivado é pecado mais sério do que depois do casamento[6]”. Ainda segundo o Comentário judaico do Novo Testamento, as penalidades previstas pela Mishna para o tipo de acusação que Maria estaria passiva seria a morte por apedrejamento[7].
Mas louvado seja Deus pela vida de José que era um homem justo diante de Deus (Mt 1.19)! Se José expusesse Maria, com certeza era seria submetida a duras penas sociais e penais, pois ninguém acreditaria que a jovem noiva havia ficado gravida através de uma ação sobrenatural do Espírito Santo. Mas vemos que o próprio Deus buscou confirmar com José que a jovem Maria trazia em seu ventre o Salvador do mundo e que este não foi gerado pelo pecado, mas sim pelo Santo Espirito (Mt 1.20,21), levando o Carpinteiro a desistir do plano de deixar Maria e o conduzindo ao papel de protetor da família humana do Salvador Jesus. Louvado seja Deus!

II. A CONCEPÇÃO VIRGINAL DE JESUS E A MITOLOGIA PAGÃ

Para iniciar este ponto é relevante destacar que há diferença entre os conceitos “nascimento virginal” e “concepção virginal”. O primeiro conceito se refere de modo mais estrito ao pensamento católico romano em que Maria não teria dado a luz  a Jesus pelo modo natural, antes teria havido uma espécie de cesariana espiritual permitindo que Maria continuasse virgem (sem rompimento do hímen) perpetuamente.
Já a segunda a afirmação se torna relevante por considerar que a concepção de Jesus foi de maneira sobrenatural (com Maria sendo virgem), porém, posteriormente o nascimento do Mestre Jesus seguiu o curso natural, não sendo necessária a manutenção do dogma da “virgindade perpetua de Maria”. Este ponto está em maior consonância com os relatos das Escrituras tanto em Mateus como em Lucas.

Por que devemos crer nesta doutrina da concepção virginal?

Na continuidade do estudo deste tema é válido que apresentemos uma justificativa plausível para se crer nesta doutrina. A seguir apresentaremos 3 motivos para que a Igreja continue crendo e defendendo esta doutrina, vejamos:
1.      A Bíblia é suficiente para nós.

Para todo cristão ortodoxo, que crer na infalibilidade das Escrituras e na sua inspiração plenária pelo Espírito Santo nenhuma doutrina será inaceitável. Assim, se a Bíblia afirma em dois textos específicos (Mateus 1.18-25 e Lucas 1.26-38) que Jesus foi concebido de forma sobrenatural e virginal, então não nos restam dúvidas. A sociedade contemporânea é que precisa de provas cientificas, porém, para os cristãos a Palavra de Deus é suficiente e por esta razão podemos crer no que ela apresenta.
2.      A história da Igreja confirma esta crença.

A história da Igreja sempre deve ser consultada a fim de verificarmos se determinado dogma e doutrina foi inventado ou não tinha credibilidade entre cristãos primitivos. Em primeiro lugar esta doutrina é atestada em todas as versões do Credo Apostólico (documento do século V, mas que tem suas raízes no segundo século), subscrito e usado (em sua forma antiga) por grandes nomes do cristianismo como Tertuliano e Irineu de Lion, mostrando que esta não é uma doutrina nova no cristianismo.
Em segundo lugar, é valido destacar o pensamento do Bispo Inácio de Antioquia, que foi martirizado no ano de 117 D.C. Percebam que ele fazia parte das primeiras gerações de cristãos e ocupava um cargo de liderança dentro da Igreja. Para Inácio esta era uma doutrina cristalizada, ou seja, não restavam dúvidas que Jesus tinha sido concebido de maneira sobrenatural e virginal. Neste ponto, vemos a opinião do renomado teólogo Millard J. Erckson que nos diz: “quando vemos Inácio Atestando o nascimento virginal não como uma novidade, mas como uma questão absolutamente certa, como um dos fatos aceitos por Cristo, torna-se evidente que a crença no nascimento virginal deve ter prevalecido muito antes do final do primeiro século[8]” . Assim, podemos ver que esta doutrina é antiga e os cristãos primitivos creram nela e nos dão a orientação para crermos também.
3.      A concepção virginal difere dos mitos pagãos
Não é estranha aos estudantes dos Evangelhos a ideia de que o relato do nascimento de Jesus pode ser comparado com alguns relatos mitológicos. Entre os acusadores do Evangelho há um especial interesse sobre a mitologia egípcia. O relato que mais chama atenção trata-se do deus Hórus. Segundo os céticos, o que a cristandade fez foi apenas adaptar a mitologia do nascimento do deus egípcio Hórus aos relatos do nascimento virginal de Jesus. Contudo, estas teorias não passam pelo crivo da arqueologia egípcia. Para esclarecer esta diferença reproduzirei parte de um artigo produzido pelo apologeta J. Warner Wallace e publicado no site napec.org, vejamos o que ele nos diz:
“A Verdade Sobre Hórus
O Deus mítico egípcio, Hórus, foi adorado principalmente em dois centros de cultos em Bekhdet no norte e Idfu no sul. Pouco sobrou no norte, mas ainda há um templo Ptolomaico grande e bem preservado em Idfu. Então, a maior parte da informação sobre Hórus vem deste templo do sul. Hórus era geralmente representado como um falcão, ao passo que ele era um grande Deus do céu e o Filho de Isis e Osíris. Vamos ver as afirmações que já descrevemos e separar a verdade da ficção e, em seguida, tentar entender a esperança principal do povo que inventou o deus chamado Hórus:
Afirmação: Hórus foi concebido por uma mãe virgem chamada Meri, e teve um padrasto chamado Seb (José)
Verdade: Hórus NÃO foi concebido de uma virgem. Na verdade, ambas evidências murais e textuais do Egito indica que Isis (não há evidência de que “Meri” em algum momento fez parte de seu nome) pairava sobre o pênis ereto (que ela criou) de Osíris e concebeu Hórus. Embora ela pudesse ter sido uma virgem antes da concepção, ela utilizou o pênis de Osíris para conceber. Depois ela teve outro filho com Osíris também. Não há nenhuma evidencia de três homens sábios como parte da história (nem na história de nascimento de Jesus e nem na de Hórus). Seb, na verdade, era o ‘deus da terra’, (a terra, assim como Nut era o céu); Ele não era o pai terrestre de Hórus. Seb NÃO é o equivalente de José e, na maioria dos casos, ele é descrito como o pai de Osíris!
O Raciocínio por de trás da Mitologia de Hórus: Claramente os homens sonharam e pensaram sobre Deus e, quando fazemos isto, é razoável para nós imaginarmos que Deus seja de alguma forma diferente da ordem natural que Ele criou. É razoável assumir, então, que Ele apareceria de uma forma sobrenatural, desafiando a ordem natural das coisas[9]
Percebam que a acusação de similaridade não passa de má fé por parte daqueles que resolveram acusar o cristianismo de plágio destas mitologias. Contudo, é natural que entre os povos primitivos houvesse uma ideia geral de conceitos celestiais e isto a própria Escritura nos fala (Sl 19.1-4; Rm 1.19-21). Segundo o Paulo, ao escrever aos romanos, Deus se fez conhecer aos povos primitivos, porém, estes decidiram honrar  mais a criatura que o Criador, sendo, portanto, passiveis de juízo. Assim nos diz as Escrituras: “19. Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. 20. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; 21. Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu (Romanos 1:19-21)
Contudo, o nascimento de Jesus é algo singular. Afirmamos isto tanto pelo fato de já ter sido profetizado cerca de 700 anos antes pelo profeta Isaias (Is 7.14), como pelo caráter único em relatos onde não há participação de uma parte masculina através do envolvimento sexual, como era comum nas mitologias primitivas. Antes vemos que Jesus foi gerado de modo sobrenatural pelo poder do Espírito Santo, sem qualquer inferência sexual. Neste ponto aceitamos o que nada ortodoxo comentarista Dr. R. N. Champlin nos diz sobre este fato: “A história de Jesus não se originou no paganismo bou nas especulações pias, mas na fé firmada no poder ilimitado de Deus, nas primeiras histórias que circularam em torno do nascimento de Jesus e no senso de admiração ante a grandeza da vida e da obra de Jesus Cristo[10]”. Assim, Jesus é verdadeiramente Deus, gerado pelo Espírito Santo! Creiamos nas Escrituras e não deixemos que as teorias liberais venham nos afastar das verdades bíblicas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Hoje buscamos trazer aos nobres mestres um aprofundamento linguístico no texto de Mateus 1.18-21, bem como trazer um esclarecimento sobre a diferença entre o relato do nascimento de Jesus e a mitologia egípcia. Acreditamos que é importante esclarecer estes pontos a fim de que não haja dúvidas quanto a concepção sobrenatural de Jesus. Neste ponto também é valido ressaltar que não há contradição no texto bíblico, antes vemos um complemento de informações utilizadas pelo Evangelista Mateus, que tão de perto conhecia a cultura judaica de seus dias.
Esperamos que com este pequeno comentário tenhamos contribuído para que nossos amigos e amigas que lidam na EBD tenham mais um subsídio para ampliar a discussão em torno da lição de número 2 da classe de Jovens.

Em Cristo,

Jefferson Rodrigues- Teólogo, escritor e professor de grego bíblico.




REFERENCIAIS BIBLIOGRAFICO
CHAMPLIN, Russel Norman. O Novo testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Hagnos, 2015. Vol. 1.
DAS NEVES, Natalino. Lições Bíblicas Jovens: Seu Reino não terá fim. Rio de Janeiro, CPAD, 2018.
EARLE, Ralph. Evangelho segundo Mateus. In: EARLE, Ralph; SANNER, A. Elwood; et ali. Comentário Bíblico Beacon: João a Atos. 2ª impressão. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus- CPAD, 2015, Vol. 6.
ERICKSON, Millard J. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015.
HENDRIKSEN, William. Comentário do NT-Mateus Vol 1. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010.
MOUNCE, William D. Léxico Analítico do Novo Testamento grego. São Paulo: Vida Nova, 2012.
ROBERTSON, A.T. Comentário de Mateus e Marcos. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
STERN, David H. Comentário judaico do Novo Testamento. São Paulo: Editora Atos, 2008.
VINE, W.E., UNGER, Merril F. Et ali. Dicionário Vinner: O significado exegético e expositivo das palavras do Antigo e Novo Testamento. 1º edição, Ed. Casa Publicadora das Assembleias de Deus- CPAD, Rio de Janeiro, 2002.








[1] Perbebam que utilizamos a mesma versão utilizada pelo autor da revista, pois a discussão deve ser travada em cima da aula e do tema apresentado pela revista de EBD.
[2] VINE, 2012, p.555
[3] MOUCE, 2012, p.419
[4] ROBERTSON, 2011, p. 25
[5] EARLE, 2015, p.30
[6] STERN, 2008, p.27
[7] Idem, idem
[8] ERICKSON, 2015, p.718
[9] WALLACE, J. Warner. É Jesus simplesmente um reconto da mitologia de Hórus? Disponível em: <http://www.napec.org/apologetica/e-jesus-simplesmente-um-reconto-da-mitologia-de-horus/>  acesso em 05 de janeiro de 2018
[10] CHAMPLIN, 2014, p.268

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