Por Jefferson Rodrigues
Texto base:
“Quando Jesus viu isso, ficou indignado e lhes disse: "Deixem vir a mim
as crianças, não as impeçam; pois o Reino de Deus pertence aos que são
semelhantes a elas.” (Mc 10.14) [versão NVI].
Antes
de iniciar a discussão sobre o texto bíblico em destaque quero me
reportar a um livro infantil que li recentemente – afinal, nunca é tarde
para ler um livro infantil. Este livro é um clássico da literatura
mundial, chama-se: “O pequeno príncipe”.
Nesta obra encontramos a
estória de um aviador Frances que durante sua infância teve seu desejo
de torna-se um desenhista impedido pela “gente grande” que o cercava.
Tais pessoas não compreendiam sua imaginação e ceifaram seus sonhos
direcionando a criança para as coisas de gente grande.
Quando este jovem
cresceu tornou-se rico, inteligente e importante, porém nunca abandonou
seus pensamentos infantis. Durante uma viagem, nosso aviador, sofre uma
pane em seu avião e cai no meio do deserto do Saara. É no deserto que
ele encontra o Pequeno Príncipe, uma criança que viajava através da
galáxia conhecendo novos planetas.
Com
o aparecimento do Pequeno Príncipe desenvolve-se a estória que em meio a
tantas fábulas para crianças, encontramos mensagens fortes a respeito
de como as crianças percebem o mundo ao seu redor e o que é importante
para eles, diferentemente do que é prioridade para os adultos. O
principezinho não compreende como as pessoas possuem jardins com
milhares de rosas, mais não amam nenhuma delas. Ele acha inconcebível
como gente grande vive constantemente preocupada, não aproveitando o
mundo e todas as suas maravilhas que o Senhor nos concedeu. Por fim, nos
mostra como o mundo é muito mais bonito do que nossas preocupações nos
permitem enxergar e como as pessoas são únicas, desde que saibamos
amá-las.
Toda
esta narração serve para ilustrar a importância do olhar de uma criança
sobre o mundo. Fica a indagação: por que Jesus ficou indignado com os
seus discípulos? Por que Jesus afirmou que o Reino de Deus pertence aos
que são semelhantes a elas? Sem dúvidas Jesus nos deixou uma forte
mensagem neste texto e se analisado com detalhe veremos como é
importante ser uma criança para compreender o Reino de Deus e suas
manifestações em nossa vida.
Muita “gente grande” ao ler
as Sagradas Escrituras não compreende ou preferem não perceber que em
Isaias 9.6 o Senhor nos concede a promessa do Salvador e que este
Salvador viria ao mundo não como um homem feito, ou como um ser
celestial repleto de encantos e sobrenaturalidade, mas viria como uma
criança. Assim diz o texto: “Porque um menino nos nasceu,
um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se
chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da
Eternidade, Príncipe da Paz” (Isaias 9.6). Um menino nos nasceu,
Jesus viria como uma criança! Uma criança, mas ao mesmo tempo um Deus,
pois Ele chega a nós como Deus forte, Pai da Eternidade, mostrando que
mesmo em sua meninice já era Deus, não era necessário Ele crescer
primeiro para ser Deus, ser membro e Senhor do Reino de Deus. Isto nos
aponta para um problema comum no meio cristão: eximir as crianças dos
trabalhos na casa do Senhor, ou acreditar que elas não são um alvo
importante para evangelizar, deixemos este tema para outra oportunidade.
Mas
o que aprendemos com a vinda de Jesus, nosso Rei e Salvador, como uma
criança a este mundo? Podemos tirar varias lições, e varias já foram
expostas por muitos autores, mas as mais importantes, a meu ver,
encontram-se expostas no evangelho de Lucas 2.8-20, onde é narrado o
nascimento de nosso Messias:
1- Jesus nasce em um estábulo:
Mesmo
sendo Deus, o menino Senhor, tendo todo o poder como já exposto, nasce
em um local impróprio até mesmo para o mais simples camponês: um
estábulo, local onde animais são criados. Ele poderia ter nascido nos
mais belos palácios da época, em “berço de ouro”, sendo de uma família
importante de Jerusalém, porém ocorre o oposto deste quadro, nascendo
num lugar sujo, sem nenhuma pompa, tem como berço, não ouro, mas uma
manjedoura. Ao invés de perfumes da melhor qualidade, era o cheiro nada
agradável dos animais que enchia o local. Seria um local pouco
convidativo para a maioria da cristandade atual. Contudo, foi neste
lugar improvável, desagradável, e nada convidativo que o Rei dos Reis, o
Senhor dos senhores escolheu para nascer e trazer salvação a
humanidade, dando uma prova incontestável de sua humildade e de sua
soberania, pois ele contrariou com este local o desejo de todos os
religiosos da época que esperavam um messias diferente daquele que veio
ao mundo.
2 – Manifestação do Reino.
Em um local tão simples poderia Deus habitar? Poderia haver manifestação do Reino de Deus? Como diz o apóstolo Paulo: “Mas Deus escolheu as coisas loucas
deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas
deste mundo para confundir as fortes;”( I Coríntios 1.27), assim
o Senhor sempre trabalhou mostrando que a sua glória ele não divide com
ninguém. Mais uma vez o Senhor mostrou que a religião e os dogmas
religiosos não são nada diante de Sua suprema e soberana vontade, pois
contrariando o pensamento religioso vigente da época, onde o messias
seria um libertador imponente, de origem principesca, rico e poderoso.
Jesus escolhe um lugar simples para nascer e vem como uma frágil
criança. Não obstante a toda esta situação, a Gloria de Deus
manifestou-se naquele lugar! Anjos apareceram, louvavam ao Senhor, era
um exercito celestial que bem diziam o nascimento do Salvador! Em meio a
tanta simplicidade daquela criança o Reino de Deus pode ser visto
naquele lugar.
Assim,
quando o mestre indigna-se com os seus discípulos por impedirem a vinda
das crianças ao seu encontro (Mc 10.13,14), Ele estava querendo dizer o
seguinte: “Olha Eu vim como uma criança, nasci em um local simples e
mesmo assim a Glória de Deus esteve presente, o Reino de Deus
manifestou-se! Agora, meus discípulos, vocês se acham cheio de estatus
por estarem comigo? Saibam que nada disso adianta, nem estatus,
religião, soberba, riqueza, tudo isso de nada vale para ver a
manifestação do Reino de Deus em vossas vidas! Sejam simples como
crianças, vejam o mundo sem malícia, amem sem perguntar o porque, não
vejam maldade em tudo que lhe dizem, em fim sejam como estas crianças,
pois só desta forma poderão ver o Reino de Deus ”
Aprendemos
uma valiosa lição com tudo isso: Precisamos nascer de novo (João 3.3).
Esperamos sempre ver o Reino de Deus para um futuro distante, mas Jesus
nos deixa claro: “o Reino de Deus está entre vocês”(Lucas 17.21b), ou seja o Senhor Jesus já inaugurou o Reino desde o seu nascimento, pois ele ensinou aos seus discípulos que “já era chegado o Reino de Deus”(Lucas 10.9-11),
porém nossas vaidades, preocupações com os problemas de “gente grande”,
não nos deixam ver este Reino que esta entre nós. Precisamos nascer de
novo, precisamos ser como as crianças, precisamos compreender que Jesus
nos apresenta suas maravilhosas virtudes independente de qual lugar
estejamos, contudo, Ele nos afirma que se quisermos ver o Reino de Deus
que está entre nós devemos ser como crianças!
O
reino foi inaugurado, gozamos de suas bênçãos, porém sua plenitude se
dará na volta de Cristo. No entanto, O Senhor nos convida a refletir:
somos como aquelas crianças ou agimos como os discípulos? Sejamos
crianças e contemplemos as maravilhosas manifestações do reino de Deus
em nossas vidas!
Em Cristo,
Jefferson Rodrigues